Enraizada em mais de dois mil anos de rituais e costumes, a Páscoa cristã comemora o evento central da Igreja: a ressurreição de Jesus Cristo. Muitas famílias ainda mantêm os hábitos e celebram o verdadeiro significado da data, uma das mais importantes do calendário litúrgico

No Catolicismo, a Semana Santa é o período de dias entre o chamado Domingo de Ramos, quando são contemplados os últimos momentos da vida terrena de Jesus, e a Páscoa, data que marca a ressurreição de Cristo na religião, como explica o site Vatican News, o portal de informações da Santa Sé, nome dado à cúpula de bispos da Igreja Católica.

Esta semana possui diversos dias considerados simbolicamente relevantes para quem segue o cristianismo. Todas essas datas estão em torno da ascensão e morte de Jesus Cristo, o profeta judeu que viveu na Palestina no século 1 d.C., e de acordo com a crença cristã, teria vindo à Terra para salvar a humanidade de seus pecados.

A Semana Santa é a semana que antecede o Domingo de Páscoa, data muito celebrada em inúmeros países pelo mundo. Tem início no Domingo de Ramos, ou Domingo da Paixão do Senhor, no qual se introduz a celebração que lembra a última semana de vida de Jesus.

O Domingo de Ramos é o único domingo do ano em que é lido o trecho do Evangelho em que se narra a paixão de Cristo. É comum a distribuição de ramos de folhas pelas igrejas, que representam o batismo e a união do católico com Cristo, limpando os pecados e concebendo as bençãos e forças para enfrentar o caminho que leva à ressurreição.


Na Quinta-feira Santa é comemorada a instituição da Eucaristia, que representa o sacramento pelo qual o pão e o vinho são transformados no corpo e no sangue de Cristo na Igreja Católica. Segundo o Padre Volmir Comparin, pároco do Santuário de Santo Antônio, a data se destaca pela lavagem dos pés, em memória da preparação de Cristo para a Última Ceia, refeição que compartilhou com seus apóstolos na véspera de sua morte. “É um momento em que Jesus tem uma atitude de escravo e de acolhida. Quem se alimenta da Eucaristia está fortalecido para viver como cristão e deve estar sempre disposto à caridade e perseverança em comunidade”, expõe.

Já na Sexta-feira Santa, dia de paixão e morte, é celebrado o aniversário da morte de Jesus Cristo. Muitos cristãos têm mantido a data como um dia de jejum ou de abstinência de carne vermelha. E, comumente, optam por comer peixes. Evitar esse alimento seria uma forma de respeito ao sangue de Jesus que foi derramado em seu sacrifício. O penúltimo dia seria o Sábado Santo, ou Sábado de Aleluia, quando a Igreja relembra o luto pela morte de Jesus e dá lugar à celebração da Vigília Pascal. “Cantamos Aleluia para agradecer a salvação e a vitória de Jesus Cristo. É uma ocasião especial para a renovação da fé. O cristianismo é fé pascal, a energia vital da esperança”, ressalta o Padre.

O Domingo de Páscoa

O Domingo de Páscoa, que marca a ressurreição de Cristo, é visto como um dia de festa. De acordo com a religião católica, Jesus Cristo ressuscitou dos mortos três dias após sua crucificação ordenada por Pôncio Pilatos, um magistrado da Judeia no antigo Império Romano. O site do Vaticano explica que, após o sepultamento de Jesus, Maria Madalena e outros fiéis foram visitar seu túmulo e descobriram que o corpo de Cristo não estava mais no lugar onde havia sido colocado.

A data em que a Páscoa é comemorada muda de ano para ano. Conforme acordado no Concílio de Nicéia, primeira reunião promovida pela igreja para tratar da fé cristã em 325 d.C., a Páscoa deve ser celebrada sempre no primeiro domingo após a primeira Lua cheia depois do equinócio de outono no Hemisfério Sul, em 21 de março. Por esse motivo, a Páscoa pode ocorrer em qualquer domingo entre aproximadamente 22 de março e 25 de abril.

Dentro do cristianismo, os fiéis celebram a Páscoa de várias maneiras, incluindo os cultos ao nascer do sol, praticado pelos protestantes, e a Vigília Pascal, uma antiga liturgia e rito batismal celebrado pelos católicos na noite do Sábado Santo. Membros da Igreja Ortodoxa celebram a Páscoa, mas 13 dias mais tarde que outros cristãos, pois sua religião é baseada no calendário juliano, e não no calendário gregoriano usado internacionalmente. Também marca o fim da Quaresma, um período de 40 dias de penitência, jejum e reflexão que começa na Quarta-feira de Cinzas, que por sua vez marca o fim do carnaval.

A data que comemora a ressurreição de Jesus Cristo é o evento mais importante para os cristãos no que se refere à celebração da vida de Jesus. Mas, além dos ritos religiosos, há ainda algumas tradições do paganismo que marcam a Páscoa. Alguns têm pouco a ver com a celebração cristã, mas derivam de costumes populares, como por exemplo, os ovos de chocolate e a figura do coelhinho da Páscoa.
Conforme referências da Enciclopédia Britannica, há registros do século 13 que documentam o uso de ovos de Páscoa pintados e decorados. Embora a origem exata não seja conhecida, acredita-se que essa prática possa ter suas raízes no paganismo. O consumo de ovos de animais era proibido durante a Quaresma, de modo que o alimento voltava à mesa das pessoas somente no domingo de Páscoa. Como as galinhas continuavam a botar ovos durante esse período, eles eram especialmente identificados como “ovos de Páscoa”, o que levou à sua decoração. Na tradição ortodoxa, os ovos são frequentemente pintados de vermelho para simbolizar o sangue que Jesus derramou na cruz. O ovo se tornou, então, um símbolo de ressurreição e simboliza uma nova vida emergindo da casca.

No início do século 19 surgiram os primeiros ovos de chocolate com pequenos presentes em seu interior. O costume originou-se em países como Alemanha, Itália e França, de acordo com um artigo da National Geographic Espanha, e continua até hoje. A ideia da caça aos ovos foi especialmente planejada para incluir as crianças.

Assim como outras tradições, a origem do coelho de Páscoa não é clara. O coelho é um símbolo pagão, mas também um emblema de fertilidade, diz a plataforma britânica. Portanto, a figura do animal poderia ser associada à da Virgem Maria, personagem sagrada na religião cristã. De qualquer forma, coletar ovos de Páscoa, decorá-los e comer doces são uma parte importante do moderno feriado da Páscoa celebrado no mundo inteiro.

Tradição de família

Para Juliana Delgado, atriz e mãe de Dante, atualmente com nove anos, a Páscoa é um momento propício para reunir a família. “Gosto de fazer um grande almoço com bacalhau e outras comidas típicas desta época. Reunimos toda a família e fazemos uma oração, agradecendo pela comida em nossa mesa e por nossa saúde. E relembramos o real significado da Páscoa, os sacrifícios de Jesus e sua bondade”, comenta.

Apesar de não praticantes, Juliana e sua família se consideram católicos e acreditam que a Páscoa seja uma data de reflexão e gratidão. Além do costume de preparar receitas com peixe, existe a tradição da caça ao ninho de ovos. “Costumo preparar alguns ovos para presentear a família, pois fica mais barato do que comprar nos mercados, e ainda posso decorar como quero. Na manhã de domingo, escondo os ovos, faço pegadas no chão e deixo rastros de alface e cenoura, como se o coelhinho tivesse passado por aqui. Quando o Dante acorda e vê aquilo, fica muito animado. Ele segue as pegadas e encontra os ovos de chocolate, é muito divertido para ele e gratificante para os adultos”, revela.

Juliana propõe atividades em que seu filho possa participar e curtir a celebração. Ela faz um pequeno buraco na casca de ovos de galinha, para extrair o conteúdo e depois pinta as cascas conforme sua criatividade. “O Dante adora pintar as casquinhas dos ovos, faz várias decorações diferentes. Fica bem bonito para enfeitar a casa. Ele se sente importante, sabendo que fez parte disso tudo”, completa.

Já a dentista Ana Paula Grangeiro, tem duas filhas, de 12 e 18 anos. Quando eram menores, costumava decorar a casa e esconder os ovos de chocolate para as filhas acharem. “Meu marido tinha uma fantasia de coelho. Quando elas eram pequenas, acreditavam que era o coelhinho da Páscoa, que tinha vindo trazer os ovos, era uma graça vê-las tão animadas. Agora que já são maiores, não faz mais tanto sentido. Mesmo assim, nos reunimos e comemos algum prato feito com peixe, como manda a tradição, e damos chocolates de presente”, conta.

Para ela, muitas pessoas encaram a Páscoa apenas como um feriado, uma data em que não se pode consumir carne vermelha e que se come ovos de chocolate, sem saber o verdadeiro significado da celebração. Ela acredita que as pessoas foram se distanciando da religião. “As gerações mais antigas eram mais assíduas com a religião, seguiam as tradições e sabiam os motivos. Agora, penso que se tornou mais uma data comercial. Acho importante relembrarmos a essência da Páscoa, relacionada à história de Jesus Cristo”, confessa.

Juliana ainda completa, trazendo que, independente de religião, também é uma época de se praticar a caridade. “Gosto de montar cestinhas com chocolates e distribuir para crianças carentes ou em uma casa de repouso para idosos. É gratificante levar a alegria para alguém que precisa”, finaliza.