Todos os dias, diversos profissionais dedicam suas vidas a cuidar e proteger a sociedade, muitas vezes colocando suas próprias vidas em risco para salvar a de outras pessoas. Sua dedicação, coragem e empatia são inspiradoras, merecendo reconhecimento da sociedade
A cada dia, testemunhamos uma variedade de acidentes e problemas de saúde que resultam em danos sérios, como infartos, AVCs e outros transtornos. Essas situações afetam não só os moradores de Bento e região, mas também pessoas ao redor do mundo. No entanto, em meio a esses desafios, há uma luz de esperança representada pelos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Bombeiros Militares e Voluntários, que dedicam-se incansavelmente a salvar vidas, respondendo aos chamados de emergência a bordo de suas ambulâncias, muitas vezes arriscando suas próprias vidas para resgatar aqueles que necessitam de ajuda.
Este trabalho exige esforços, já que a maioria cumpre plantões de até 12 horas. Nessa rotina de situações tensas, onde o erro não pode ser cogitado, este trabalho é feito por diversas pessoas da área da saúde, como técnicos em enfermagem, enfermeiros e médicos.
Condutor Socorrista
Fabiano de Moraes, de 42 anos, servidor público municipal, é o Condutor Socorrista do Samu e explica como é seu dia a dia no serviço. “Sempre chego para trabalhar, bato meu ponto, vou me trocar, coloco meu equipamento de proteção. Vou até a viatura, faço o checklist mecânico, verifico a higienização e se tudo está no local certo para ser utilizado. Depois disso, ficamos na base aguardando um chamado. Normalmente, há atividades extras como treinamentos, limpeza das viaturas, de materiais e da base. E assim que entra o chamado, nos deslocamos para o atendimento”, conta.
Dentro de seu trabalho, há diversas atividades que precisa cumprir, mas a principal é uma direção ágil e segura no volante. “Tenho em mente que há uma vítima aguardando, mas também nós temos que garantir a segurança da equipe. Nos atendimentos, o condutor é o que mais corre, buscando tudo o que é preciso”, explica.
Entre os atendimentos que marcaram o condutor está o de um acidente recente na BR-470, no bairro Santa Rita, nas chamadas “Curvas da Morte”. “Havia ocorrido um capotamento e nós chegamos ali na cena. Dentro do carro estava a mãe e fora dele o pai com uma criança no colo. Os dois ensanguentados e a criança chorando. Uma sensação de impotência, a mãe estava presa nas ferragens, me tocou bastante”, salienta.
Para ele, falta consciência nas pessoas quando estão dirigindo, já que muitos acidentes ocorrem pela desatenção. “Muitas vezes é imprudência. Se vê motoqueiros passando pelo lado direito, que é o lado errado, condutores embriagados”, pontua.
Moraes garante que o que mais importa é a vida. “Um dos nossos lemas é que cada minuto é muito importante. As pessoas têm que valorizar a vida, quem está próximo de nós, a família, os amigos. Porque depois que fatos ruins acontecem, nos lamentamos muito. Também é preciso que as pessoas se conscientizem no trânsito”, alerta.
Sem horário para sair
Melissa Bonato é a Cordenadora de Enfermagem do Samu de Bento Gonçalves. Além dos plantões, trabalha na parte administrativa, com o dimensionamento de pessoal, captação de recursos, treinamentos, e compromissos com regulação estadual. Ela explica que nem todos gostam da emergência, mas que se encontrou nesta especialidade. “Temos a ciência que são poucos profissionais da saúde que se identificam com este tipo de serviço. Até porque no trabalho do Samu sabemos que temos hora para entrar, mas não sabemos o horário de saída. A maior motivação, sem dúvida, é saber que fazemos a diferença na vida das pessoas, pois temos o compromisso de intervir nos piores e mais graves momentos de duas vidas”, alega.
No ano de 2023, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Bento Gonçalves realizou cerca de sete mil atendimentos
Apesar de enfrentar, todos os dias, diversos momentos que exigem o emocional forte, Melissa revela que a situação mais difícil até hoje foi perder um colega de trabalho. “Perdi um colega médico que enfartou após ter finalizado a ressuscitação de uma paciente durante a pandemia de covid-19. Com certeza, dói muito até hoje, era um colega incrível, um ser humano evoluído demais, que iluminava o ambiente onde estava. Tentar reanimar uma pessoa tão próxima e não conseguir reverter, gera uma dor e tristeza que ficam para sempre”, lamenta.
“Foi a área da saúde que me escolheu”, diz técnica
Cauana Correa, 29 anos, técnica em Enfermagem, soube ressignificar sua dor e seu luto, escolhendo o ato de salvar quem precisa. “Nunca escolhi a área da saúde, foi ela que me escolheu. Meu avô precisou de atendimento e um profissional da saúde o tratou muito bem, no momento em que ele mais precisava, transmitindo segurança, conforto, calma. Depois que ele faleceu, me agarrei nesta história e decidi ser para outras pessoas o que este profissional foi para meu vô”, declara.
A técnica em enfermagem sabia que teria de lidar com situações difíceis, mas revela que há momentos em que é mais complicado ser forte do que em outros. “Um dia, fomos atender uma gestante em trabalho de parto. Quando chegamos lá era uma menina de doze anos, extremamente magrinha e pequena, toda assustada com medo das contrações. No decorrer da conversa, descobrimos que a gravidez era fruto de um abuso feito pelo próprio pai. Lembro que no dia me segurei para não chorar, pois precisava ser forte por ela. Fui o caminho explicando tudo para ela, enquanto segurava a sua mãozinha. Depois do atendimento, quando cheguei na base, desmoronei chorando lembrando daquela menina e querendo protegê-la do mundo, de tudo e de todos”, lembra.
Mas para situações mais corriqueiras, Cauana traz um apelo para que as pessoas passem a se cuidar mais. “É necessário conscientizar sobre a importância dos primeiros socorros. Nós do Samu, junto com o pessoal da secretaria da Educação, conduzimos um projeto nas escolas, mas para mim deveria se estender pela população inteira”, aconselha.
“Poucos segundos podem fazer toda a diferença”
Os médicos também são parte imprescindível do processo, afinal, é para eles que os pacientes são levados após os primeiros socorros ou, dependendo da urgência, seguem junto da ambulância para garantir que a vítima sobreviva.
Thyago Coser é o médico emergencista do Samu. Sua rotina é semelhante a dos seus colegas, mas ainda sim, há diferenças. “Chego na base, coloco o macacão e a bota, assim como o colete onde tenho alguns dos materiais necessários para o atendimento ao paciente. Assumo o plantão em substituição ao colega do turno anterior e imediatamente me logo no Sistema de Regulação Compartilhada com a Central do Samu Estadual. Após, confiro os equipamentos da Ambulância junto com a equipe, estando todos sempre de prontidão para quando entrar um pedido de socorro. Quando entra o chamado, avalio a gravidade, definindo e alocando qual o recurso mais adequado para o caso em questão, Suporte Avançado de Vida, Suporte Intermediário de Vida, Suporte Básico de Vida, Motolâncias ou orientação ao solicitante”, conta.
As motolâncias fazem parte de um dos projetos que existem em poucas cidades. Neste ponto, Bento Gonçalves é o segundo município do Brasil a contar com o serviço de motos equipadas, que se deslocam mais rápido que as ambulâncias até o destino dos pacientes.
Sua dedicação à medicina vem do preceito de fazer pelo paciente o que gostaria que fizessem com ele, ou com pessoas próximas. “Poder ajudar alguém, independente de quem seja, que por vezes está entre a vida e a morte, é a minha maior motivação como Médico Emergencista. Poucos segundos podem fazer total diferença no futuro do paciente, evitando não só sua morte, mas também muitas vezes suas sequelas”, salienta.
Coser relata que os momentos mais tocantes são aqueles em que precisa cuidar de crianças. “No Pré-Hospitalar cada atendimento é ímpar. Por mais que possa ser semelhante a um caso passado, nunca será igual. Pessoalmente, os casos que mais me sensibilizam são os que envolvem crianças. Por exemplo, casos como paradas cardiorrespiratórias e acidentes graves, em que precisamos estabilizar a criança, sendo que o manejo no local do atendimento pode ser decisivo para a sua sobrevivência”, revela.
Uma vida salva entre tantas
Darcilene Couto, de 57 anos, garante que só está viva porque recebeu um atendimento ágil e preciso. No dia 29 de março do ano passado, acabou passando mal. “A princípio não sabia o que era, estava no trabalho, pedi ajuda aos meus colegas e eles chamaram o Samu. Chegaram em seis minutos e fui muito bem atendida, apesar de não lembrar de muita coisa, mas do que lembro foi muito bom. Descobri que tive um infarto”, explica.
Darcilene Couto é extremamente grata pelos socorristas que a salvaram
Após ser salva, Darcilene celebra sempre por ter sobrevivido. “Agradeço todos os dias quando acordo, por Deus me dar uma nova chance e por ter sido atendida por uma equipe tão eficiente. Por ter colegas maravilhosos, porque se não fosse por eles, não estaria aqui hoje”, reconhece.
Darcilene, mesmo após um infarto e uma parada cardiorrespiratória, se sente aliviada, já que pode seguir com a sua vida. “Hoje levo uma vida praticamente normal, pois em função do que tive, tomo vários medicamentos. Mas parei de fumar, porque foi um dos motivos que me levou a ter um infarto, além da genética. Faço isso para me cuidar, e não passar mais por isso. Sou muito feliz por estar viva”, declara.
Bombeiros Militares
Outra profissão reconhecida pelo seu apoio e cuidado ao próximo, junto de adrenalina e dinamismo é de Bombeiro Militar. Seu treinamento é intenso, pois precisa estar preparado para diversos momentos, e ocorrências como incêndios, desabamentos, afogamentos, explosões, vazamentos, acidentes e demais eventos em que a vida humana, a natureza e o patrimônio estejam em perigo. Juliano Baigorra Ribeiro, de 37 anos, é soldado e atua na corporação de Bento Gonçalves, onde, diariamente, atendem ocorrências locais. Ele revela que o cargo ocupado é fonte de automotivação diária. “Trabalharmos junto às pessoas, prestar o serviço à comunidade, faz com que tenhamos muito prazer no que fazemos. É muito difícil ficar pensando no que motiva. Você simplesmente faz. Às vezes, é até difícil tirar férias, porque você se afasta da adrenalina do dia a dia”, alega.
Por atender diversos casos delicados, o Ribeiro revela que pensar nas histórias é algo que não gosta de fazer, pois muitas vezes são situações delicadas e diversas. “O que nós produzimos aqui é a consciência de que não podemos ficar lembrando das ocorrências passadas e sofrer por elas. Esse é nosso lema. Mas as histórias mais tristes são as que envolvem crianças e que levam, de certa forma, um pouco mais para cicatrizar. Existem chamados que deixam marcas. Mas são elas que nos motivam a trabalhar melhor a cada dia”, salienta.
Como já presenciou diversos momentos, o soldado tenta explicar às pessoas sobre a importância em manter o cuidado junto a locais e produtos que possam causar acidentes. “As pessoas precisam entender a gravidade das coisas. Foco muito na questão do acidente veicular que é o nosso maior fluxo. Isso nos traz a questão de que se todas as pessoas entendessem que os equipamentos de segurança, os de proteção individual dentro dos veículos, aquela solicitação de respeito e consciência, nada mais são do que maneiras que existem para cuidar da própria vida e de quem está ao seu lado. Infelizmente, muitos não observam os riscos que acabam produzindo para si e aos outros, como familiares e filhos. E pode certamente, num piscar de olhos, acabar com a vida de alguém que está transitando na rua”, alerta.
Bombeiros voluntários
Os Bombeiros Voluntários, como o próprio nome já diz, são pessoas que se integram de forma voluntária a uma instituição de bombeiros. Este grupo tem a missão de salvar vidas, proteger bens, mediante a prevenção e extinção de fogo, socorro de feridos e a prestação de outros serviços previstos nos regulamentos internos. Em Garibaldi, 60 profissionais integram a equipe. Daniel Borsoi é subcomandante no município. Sua rotina é semelhante à dos socorristas do Samu, já que é necessário cuidar do local principal que as vítimas precisam: a ambulância.
Daniel Borsoi (d) é subcomandante da equipe de Bombeiros Voluntários, ao lado de sua colega Lisandra Crespim (e)
Borsoi se diz orgulhoso em fazer parte da equipe, tendo como motivação ver no rosto de quem ajudou um olhar de gratidão. “Por muitas vezes recebemos visitas à nossa base de operações de pacientes atendidos pela nossa equipe. Esses que tiveram suas vidas ou patrimônios salvos por nós, vindo para agradecer de alguma forma pelo atendimento prestado”, pontua.
Uma de suas colegas de equipe é Lisandra Crespim, que está há cerca de dois anos na corporação. Mesmo já vendo diversas situações complexas, nunca se esquecerá de uma em específico. “Quando fomos chamados para um atendimento clínico, uma senhora morava sozinha e foi encontrada com sangue pelo corpo todo, pois ela tinha caído e batido a cabeça no criado-mudo ao lado da cama. Lá ela estava fazia horas, o sangue já estava seco”, relembra.
Lisandra gostaria que fosse possível conversar com cada pessoa e mostrar a realidade, ensinando sobre prevenção. “Queria alertar a todos sobre o que pode acontecer de verdade, se caso não se cuidarem no trânsito ou em qualquer lugar. E também super apoiaria ser matéria escolar, cuidados no trânsito e primeiros socorros. Isso mais do que nunca é muito importante as pessoas saberem desde pequenas, o que fazer em algum caso de urgência e até em um caso de emergência”, enfatiza.