Com 347 estudantes não brasileiros nas redes municipal e estadual da Cidade, escolas devem estar preparadas para atender esta demanda
Com mais de 120 mil habitantes, Bento Gonçalves se destaca por sua qualidade de vida, fato que atrai muitas pessoas com interesse em viverem na cidade.
Marcada pela imigração italiana, que completa 150 anos em 2025, o município figura entre as dez maiores economias do Rio Grande do Sul. Os principais setores que movem o município são o moveleiro e o vitivinícola, mas também há força nos setores alimentício e metalúrgico.
Apesar de ter seus defeitos, como qualquer outra cidade, muitos são os motivos que fazem de Bento Gonçalves uma cidade próspera e ideal para viver. Com a globalização e problemas econômicos, cada vez mais estrangeiros buscam a Capital Nacional do Vinho para fixarem residência, em busca de uma vida melhor.
Os colégios do município são prova disso, quando se fala a respeito do número de alunos não brasileiros atualmente matriculados. Para se ter ideia, dos 11.270 estudantes matriculados na rede municipal, 161 são estrangeiros, distribuídos em 48 escolas.
A grande maioria dos alunos imigrantes da rede municipal são venezuelanos (88), seguidos por haitianos (36), chilenos, cubanos e bahamenses (cinco de cada nacionalidade). Também há indivíduos de diversos países caribenhos, europeus, norte-americanos, asiáticos e africanos.
Já nas 18 escolas estaduais de Bento Gonçalves, 186 não são nativos do Brasil.
Considerando essa realidade, a legislação brasileira determina que estrangeiros têm direito ao acesso à educação da mesma forma que as crianças e adolescentes brasileiros, conforme expresso pela Constituição Federal, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e pela Lei da Migração. Além disso, a Lei dos Refugiados garante que a falta de documentos não pode impedir o acesso à escola.
O desafio da linguaguem
Receber alguém com diferenças de aprendizado, cultura e até idioma pode ser desafiador para uma instituição de ensino. É preciso preparar a gestão pedagógica para acolher esses estudantes. Atuando há 14 anos como professora e diretora da EMEF Professora Maria Borges Frota, Jaqueline Bondan de Lima comenta que cerca de 30 alunos estrangeiros estudam atualmente na escola, em sua maioria venezuelanos e também haitianos.
Para ela, o maior desafio é o idioma. “Quando os alunos falam espanhol, fica um pouco mais fácil de nos entendermos. Mas quando falam francês ou o dialeto crioulo, como é o caso dos haitianos, muitas vezes temos que recorrer a tradutores, familiares ou alunos mais velhos, que já falam o português”, ressalta.
Jaqueline também relata que o colégio atendeu muitos adultos que foram terminar seus estudos, através da Educação para Jovens e Adultos (EJA), trazendo maior contato entre a escola e os imigrantes. “À medida em que iam aprendendo o português, nós da escola também íamos aprendendo sobre seus costumes e organização familiar, facilitando a relação com as comunidades, criando um vínculo e melhorando a comunicação”, conta.
Ainda segundo a diretora, ela não observa tanto um aumento do número de alunos estrangeiros, mas sim uma grande rotatividade, uma vez que, em seu relato, muitos acabam saindo da cidade e até indo para outros países, quando já possuem melhores condições e os estudos finalizados.
Além da dificuldade de comunicação, também existem as diferenças culturais. “Precisamos ter respeito, empatia e boa vontade para acolhê-los. É importante ter um olhar diferenciado, toda a rede do município precisa colaborar, inserindo essas pessoas em outros serviços como postos de saúde, assistência social, auxílio com documentos. Muitas vezes eles acabam contando apenas com seus conterrâneos. Observamos que todos passamos por adversidades semelhantes, não importa a localização geográfica”, explica.
Também deverão ser observadas práticas de atividades que valorizem a cultura dos alunos não brasileiros. Além disso, o ensino de português deverá ser ofertado como língua de acolhimento, visando a inserção social àqueles que detiverem pouco ou nenhum conhecimento da língua portuguesa.
Nas escolas em que há um bom acolhimento destes estudantes, a questão da língua passa a ser secundária. É importante trabalhar a valorização da diversidade entre os alunos.
O professor deve tentar conhecer a cultura do aluno estrangeiro e valorizá-la, ensinando aos demais que a variedade cultural é positiva e que não há cultura melhor que outra. A experiência intercultural no ambiente escolar passa a ser uma oportunidade para criar vínculos significativos entre os estudantes, e desta maneira, proporcionar a aprendizagem.