Colégio planeja evento que reúne comunidade, alunos, pais e funcionários, resgatando as memórias das últimas oito décadas que marcaram diversas pessoas
EMEF Princesa Isabel fica localizada no bairro Villa Nova I e atualmente conta com 400 alunos. A escola teve início na década de 40, mais precisamente em 1944, e por isso muitas pessoas já passaram por lá. Estima-se que o local já abriga a sua quarta geração. Considerado um dos mais antigos colégios do município, a escola decidiu comemorar a data do aniversário da escola, que é tão importante para a comunidade e para Bento Gonçalves, de uma forma diferente. A ideia é que o projeto abranja os últimos 85 anos de funcionamento, trazendo fotos, relatos de antigos estudantes e funcionários, e envolva não apenas os alunos, mas também os moradores do local, criando assim um museu da escola em todo o prédio. Para isso, serão utilizadas fotos antigas de alunos que passaram por lá, assim como relatos e fotos do antigo prédio, para que todos entendam a importância de um educandário existir por 85 anos.
A diretora Jacqueline Karbaba explica como surgiu a ideia de fazer este projeto, pois o arquivo pessoal do colégio está cheio e está na hora de espalhar essa história. “Todos os anos, no aniversário da escola, fazemos um evento, e temos uma sala cheia de recordações. Retiramos estes materiais guardados e depois os guardamos de novo. Este ano decidimos fazer diferente, desenvolvendo um projeto em cima da identidade, memórias e histórias da escola Princesa Isabel, espalhando essas memórias pelo prédio. E também, buscando os relatos de quem estudou aqui, pois já estamos atendendo à quarta geração. E mostrar o quanto a escola é importante para a comunidade que cresceu muito, sendo o colégio sempre o centro deste lugar”, explica.
Ela conta que os ex-alunos estarão envolvidos e serão parte chave no evento. “A comunidade desempenha um papel fundamental neste projeto. Serão convidados a trazer suas memórias, experiências e lembranças de suas passagens pela escola através de relatos, fotos e arquivos históricos. Faremos um chamado para isso nas redes sociais da escola. Como a escola está completando 85 anos, sendo a mais antiga escola municipal de Bento Gonçalves e sendo reconhecida pela comunidade, tivemos a ideia de resgatar toda a sua rica história para valorizá-la ainda mais”, ressalta.
As professoras responsáveis pelo projeto são Gilvana Giordani, de História, e Joseana Bressanelli, de Geografia. Para Gilvana, a importância de celebrar. “A data do aniversário da escola é importante, não somente para nós, mas para toda comunidade que em algum momento fez parte dessa construção histórica. Juntos a comunidade se ampliou e transformou, no processo que o bairro adquiriu/ absorveu as indústrias que muito agregaram valor social”, revela.
Joseane relembra que todos os anos o aniversário da escola não é passado em branco, criando-se, assim, uma tradição no bairro. “Todos os anos a comunidade participa e presenteia a escola, sentindo pertencer a um espaço educativo que muito faz por todos”, diz.
Ao surgir a ideia do projeto, rememorando o passado e resgatando a história tanto da localidade quanto do colégio, pensou-se em buscar áreas do conhecimento que conversassem entre si e com os temas semelhantes aos que serão tratados na homenagem aos 85 anos da Princesa Isabel. “A direção sugeriu o projeto para as professoras de Geografia e História, que são componentes curriculares e áreas de conhecimento específicas para abordar esse tema. Também buscamos alinhar com a Secretaria da educação que traz sugestões a cada ano que se inicia”, conclui Gilvana.
A direção da escola vai reunir relatos de alunos e ex-alunos para o projeto de Histórias e Memórias
Ex-alunos marcados pelo local
Para muitos, o local de ensino que fez parte de suas vidas acaba significando muito, principalmente para aqueles que foram marcados pelo ensino que receberam. Esse é o caso da ex-aluna, Helia Bragnini, hoje com 58 anos e comerciante. Foi através do Princesa Isabel que retomou seus estudos, mesmo sendo mãe de dois. “Estudei em 1994 na escola, tinha 28 anos na época, já era mãe. Era de Santa Catarina e estudava lá, e naquela época os estudos não eram prioridade para as gerações passadas. Vim para Bento Gonçalves, e dali fui fazer o supletivo. Só que não achei interessante porque pulava muito, e decidi fazer ano por ano. Vim no Princesa Isabel fazer uma prova para ver se estava habilitada para fazer a quinta série e completei até o ensino médio”, relata.
Após concluir o ensino fundamental, logo deu continuação ao médio e em seguida ao superior. Ao estar de volta à escola, é impossível não relembrar. “A escola não mudou muito, o ginásio é novidade porque na época não tinha. Agora as salas, a estrutura seguem bem parecidas. Dá muita nostalgia, relembramos do tempo que estudamos, os professores, a turma de amigos. O que me faz lembrar muito daqui é rever os professores da época, que eram muito incríveis”, rememora.
Hilda reconhece que não é qualquer escola que alcança essa marca, ainda por cima, sendo tão querida por todos que a frequentaram. “Oito décadas de escola não é para qualquer uma, é um aprendizado para muita gente, e para nossos filhos e netos que ainda vão vir. Então acredito que é valioso, e é interessante esta parte de resgatar a história que é muito maravilhosa”, exalta.
Andrea Goulart iniciou os estudos na escola em 1992, quando começava a primeira série. Por morar no bairro, começou a estudar ali. “Morávamos próximos e minha irmã já estudava aqui, e como referência tínhamos esta escola. Vim na primeira série aqui e concluí o ensino fundamental, foram oito anos. Era uma família na escola, muitos amigos, o pessoal todo do bairro, era a minha segunda casa”, declara.
A escola para ela foi tão marcante que foi onde decidiu que profissão seguiria. “Escolhi minha profissão inspirada em uma professora que tive no sexto ano. Alguns desafios em sala de aula me fizeram optar por seguir esta carreira. Na época ainda contei a ela que foi ela quem tinha me motivado”, recorda.
A professora conta que é impossível estar no local e não relembrar de tudo o que viveu ali, em sua infância e início da adolescência. “Lembro de cada detalhe ao entrar aqui, porque a única coisa que realmente mudou foi o ginásio, pois a estrutura ela ainda é muito parecida, e a partir disso surgem muitas recordações”, aponta.
Por ser próximo a sua casa e ter tido experiências tão bonitas naquele local, decidiu que era a escola que seus filhos deveriam estudar. “Minha filha passou a estudar ano passado, e no começo teve que se adaptar, mas depois pediu para ficar, pois se sentiu muito bem. Ela compartilha do mesmo sentimento de sentir em casa. Os trouxe para cá porque era próximo de casa, e também porque a escola é muito boa, e eles vêm juntos”, explica.
Andrea confessa que está animada com toda a movimentação, já que para ela e muitas outras pessoas que tiveram o Princesa Isabel em sua história, o local significa muito. “Acredito que seja muito necessário resgatar essa história, todas essas experiências vividas, o pessoal que passou por aqui. Relembrar e apontar esse passado, para nunca esquecermos da importância desta escola. O poder público precisa ver este colégio com outro olhar, porque ela tem sua relevância para o município e bairro”, frisa.
Gerações e gerações
A parte interessante em um local completar tantos anos é que diversas gerações já passaram por ali. Este é o caso de diversos ex-alunos que tiveram praticamente toda a família estudando naquela escola. Como a funcionária da escola, Simaria Di Bernardi. “Estudei nesta escola, na época meu pai era o presidente do Círculo de Pais e Mestres (CPM), atualmente meu filho e sobrinho também. Meus pais foram os primeiros moradores, então toda a família veio estudar no Princesa Isabel, Como é por zoneamento, não teria como ser diferente, mas principalmente porque todos sempre vimos o quão excelente o ensino da escola sempre foi”, relembra.
Simara di bernardo e João Batista de Oliveira são os funcionários mais antigos
Ela é uma das funcionárias mais antigas da escola, estando lá há oito anos. “Amo trabalhar aqui, gosto muito do que faço, adoro fazer parte da família, já que passamos a maior parte do dia na escola. Temos que gostar do que a gente faz, me dou com todas as crianças, com os funcionários”, considera.
Simaria gostou da ideia do projeto, principalmente por incluir tanto pessoas de dentro da escola quanto de fora. “Bem interessante este evento, vamos movimentar muito a comunidade, os pais. Acredito que será bem legal, porque é uma parceria com pais, alunos, professores e funcionários”, alegra.
Leodir Carlos Bragini tem uma história parecida com a de Simaria, já que ele e os filhos se formaram no ensino fundamental naquela escola. “Estudei por volta da década de 70, tinha uns 12 anos. Morava bem próximo da escola, mas o prédio era outro, era onde fica a creche hoje. A estrada ainda era de chão, o prédio atual da escola era um campo com parreirais. Tinham poucas casas, e na escola não tínhamos nem 50 alunos, mas desde lá já era um colégio referência. Atualmente, ela está enorme, tanto em número de alunos quanto de estrutura”, assegura.
Leodir Carlos Bragini estudou na escola ainda na década de 70
Para ele, a parte mais bonita é ver que tanto ele quanto os filhos iniciaram ali seus estudos e hoje todos estão formados no ensino superior. “Meus filhos estudaram nesta escola, não só porque morávamos perto, mas porque sabíamos que o ensino é muito bom. Todos nós iniciamos nossos estudos no Princesa Isabel, e atualmente nós três somos formados, mas um dia começamos aqui”, analisa.