Com manifestações clínicas similares, pode haver dúvida no momento do diagnóstico. Veja como diferenciar as duas infecções virais e se proteger
O Brasil vive uma epidemia de dengue, com uma explosão no número de casos neste início de 2024. Até o momento, cerca de 700 mil casos de dengue foram confirmados, de acordo com o painel divulgado pelo Ministério da Saúde.
No Rio Grande do Sul, aproximadamente seis mil casos foram confirmados até o fechamento desta edição, com um total de cinco óbitos. Bento Gonçalves apresenta nove confirmados e 12 ainda em investigação, ainda sem óbitos. Outras cidades da região, como Carlos Barbosa, Farroupilha, Garibaldi e Santa Tereza possuem, somados, 12 casos confirmados.
Apesar da situação estar relativamente controlada em relação ao número de casos de Covid-19, a doença segue sendo transmitida e causando mortes no mundo todo. Mais de 38 milhões de brasileiros foram contaminados com o coronavírus, sendo confirmadas mais de 700 mil mortes no país. No Rio Grande do Sul, os dados apontam três milhões de casos e 42 mil óbitos por covid, desde o início da pandemia, em 2020.
Com a grande incidência dessas doenças virais que fazem o acometido se sentir tão mal, pode ocorrer confusão no momento do diagnóstico, já que os sintomas são semelhantes.
A dengue é transmitida exclusivamente pela picada do mosquito Aedes aegypti, que também transmite Zika e Chikungunya. O inseto pica uma pessoa contaminada, passa a carregar o vírus e o transmite picando outra pessoa. A dengue não é transmitida de um indivíduo para outro.
Para evitar novos casos, é necessário diminuir a proliferação do mosquito, retirando pontos de água acumulada, que é onde a fêmea deposita seus ovos e, posteriormente, as larvas eclodem. Terrenos baldios, pneus, lixo acumulado e vasos de plantas são alguns dos locais mais comuns.
A infecção por dengue pode ser assintomática, apresentar quadro leve ou sinais de alarme e de gravidade. Normalmente, a primeira manifestação da dengue é a febre alta, acima dos 38°C, de início abrupto, que geralmente dura de dois a sete dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, além de prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos e manchas vermelhas na pele.
Existe também a dengue hemorrágica, quando a infecção começa a destruir plaquetas responsáveis pela coagulação, e o paciente passa a ter sangramentos na gengiva ou nas fezes. O diagnóstico da dengue pode ser feito por exame clínico e confirmado por exame de sangue.
Já o vírus da covid é transmitido pelo ar, através de gotículas de saliva e secreções respiratórias de alguém já infectado. Por isso, é importante utilizar a máscara em locais fechados, evitar aglomerações, lavar muito bem as mãos, para evitar o contato com o vírus, da mesma maneira que ocorre com uma gripe comum, por exemplo.
Por sua vez, os casos leves de covid são caracterizados pela presença de sintomas não específicos, como dor de garganta, perda do olfato e paladar, diarreia, dor abdominal, febre, calafrios, dor muscular, coriza, fadiga e cefaleia.
Os casos moderados podem incluir todos esses sintomas e também sinais de piora progressiva de outro sintoma relacionado à covid (fraqueza muscular, prostração, diminuição do apetite, diarreia), além da presença de pneumonia sem sinais ou sintomas de gravidade.
Já os casos graves, envolvem dispneia/desconforto respiratório, pressão persistente no tórax ou saturação de oxigênio menor que 95% em ar ambiente ou coloração azulada de lábios ou rosto. O diagnóstico da covid pode ser feito por exame clínico e por testes de laboratório em amostras colhidas principalmente no nariz. Os testes estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Como se proteger
Ambas as doenças possuem vacinas. A diferença é que a vacina da covid está disponível para toda a população no Sistema Único de Saúde (SUS). Já a vacina da dengue atende um público menor: crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, em municípios definidos pelo Ministério da Saúde. Nesta primeira fase da vacinação, estão sendo priorizadas as crianças de 10 a 11 anos. A restrição na imunização contra a dengue ocorre por falta de doses. O imunizante também está disponível na rede particular.
Em meio à rápida transmissão da dengue pelo mosquito Aedes aegypti, o uso de repelentes é uma medida auxiliar para a proteção contra picada. O médico pediatra Antoine Oliveira, esclarece sobre alguns itens que devem ser observados na escolha do repelente mais adequado. “É importante ler a composição do produto, que deve conter icaridina, IR3535 ou DEET. Também é necessário utilizar em crianças os repelentes específicos para elas, conforme descrição na embalagem, pois possuem concentrações compatíveis com a faixa etária”, informa.
O produto deve ser espalhado nas áreas do corpo que não são cobertas pelas roupas. O repelente deve sempre ser aplicado por último, após o protetor solar e outros cremes. Deve-se ficar atento à duração da ação do cosmético, que não deve ser reaplicado mais de três vezes ao dia.
Não é recomendada a utilização de repelente em spray ou aerossol no rosto, pois pode haver inalação ou intoxicação.
Em casa, outras medidas de proteção também podem ser tomadas, como tela mosquiteira e inseticidas de tomada (repelente elétrico).
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os repelentes “naturais” à base de citronela, andiroba, óleo de cravo, entre outros, não possuem comprovação de eficácia contra o mosquito da dengue. A Agência destaca, também, que não há produtos de uso oral, como comprimidos ou vitaminas, que possuam eficácia comprovada, tampouco licença para este fim.
Ricardo Lucchini, de 37 anos, contraiu as duas doenças, em momentos diferentes. Para ele, a dengue acabou sendo pior. “Com certeza a dengue fez um estrago bem maior. Essa doença não te deixa fazer nada, a dor de cabeça é insuportável. Dor nas articulações, febre, um cansaço que leva semanas para você se recuperar, perda de apetite. É terrível. Claro, isso foi comigo. Para outras pessoas, que passaram pela situação, pode ser que tenha sido igual ou diferente”, relembra.
Já quando teve covid, Lucchini pensou que era apenas um resfriado comum, mas em consulta médica foi constatado o diagnóstico. “Após apresentar uns sintomas, fui até o Ambulatório de Campanha na UPA, consultei e fiz o exame, fiquei alguns dias isolado após ter a suspeita e, depois de confirmado, fiz o isolamento por 15 dias, tomei algumas medicações para febre e dor. O cansaço permaneceu por alguns meses, mas, agora, estou bem”, comenta.
Ele acredita que tenha tomado todas as medidas de prevenção para ambas as doenças, como uso de máscaras e distanciamento social, no caso da covid, e fazia sua parte em não manter possíveis criadouros do mosquito da dengue. “De nada adiantou fazer a minha parte e o vizinho não. Infelizmente, o mosquito não vai atrás só de quem é irresponsável”, expressa.
Lucchini fez todas as doses da vacina da covid e pretende fazer o reforço, pois acredita na ciência e que vacinas salvam vidas. Quanto à da dengue, planeja tomar assim que estiver disponível no SUS.
Por fim, Lucchini pede que “Sigam as orientações de quem entende do assunto, que estudou a vida toda e segue pesquisando sobre as duas doenças. Mesmo a covid estando controlada, ela mata, se não for tratada. Perdi amigos muito próximos por causa do negacionismo. Sobre a dengue, temos que fazer a nossa parte. Não dá pra apontar o dedo pro vizinho e não dar o exemplo”, pontua.
Em casos de suspeita tanto de covid, quanto de dengue, deve-se procurar atendimento médico, para fazer uma avaliação e exame clínico. Se necessário, serão pedidos exames de sangue para isolamento viral e sorologia para dengue, além de teste rápido para a covid, que também pode ser feito em farmácias.