Quem mora no bairro elogia principalmente pela segurança e tranquilidade. Mas há quem reclame que há anos pedem por um espaço de lazer, sobretudo para as crianças, e que ainda não foram atendidos

Considerado um bairro calmo e tranquilo por seus moradores, o bairro Santa Rita conta com diversas empresas, várias delas existentes há anos. A maioria que vive no lugar quase não tem reclamações, a não ser pela falta de espaços de lazer, principalmente infantil. O bairro não conta com praças ou quadras de esportes, o que incomoda moradores que dizem ser este um problema antigo. Contam ainda que há muitos anos buscam solução, mas até hoje não obtiveram o local que desejam.

Sidnei Schubirt tem 39 anos e é motorista de ônibus. Ele vive no Santa Rita há mais de uma década e garante ser encantado pelo lugar. “Moro há 12 anos no bairro, vim porque o local é muito bom, a infraestrutura dele também. Já conhecia aqui antes de vir. E sem falar que o aluguel daqui é bem convidativo. Tem acesso fácil a mercados, à UPA (24 Horas) e ao comércio. É seguro, então os moradores são mais tranquilos”, explica.

Ele fala ainda das transformações que ocorreram ao longo desses anos. “O bairro mudou bastante, teve melhorias nas ruas, iluminação pública e asfalto. Também começamos a ter um aumento bem grande de prédios, mas as casas seguem as mesmas”, conta. Schubirt acredita que a única parte que deixa a desejar é a falta de um espaço para as crianças que, segundo ele, são muitas. “O que precisamos é uma área de lazer, só temos uma quadra de futebol na frente da UPA, mas que pertence ao Botafogo. Já reivindiquei para vereadores, porque em nenhum local tem ao menos uma praça, uma quadra para as crianças”, explana.

O morador entende que é importante ter um espaço infantil porque também traz segurança aos pais, já que, muitas vezes, seus filhos têm que brincar na rua. “Necessitamos bastante, temos muitas crianças aqui. Eles acabam jogando bola na rua de cima, que tem menos movimento, mas é perigoso para eles. Os moradores se incomodam, então é bem complicado e precisa de mudanças logo”, justifica.

Salete Sarde, 70 anos, é natural de Guaporé e se mudou ainda jovem para Bento Gonçalves. Ao chegar à cidade, a família comprou um terreno no Santa Rita onde construiu a moradia. “Vejo muita diferença da época em que cheguei até agora. Tem muito movimento, até demais, principalmente por causa da (fábrica de massas) Isabela. Mas não tem o que fazer, os lugares crescem”, considera.

Sobre o que mais gosta no bairro e o que tem lhe feito feliz nas últimas décadas, ela afirma que “a melhor parte em viver aqui são os vizinhos que são muito bons. O lugar é maravilhoso e, antigamente, tinha a minha família pertinho, o que o deixava ainda mais especial. Além do que é um lugar bem seguro e, até hoje, nunca me aconteceu nada ruim”, destaca.

Assim como outros moradores, a aposentada se incomoda com o fato de as crianças estarem enfrentarem risco de acidentes, por algo que já poderia ter sido solucionado. “Falta uma pracinha para elas, porque brincando na rua pode ser muito perigoso, principalmente por causa de acidentes de carro. Outra coisa é que teria que asfaltar onde é calçamento”, conclui.
Tiago e Alexandra Orbach têm uma loja online de venda de vinhos, no Santa Rita, onde moram. “Em 2016 estávamos em busca de ter um negócio próprio. Então surgiu a ideia de criarmos um site e aconteceu a oportunidade, e iniciamos do zero. Atualmente nosso comércio é 100% online e, no momento, não temos planos de abrir um local físico”, relata Orbach.

Alexandra complementa que, mesmo que fossem abrir um espaço para o negócio, não seria no bairro, afinal, o público deles é diferente dos moradores dali. “Para o nosso comércio não escolheríamos o Santa Rita, porque como vendemos vinhos e espumantes nacionais e da região, não teríamos um público turístico aqui”, explica. “Acreditamos que é um bairro bom para se empreender, porque tem bastante pessoas que moram há muitos anos no lugar, e são famílias que gostam de comprar no próprio bairro”, avalia.

Os dois dizem ter muito carinho pelo Santa Rita, e notam que diversas pessoas que vivem ali, também. “Gosto muito daqui, não me mudaria. O pessoal é tranquilo, temos uma boa convivência com os vizinhos e não tem vida noturna por perto, então é sem barulho. É difícil ficar uma casa para alugar durante muito tempo, porque é um lugar bastante procurado”, aponta Orbach.

O casal aponta o mesmo problema que outros moradores. “Questionamos há muito tempo a razão de não temos um espaço de lazer para as crianças, pois só indo no Botafogo para elas brincarem. E é uma necessidade nossa, temos muitas aqui no bairro, e ficar na rua pode ser perigoso. Seria um espaço até mesmo para tomar chimarrão no fim do dia ou passear”, diz Orbach.

Elvide Campo é aposentada e artesã, há 50 anos mora no Santa Rita, onde seu marido vivia antes de ambos casarem. “Gosto muito daqui, no começo eram umas três casas e só, e olha o que virou agora. Era praticamente uma colônia, pois era virado em parreirais e depois foi crescendo”, lembra.

Ela confessa que gostava da forma que era quando o bairro ainda era pequeno, mas entende que mudanças são inevitáveis. “Gostava porque era tudo tranquilo e quieto. Depois do surgimento das firmas o movimento aumentou. Fora que começaram a construir muitos prédios nos últimos 10 anos. Sempre tem um novo sendo erguido”, diz.

Elvide Campo relembra como era o bairro quando chegou, e salienta que é necessária uma escola infantil pública

Para Elvide, são necessárias mudanças que envolvem espaços educacionais e de lazer. “Falta uma creche municipal, principalmente para as mães que trabalham e precisam de um local para deixar os filhos, além de uma praça para as crianças brincarem e terem outras atividades que não seja ficar em casa ou no celular”, afirma.

Outro fator que lhe causa incômodo refere-se aos horários do transporte público que, segundo diz, diminuíram após a pandemia (da Covid-19) e, no final de semana, faltam horários. “Depois da pandemia diminuíram muitos os ônibus, sábado e domingo piora porque tem menos, e há muita gente que trabalha no final de semana, então é complicado”, declara.

As irmãs Talya Tiburki de 23 anos, e Livia Madsen, de 17, nasceram no bairro em que vivem. “É um lugar bem calmo, tranquilo, não tem barulho e é bem seguro em comparação com outros lugares. Uma vez assaltaram o carro da nossa mãe, mas foi um caso bem isolado, não é algo que costuma acontecer muito”, assegura Livia.

As irmãs Livia Madsen e Talya Tiburki entendem que são necessárias melhorias no fornecimento de energia e que é preciso ter espaços de lazer no bairro

Já Talya acha que o maior problema são os cortes no fornecimento de energia, que ocorrem com frequência. “Gostaríamos que a rede fosse mais segura. Depois dos temporais do ano passado ficamos dois dias sem luz, em casa. E se fosse só aquela vez, era admissível, mas pelo menos uma vez por mês ficamos sem. Além disso, a iluminação pública na nossa rua é bem ruim, muito escuro”, reclama ela. A falta de espaço de lazer também é uma realidade para ela, argumentando as crianças são as mais prejudicadas. “A praça mais perto fica no Botafogo. Temos sobrinhos e primos, e quando eles estão aqui, precisamos subir até o bairro vizinho para brincarem”, cita.
O que também é notado por ambas é o desenvolvimento da região, perceptível para quem sempre morou no Santa Rita. “Antigamente não tinha esses prédios, mas é bacana ver o local que crescemos estar maior e com mais pessoas optando por ele para viver”, comentam.

Comércio

O bairro não conta com diversos comércios, mas o essencial se encontra, como mercado, loja e oficina. Todos eles gostam de empreender no Santa Rita, e o motivo maior se dá pela cumplicidade dos moradores que dão valor para os comércios locais, fazendo com que sigam funcionando.

Bernardo Szidoski tem 27 anos e é administrador de uma mecânica. Há algum tempo mudaram para o Santa Rita. “Desde 2018 nossa oficina é aqui. Meu pai tinha outra no Botafogo, mas ele e o sócio acabaram dividindo a oficina e nos mudamos para cá. Procuramos muitos pavilhões em volta e achamos no Santa Rita um lugar muito bom, com bastante movimento, e acabamos nos instalando”, pontua.

Ele diz que não vê comércios variados que atendam ao público, e sim mais indústrias. “É um bairro que as empresas são históricas, já que começaram e sempre estiveram no Santa Rita. Além disso, é um lugar com bastante fábricas, isso é o que se nota trabalhando aqui”, informa.
Szidoski lembra que o ano passado foi bem difícil para o comércio, mas que tem boas expectativas para 2024. “Foi um ano complicado, até conversando com outros comerciantes, a sensação é que as pessoas não queriam gastar muito e isso acaba impactando no comércio. Mas não foi o pior, no final das contas acabou dando certo. E as expectativas para este ano são boas, estamos bem animados e acreditamos que será bem melhor que o último”, prevê.

Seus clientes são variados, mas há um padrão. Na maioria, vivem próximos, não necessariamente no mesmo bairro. “Dificilmente temos clientes do outro lado da cidade, muitos são de bairros próximos, como Santa Helena, Santo Antão, além do próprio Santa Rita”, declara.

Karen Trintinaglia é dona de uma loja localizada no bairro. “Fazem quase dois anos que comprei o ponto, mas a loja já existia há 30. Eu trabalhava aqui e surgiu a oportunidade de adquirir, e fechamos o negócio. Acredito também que a localização é boa, as pessoas já conhecem a loja”, considera.

Karen Trintinaglia comprou uma loja há dois anos e, até agora, está satisfeita com a ideia de ter um comercio no Santa Rita

Para ela, o local ainda não tem um comércio variado, mas acredita que haverá mudanças nisso. “É um bairro mais estagnado no sentido de comércio, pois são poucos os que estão aqui. Ao mesmo tempo acredito que no futuro isso vai mudar pois vemos muitas construções novas, e notamos que ele vem crescendo”, manifesta.

Karen destaca diversos pontos positivos do Santa Rita, motivos pelos quais mora lá e decidiu ter uma loja. “É um bairro muito bom, bem localizado, próximo de tudo, então por esse ponto de vista é ótimo. Moro há 26 anos aqui, e o que mais encanta é a calmaria e a tranquilidade dos vizinhos”, garante ela.

Bernardo Szidoski afirma que a maioria das empresas existentes são antigas e não atendem ao consumidor final

Fernando Sartori já é comerciante antigo, há 10 anos comprou um mercado que já existia no lugar. “O bairro é bom e tem uma vizinhança agradável. Fazia algum tempo que tinha essa ideia e decidi pôr em prática. Moro no Santa Rita e tive a oportunidade de ter meu empreendimento aqui, me tornando o único mercado do bairro”, destaca.

Trabalhando diariamente no estabelecimento, ele observa a dinâmica do local e, principalmente, o movimento. “Nosso bairro ainda não expandiu muito o comércio. É bem tranquilo e parado. O que surgiu recentemente foram empresas, mas lojas e estabelecimentos do gênero ainda não. Contudo, temos muitos clientes, principalmente moradores, pessoas de bairros próximos, trabalhadores de empresas e uma significativa presença de caminhoneiros, já que o movimento desse nicho é bastante expressivo no Santa Rita,” ressalta.