Eu fico impressionada como muda a proporção das coisas com o passar do tempo. Não sei se era porque eu olhava o Natal sob a perspectiva de uma criança ou se realmente o tempo faz tudo ficar diferente, mas essa data é uma entre as mais variadas que mudaram em minha vida após a idade adulta.
Uma das lembranças que me consomem quando penso em Natal era acordar às 4h, pegar a Freeway e ir pra Nova Tramandaí na casa de minha tia. Lá, aguardar ansiosamente, após o banho e jantar, para receber de presente a boneca tão esperada que o Papai Noel mandou entregar porque eu passei de ano e fui boa menina. O nome dela era Bruna, me lembro como se fosse hoje, acho até que ela era maior que eu.
Outra opção era irmos para a colônia, nos meus avós e tios, comer galo recheado, beber champanhe barato, ver o pinheiro feito de árvore de verdade com presentes de papel celofane. Rir, brincar, jogar bola, contar piada. Soltar fogos. Num lugar meio deserto, mas a família era grande e, então, a casa estava sempre cheia.
Eu passei muitos Natais assim. Viajando ou em casa, esperando na janela pra ver o Papai Noel da Coca Cola ou da Concresul passar no caminhão, jogando balas. Quando ficava na cidade, íamos dar uma volta na Avenida São Roque para ver as casas enfeitadas, ver as ruas do Centro e a São Paulo iluminadas, tornando o Natal mais festivo e esperançoso.
Vez ou outra, quando já trabalhando, tinha um amigo secreto, uma festa na piscina, uma janta repleta de amigos, bebendo e partilhando os momentos, agradecendo pelas festas que se iniciavam, podendo descansar dos dias pesados e em clima de férias.
Todos esperam os presentes, alguns rezam antes da Ceia, outros enfeitam as casas, mas a verdade é que, em todos os lares, o clima é natalino, de união. Ao redor da mesa, já que é sempre ela a responsável por unir os lares.
Nesse dia, não tem tempo ruim, nem gente mal humorada, qualquer lugar é especial, a roupa é pensada. As crianças esperam para abrir os presentes, enquanto os adultos preparam tudo. O perdão toma conta dos lares.
Hoje, mudaram um pouquinho o formato destas datas. Primeiro, porque minha tia trocou a casa de praia e aquela viagem de final de ano virou apenas memória, nostalgia. Segundo, porque a festa na colônia mudou a configuração. Vieram afilhadas, se foram os avós. A data continua animada, com a alegria das pequenas e os costumes ainda iguais. O galo, a árvore…
Aqui, na cidade, nunca mais vi o Papai Noel passar em nossas casas nos jogar balas; no máximo precisamos ir até o shopping encontrá-lo. As casas e ruas, cada vez com menos enfeites, os amigos secretos mais raros, porque pouco sobra do salário no fim do mês.
O maluco é que, embora os dias sejam subsequentes, a gente se arruma pra passar o Natal na sala movidos pela expectativa de que amanhã vai ser outro dia, renascendo em nós a esperança. E depois, o ano novo vai chegar e, com ele, mais desejos, metas e uma vontade louca de fazer diferente. E ano que vem teremos um dia a mais de oportunidades para fazer melhor e ir em busca de nossos sonhos, mesmo que não seja mais como uma vez.
Não vejo a hora de soar meia-noite, todo mundo se olhar, se abraçar e dizer: Feliz Natal! Podem abrir os presentes!