A historiadora e pós-doutoranda em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Marília Conforto, afirma que a sociedade brasileira assiste a uma generalização e crescimento exponencial da intolerância e do racismo. “Em todos os episódios em que isso se manifesta, é possível buscar as raízes na construção histórico-identitária”, analisa.
De acordo com ela, basta acompanhar o notíciário para perceber que a sociedade brasileira está ainda muito longe de ser definida como livre de preconceitos. “Isso também se manifesta em relação ao gênero e a sexualidade”, pontua. Especificamente sobre o racismo, na análise de Marília, a manifestação se dá, sobretudo, por meio do preconceito social, religioso, bem como da violência simbólica, verbal e física praticada contra os afrodescendentes.
Em termos de ações afirmativas, a historiadora diz que ainda há muito o que ser feito. “Aposto na educação não só formal, que requer acesso a instituições de ensino de qualidade em todos os níveis, mas também em um sentido mais amplo, pautada por valores morais e éticos”, afirma.
Ela comenta que a implementação de medidas que busquem corrigir erros históricos parte da luta, ao longo dos anos, do Movimento Negro, que se organiza com a sociedade civil e em instituições de ensino e pesquisa. “O Movimento busca participação no processo de conhecimento do passado histórico, no resgate da auto-estima da população afrodescendente e na luta e criação de assentamentos pós-abolição”, explica.
Além disso, Marília aponta porque Zumbi dos Palmares se tornou o mártir da luta contra a opressão racial. Ela explica que mesmo morto, Zumbi é tido como inimigo do Império Português e foi resgatado pela “nova história” para se tornar símbolo de luta e um dos pilares da construção da identidade negra no Brasil. “Ele é a representação de que os negros cativos não foram submissos ao processo de escravização”, coloca.
A consciência negra, de acordo com Marília, tem muito a ver com o significado do termo no dicionário, visto que consciência significa ciência, conhecimento. “Podemos dizer que o termo surge em resposta ao pseudocientificismo do conceito de raça, surgido no inicio do século XX”, demonstra.
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