Estragos causados pelo granizo da quarta-feira ainda serão avaliados pelos técnicos envolvidos com o cultivo agrícola na região
O último dia 15 de novembro, feriado da Proclamação da República, foi marcado por fortes chuvas de granizo em Bento Gonçalves e região, que assustaram os moradores. Os bairros mais afetados foram Centro, São Bento, Planalto, Cidade Alta, Fenavinho e Eucaliptos, além de ocorrências pontuais no interior da localidade.
Em Bento Gonçalves, até o momento, foi registrada uma casa com estragos causados pelo granizo. A rodoviária da cidade ficou inoperante durante o feriado, pois a área interna da estação foi prejudicada, com parte do forro cedendo. Outro espaço público afetado foi a sede da Defensoria Pública, que também teve o forro danificado, fazendo com que muita água entrasse no local e impedisse o trabalho dos servidores.
Agricultura
O granizo são pedras de gelo que se formam nas cumulonimbus, nuvens de grande extensão vertical. São conhecidas pelos meteorologistas como “nuvens frias”, já que uma porção delas tem temperatura abaixo de zero grau, o que permite a formação das pedras de gelo.
Segundo o chefe do escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Thompson Didoné, em casos de chuva de granizo e outras intercorrências climáticas, é de praxe esperar pelo menos três dias para começar a mensurar os estragos efetivamente. “A partir da próxima semana já teremos dados mais concretos. Ainda é cedo para falar de estragos, quantidade e qualidade da produção”, afirma.
A alta taxa de precipitação que a região vem tendo nos últimos meses é um fator preocupante para os produtores agrícolas.
Fabiane Casagrande, responsável pela corretora de seguros C&P Consultoria, considera indispensável a contratação de um seguro para que se tenha ao menos um amparo financeiro em casos de prejuízos causados por intempéries. Ela comenta que, apesar do granizo ter atingido uma grande área, não foram registrados grandes prejuízos. “Em relação aos produtores de uvas que atendemos, em nossa seguradora foram em torno de 40 avisos de granizo, mas ainda não temos estimativa de perda em percentual”, salienta.
De acordo com Cedenir Postal, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares (STR), a queda de granizo em Monte Belo do Sul afetou as propriedades de uva, mas ainda não se sabe a quantidade exata. “O que é mais alarmante é o excesso de chuva. São praticamente três meses chovendo acima da média. As frutas não se desenvolvem bem porque há pouca luminosidade, além das doenças fúngicas”, pontua. Para ele, ainda há esperanças de uma boa safra. “Não temos como dominar o clima, mas fazemos o possível para proteger nossas plantações e manter a qualidade da produção”, reflete o representante rural.
Na Cooperativa Vinícola Aurora, o gerente agrícola Maurício Bonafé, diz que as chuvas afetam o desenvolvimento normal da videira. Dias muito chuvosos ou nublados travam o metabolismo da planta, principalmente no que diz respeito a seu crescimento e desenvolvimento. “Em contrapartida, durante o período de desenvolvimento, tivemos dias estáveis que permitiram que o produtor fizesse o manejo fitossanitário necessário. Com isso, até o momento, tivemos perdas pontuais, mas ainda não contabilizamos o volume de uva para esta próxima safra”, ressalta.
O profissional informa que não há muitas maneiras de se prevenir dos estragos nas plantações nessas situações. No caso do granizo, apenas com telas de proteção antigranizo. Já no caso das chuvas, a cooperativa se baseia na previsão climática para o ano. “Fazemos um alinhamento com a equipe técnica que atende o associado para adotar o melhor manejo, desde análise de solo, onde se recomenda o melhor fertilizante perante a condição climática, orientação na poda, desfolha e demais trabalhos para manter a sanidade da planta e consequentemente a qualidade da uva. Essas iniciativas são fundamentais para minimizar possíveis danos causados pelo excesso de chuva”, esclarece.
Apesar da proximidade da safra, Bonafé afirma que ainda é cedo para mensurar o volume e a qualidade da matéria-prima que será colhida, tendo em vista que há, pelo menos, 45 dias até o início da próxima vindima. “Até o momento, estamos nos encaminhando para uma safra com volume igual ou pouco inferior à de 2023, em que colhemos 70,5 milhões de quilos de uva. A previsão é que um pequeno volume das variedades Magna, Chardonnay e Pinot Noir seja colhido na última semana de dezembro. O ápice da safra, dentre os cooperados da Aurora, deve ocorrer na primeira quinzena de fevereiro”, completa.
Em Pinto Bandeira, município vizinho a Bento Gonçalves e Monte Belo do Sul, conhecido também pela produção de pêssego de mesa, não foram registrados prejuízos decorrentes dessa queda de granizo até o fechamento desta matéria.