Já dizia o dicionário que democracia é um regime de governo em que todas as importantes decisões políticas estão com o povo, que elegem seus representantes por meio do voto. A participação popular nas decisões que serão tomadas é de fundamental importância para que o regime seja praticado corretamente. Por conta disso, os alunos e professores da Escola Municipal Alfredo Aveline foram às ruas da cidade na quinta-feira, 10 de novembro, protestar pelo cancelamento das aulas no turno da noite.
Os gritos de ordem eram perceptíveis e a exigência somente uma: entender o motivo do corte de turmas noturnas. A Secretaria de Educação garantiu que os gastos eram elevados e que os jovens seriam remanejados, mas a insatisfação dos alunos que foram às ruas era clara. “Eu estudo à noite, trabalho durante todo o dia. Me garantiram que eu poderia ir para o Mestre (Escola Estadual Mestre Santa Bárbara), mas se eu escolhi o Aveline é porque o ensino deles é muito melhor. Além disso, aos que não trabalham eles asseguraram que poderíamos ir para de manhã, mas todo mundo já sabe que a ideia é tirar o ensino médio das escolas municipais”, relata uma aluna que não quis ser identificada.
Outra jovem de 17 anos e que estuda à noite salientou que os estudantes só querem compreender o motivo de tirar as aulas do turno da noite, sendo que os gastos com o noturno seriam os mesmos que com o diurno. “As turmas da manhã já estão com o cronograma pronto, isso significa que estão fechadas. Eles vão então elevar a capacidade máxima?”, questiona.
A secretária de educação, Ieda Luchese Gava defende que foi necessário analisar prós e contras durante meses e que foram feitos cálculos e reuniões até que a atitude fosse tomada. “O custo mensal da manutenção do noturno ao município é de R$ 43.498,95, sem contar encargos patronais, férias, 13º salário, água, luz e telefone, por exemplo. Dividindo-se este valor pelo número atual de alunos, cada estudante da noite custa ao município R$ 1.115,35. Multiplicando-se o valor mensal por 12, são R$ 521.987,40”, explica Ieda salientando ainda que a previsão de alunos para o noturno em 2017 está em 12 no 2º ano e oito no 3º, o que deverá aumentar ainda mais o custo por aluno.
“Não os deixaríamos sem amparo e entendemos a situação”
Na manhã de sexta-feira, 11, os alunos voltaram a protestar. Desta vez, a manifestação aconteceu no pátio da escola. Com cartazes, eles se sentaram e formam um grande grupo para debater com a diretora Neusa Maria Garbin sobre a mudança que afetaria muitos jovens.
Neusa não se negou a conversar com os estudantes e garantiu que não os deixariam sem amparo e que uma solução já havia sido comunicada a eles. “Em alto e bom tom falei pra eles: vocês não ficaram sem aulas e nem os professores serão demitidos. A mudança vai acontecer, mas sem prejudicar ninguém”, garantiu.
Uma aluna questionou a diretora sobre ter ido até a escola na época de matrículas, mas que nunca havia vagas para ela. “Eu cheguei dizendo que eu trabalhava durante o dia e que não poderia estudar no turno da manhã e nem no da tarde, mas mesmo assim eles não me aceitaram à noite”, assegura a jovem. Já a diretora defende que não se lembra desse caso e que precisará investigar o que realmente aconteceu. “Não posso afirmar que me lembro dessa situação, e também não tem como dizer que houve falha de alguém”, expõe Neusa.
A diretora garante ainda que muitos pais que estão engajados na situação e que não possuem filhos no ensino noturno estão fazendo por manobra política. “São questões políticas e partidárias. Além disso, há outros professores que estão incentivando os alunos a continuar, até por que logo mais teremos novas eleições de diretor, isso tudo influencia”, declara.
Quando a primeira reunião de decisão sobre o possível fechamento das aulas no turno da noite aconteceu, duas alunas que fazem parte do Conselho de Pais e Mestres (CPM) garantiram que não foram avisadas do teor do encontro e nem sobre o que seria debatido. “Nem a direção e nem a secretaria nos notificou a importância e nem que haveria uma decisão desse tipo na reunião. Essa é uma decisão muito complexa que precisa ser debatida e conversada com todos”, diz a jovem que não quis revelar o nome.
Durante o movimento que aconteceu na manhã de sexta-feira, diversas professoras se manifestaram contra o cancelamento das aulas noturnas e pediram o apoio da diretora Neusa na causa. “Eu cresci quando o movimento estudantil estava em voga, eu apoio muito vocês e venho aqui pedir, na verdade apelar, para a diretora entrar conosco nessa. Tu és educadora como nós, essa escola representa muito para Bento e para a comunidade. Então vou te abraçar e pedir para vim para a luta conosco” falou uma professora.
Outra educadora garante que talvez muitos alunos não saibam o que realmente estava acontecendo na escola, mas que irão aprender o que é democracia vendo os outros lutarem por um diretor de todos. “Eu trabalho no Estado e sei que, muitas vezes, a Coordenadoria Regional de Educação (CRE) ligou para o Aveline pedindo vaga e não foram dadas. Além disso, acho um retrocesso tiraram o ensino médio do noturno. É voltar, ao invés de ir para frente”, gritou a professora para os alunos.
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