Em Bento, localidade mais afetada foi a Linha Alcântara. Cidades como Santa Tereza, Muçum Encantado, Roca Sales e arredores amanheceram debaixo d’água
A chuva intensa registrada nos últimos dias causou transtornos, estragos e deixou famílias desalojadas em diversos municípios da região e em muitos locais do Estado. Em Bento Gonçalves, além de alguns incidentes em bairros, a localidade mais afetada foi a Linha Alcântara. Além disso, cidades como Santa Tereza, Muçum, Encantado e Roca Sales também estão entre as atingidas pelas cheias dos rios.
Em Bento, o nível da água começou a subir rapidamente no início da tarde de segunda, dia 4, deixando estradas, casas e galpões debaixo d’água na Linha Alcântara, onde praticamente toda a comunidade foi atingida. Conforme dados preliminares da Defesa Civil, mais de 40 casas foram levadas pela força das águas e o número de residências atingidas é ainda maior.
Desde os primeiros registros, a Prefeitura realizou uma força tarefa com as equipes das secretarias para auxiliar as famílias mais próximas da encosta na retirada de móveis, levados para o Ginásio da Comunidade.
Um morador foi encaminhado para a Casa de Passagem, cerca de 20 famílias se deslocaram para a casa de familiares e três famílias dormiram no Ginásio da Comunidade. Na terça-feira, as equipes continuaram com a limpeza das casas e desobstrução de vias.
Em Tuiuty também foi realizado o trabalho para desobstrução de vias e atendimento às famílias no Passo Velho, Linha Buratti, São João Nepomuceno, Pedra Lisa e outros. A Prefeitura de Bento Gonçalves realizou o levantamento de dados e decretou Situação de Emergência devido à cheia do Rio das Antas.
Em Santa Tereza, momento é de tristeza, mas também de união
Na pequena cidade rodeada pelo Rio Taquari, cerca de 250 famílias ficaram desalojadas, somente na zona urbana, sem contar com as comunidades do entorno. A Linha José Júlio, no interior, que tinha sido atingida pelo granizo, também foi a mais afetada por conta da enchente. Em vídeo publicado nas redes sociais, a prefeita, Gisele Caumo, enfatizou que o cenário era de tristeza. “Muitas casas levadas embora pelas forças das águas, muitas famílias hoje sem ter aonde voltar, mas nós estamos aqui, seguimos trabalhando. Como prefeita, venho agradecer a todos que estão se solidarizando com o município, mas neste momento peço, de coração, que só venham para cá os familiares e pessoas que tem contato com nossa gente para ajudar. O momento é de tristeza e de muito trabalho”, realça.
A elevação da água, de forma rápida, foi o que mais assustou Cléber Somensi, que teve a casa atingida e perdeu o que tinha. “Era em torno do meio-dia quando começou a subir muito o rio. Na minha casa, nunca havia chegado a água no segundo piso, mas desta vez, chegou. Assim sendo, tirei todas as coisas e levei até a casa do meu sogro, que é na parte mais alta, mas perdemos tudo da mesma forma, porque a água também chegou até lá. Várias pessoas perderam muitas coisas, teve gente que perdeu a casa inteira, está complicado”, lastima.
Quanto à plantações, ele afirma que não foram atingidas, mas lamenta pelos agricultores que perderam tudo. “As parreiras sobreviveram, mas porque são longe, ficam a 7km daqui. As pessoas que tinham parreirais perto do rio, na Linha José Júlio, perderam tudo. Desceu casa, plantação, igreja, tudo”, enfatiza.
Celmar Mardh analisa que esta foi a maior enchente já presenciada. “O rio subia de três a quatro metros por hora, foi tudo muito rápido. Tivemos três enchentes mas, como essa aqui, nunca vimos. Metade do município se foi, não se recupera mais. Minha sobrinha perdeu a casa inteira, tem só a roupa do corpo. Precisamos de tudo, porque quem perdeu, não sobraram nem os pratos. Antigamente a água subia, tínhamos que limpar tudo, mas nunca as casas foram levadas”, revela.
Já a residência de Daniel Boaro, não foi atingida. Entretanto, o espaço onde trabalha, sim. “Na minha casa não pegou, mas na loja de materiais e de móveis onde atuo, sim. Começamos a evacuar as coisas ao meio-dia e em torno das 17h o espaço já estava submerso. Se tratando dos materiais, perdemos muitas coisas, mas a estrutura ficou. Já os móveis ainda não sabemos”, enfatiza. E faz um pedido. “Os moradores no momento precisam de água, comida e roupa, porque o pessoal perdeu tudo, então, toda ajuda é bem-vinda”, pede Boaro.
O morador da Linha Ancântara, Aldo Bordion, afirma que, em cinco décadas, esta foi a primeira vez que algo assim ocorre. “Conseguimos recuperar um colchão e uma geladeira, o resto estava dentro da casa que foi levada, nunca tinha chegado água nela. Moro há mais de 50 anos aqui e o rio nunca tinha subido desse jeito. Às 13h30min de segunda a água já estava bem próxima da casa. Lá pelas 22h, a residência já tinha sido levada, ela e todas as outras”, lamenta.
Como ajudar?
A mobilização para auxiliar as pessoas atingidas pela enchente ocorre em diversos municípios da região.
Em Bento, foi iniciada uma campanha de arrecadação para as famílias, onde podem ser doados: móveis, camas, colchões, produtos de limpeza, roupas de cama, ração para os animais, além de alimentos. Os pontos de coleta são na sede do Corpo de Bombeiros, na Avenida Osvaldo Aranha, e na Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social, no Complexo Administrativo, na rua 10 de novembro, 190, Cidade Alta. Para mais informações e recolhimento de doações entre em contato pelos números (54) 3055-7337.
O Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) está colocando em movimento uma campanha para arrecadação de doações financeiras para auxiliar às vítimas da enchente. Além disso, está mobilizando seus parceiros para ações de solidariedade. A SAIF, por exemplo, já sinalizou a doação de produtos de limpeza para serem repassados aos necessitados em Bento Gonçalves e municípios vizinhos. Doações podem ser encaminhadas pela chave pix: financeiro@cicbg.com.br para o CIC-BG. Os valores arrecadados serão utilizados para adquirir itens necessários para atender às famílias.
Em nota, a prefeitura de Santa Tereza divulgou que está sendo solicitada a doação, neste momento, dos seguintes itens: material de limpeza, água e alimentos. Mais informações pelo telefone (54) 99681-2731.
Reportagem feita por:
Cleunice Pellenz
Renata Carvalho