Principal fundamento da reivindicação é o transporte agrícola, principalmente da uva. E também, o mal-estar de viver em um cenário belíssimo com dois rios poluídos

A Linha Buratti conta com uma visão montanhosa resultando em belas paisagens. Além disso, dois importantes rios banham a região, como o próprio Rio Buratti e o das Antas. Fora que a localidade é conhecida pela grande quantidade de uvas, que pode chegar a cinco milhões de quilos. Por isso, a comunidade gostaria que o Poder Público olhasse para a linha e escutasse as reivindicações da população.

“Viver na colônia é mais econômico”

anos, na Linha Buratti. Nascida em Pinto Bandeira, foi morar na localidade após se casar. O que ela mais gosta da região é a calmaria e o ar fresco. Ana e o marido tem a própria horta, onde plantam vagem, ervilha, temperos e outros itens essenciais para a alimentação. “Tudo o que plantamos é para a gente, meu marido até fazia feira, mas após adoecer ele parou. Mas tenho vizinhos que trabalham com plantações, como aipim, feijão, alface e verduras e vendem na cidade”, conta.

Ana Rizzardo mora no interior há 50 anos, e diz que gosta de lá pelo sossego e ar puro

Apesar do número da juventude na comunidade ter diminuído e ela notado que eles não têm permanecido no campo, muitos acabam voltando após verem os gastos que existem na cidade. “Tem alguns jovens que voltam para a colônia. Tudo o que se come na cidade, precisa comprar. Aqui tem batata, feijão, temperos, tem os bichinhos, então é muito mais econômico”, salienta.

Assim como Ana, Luciana Tonello foi morar na Linha após se casar, e concorda que viver na colônia e fabricar os próprios produtos, acaba saindo mais barato. “Nós temos parreira e um pouco de gado, animais de corte. Se vemos que estamos ficando sem carne, já abatemos um. É uma grande economia, a carne é muito cara para se comprar, tendo a própria já ajuda muito”, nota.

“Há 40 anos se reivindica o asfalto”

A Linha Buratti é muito conhecida pelas belas paisagens e a proximidade ao Rio das Antas. Com o solo acidentado há a dificuldades no trabalho da agricultura, entretanto, os vitivinicultores da região são capazes de produzir, por ano, cinco milhões de quilos da fruta. O problema é que para descer toda essa quantia de uva , se faz através das estradas de chão batido, que há anos, os moradores pedem para asfaltar.

Ana escuta a promessa há anos, mas tinha estimativa de que a linha já estivesse em andamento em relação ao asfalto. “Disseram que iriam iniciar este ano, mas agora acho que só no que vem. Faz dois anos que prometeram, como estamos na divisa entre Pinto Bandeira e Bento Gonçalves, ambos municípios são responsáveis por ele. Pinto Bandeira já começou a alargar as ruas, mas Bento ainda não fez nada”, explica.
Luciana é esposa de Augusto Tonello, que é viticultor. Ambos se entristecem em ver a Linha sem a pavimentação asfáltica e acreditam que pela quantidade de impostos que o município recebe pela produção de uvas, deveriam se preocupar com a questão. “É uma comunidade muito boa, mas esquecida. Se passa por diversos interiores e se vê asfalto por tudo, e aqui é uma localidade bonita, com um fluxo alto de pessoas que passa por aqui, poderiam investir até de forma turística. As estradas são estreitas e quanto mais se aproxima do Rio das Antas, pior fica”, revela Luciana.


Valdecir Bellé é uma das lideranças da localidade. Ele e seu irmão reivindicam pelo local, já que cresceram e vivem no Buratti desde a infância. “Faz anos que pedimos pela pavimentação asfáltica, esta é uma briga antiga que meu falecido pai já enfrentava há 40 anos. Tem processo de licitação, estamos brigando e está melhorando, mas precisamos ver o resultado. A gente é pouco valorizado aqui, nesse vale sobe de 5 a 6 milhões de quilos de uva para a cidade. Não tem condição utilizarmos esta estrada que nunca recebeu melhorias”, destaca.

Jovens migram para a cidade

Os jovens não permanecerem no campo é uma situação que preocupa diversos agricultores pelo estado. O trabalho rural, atualmente, está sendo feito pelos netos de muitos que começaram a plantar, entretanto, os filhos deles não parecem querer este futuro. Ana notou que muitos filhos de vizinhos estão preferindo migrar para a cidade. “Tem poucos jovens, eles não querem saber de roça. Não sei como vai ser o futuro daqui, provavelmente loteamentos com casinhas para as pessoas passarem o final de semana”, realça.

Augusto Tonello segue os caminhos do pai, mas confessa estar preocupado em como será a colheita deste ano, após tantas mudanças na lei


Esta não é uma realidade apenas que Ana enxerga, mas Augusto Tonello também vem notando. Ele aponta que alguns jovens até permanecem, mas dá para contar nos dedos. “Tem sido difícil a juventude permanecer, minhas três filhas estão na cidade, estudando e trabalhando. Os filhos dos vizinhos também, são poucos que se vê. Mas é a falta de incentivo, ainda mais com essas novas modificações das regas da colheita, está muito complicado. Todos nós agricultores estamos bem preocupados”, alega.


Valdir Bellé é irmão de Valdecir. Ambos nasceram em Bento, mas ainda muito novos, foram morar na Linha com o pai que decidiu voltar a viver no interior. Desde então, os dois trabalham com parreiras. Sendo vitivinicultores da região, demonstram-se preocupados com o futuro. “Está difícil os jovens ficarem, tenho dois filhos e estão na cidade, querem nem saber. Acredito que seja a dificuldade do trabalho aqui, na cidade tem hora, no campo não. Enquanto estamos nós, está tranquilo, mas quando chegar nas próximas gerações, vai virar tudo loteamento”, lamenta.

O irmão, Valdecir Bellé, compartilha do mesmo pensamento, e também acredita que falte incentivo. A pouca juventude que se vê, não conseguirá dar conta das terras da localidade. “Tem sido uma dificuldade a ser enfrentada, porque os jovens não querem permanecer. Nossa região é muito acidentada, então o trabalho é o dobro. Quem sabe quando houver o asfalto e o acesso melhore, pois é perto da cidade, o que complica é a estrada”, sugere.

O Rio Buratti e a poluição

Os moradores, em relação a água, vivem em uma região bastante privilegiada. O local é banhado por dois rios importantes, o mais próximo que é o Rio Buratti e o das Antas que fica depois. Entretanto, há algum tempo os residentes vêm notando que tem algo de errado com a água. Muitos trazem preocupações em relação a sua cor e a mortandade de peixes. Tonello é um destes moradores. “O rio está todo poluído, é um crime. Esses dias fui olhar e vinha uma água preta para baixo, como ficam os peixes e o animais que tomam a água dele? Acredito que seja uma empresa que esteja jogando essas substancias. Quando veem que o tempo está nublado para chuva, eles jogam, porque sempre antes de chover começa a descer essa sujeira preta. E essa poluição vai começar a afetar o Rio das Antas também”, lamenta.

Sua esposa, Luciana, conta que os vizinhos estão começando a se mobilizar para entender o que está ocorrendo. “Antes de começar a chover, desce um lodo do rio. Está muito poluído. É uma água preta e cheia de espuma. Alguém está largando algo ali, é resíduo de alguma empresa. Esses dias um vizinho nosso coletou e vai mandar para um laboratório, porque queremos saber com o que estão sujando nossos rios”, cobra.

Belezas Naturais

Valdir e Valdecir Bellé homenagearam o pai, após seu falecimento, construindo um mirante com seu nome

O cenário que se encontra na Linha Buratti é uma combinação das montanhas e do rio, que juntos, transformam-se em pequenas cachoeiras e, também, na possibilidade de ver toda a vista pela diferença de altura. Por conta disso, os irmãos Bellé decidiram unir duas coisas: a saudade dos pais e a beleza do espaço. Geraldo e Aurora Bellé eram grandes lideranças da comunidade, e ambos eram queridos por muitos da população, mas, principalmente, por seus filhos. Por conta disso, cada um recebeu uma homenagem diferente, numa tentativa de sempre manter viva a imagem dos dois.


A mãe recebeu uma gruta, com uma santinha no fundo, e na frente o nome do local ‘Gruta da Aurora’. Nela é possível ver a água escorrendo pelas pedras montanhosas. Já o pai, ganhou um mirante, onde é possível enxergar todo a extensão da linha. Ele é feito de madeira, ganhou alguns símbolos que remetem a Bellé, como os instrumentos de trabalho e o garrafão de vinho. Ambos os locais são gratuitos, e qualquer um que quiser visitar, pode ir conhecer um pouco destas belezas naturais.