Em breve, município terá um local que contará com uma equipe multidisciplinar, voltado para o acolhimento de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e familiares
Recentemente, Bento Gonçalves foi contemplada com o programa estadual TEAcolhe e logo terá um Centro de Atendimento em Saúde- CAS voltado para o acolhimento de pessoas com diagnóstico de autismo. Inicialmente os atendimentos ocorreriam junto ao Centro de Referência Materno Infantil- CRMI, porém, surgiu a necessidade de um espaço único, que será inaugurado em breve no bairro São Bento.
O objetivo da implantação destes novos centros é ampliar a oferta de atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e suas famílias através da avaliação e acompanhamento por equipe multidisciplinar. O acesso ao atendimento será por meio das Unidades Básicas de Saúde da Atenção Primária (APS) e dos CAPS do município, que farão o encaminhamento via GERCON.
De acordo com a assistente social, Anaquel Pereira, as crianças, adolescentes e adultos com autismo vão ter um novo local de atendimento. Nas últimas semanas, finalizaram toda a reforma necessária no endereço escolhido. “Da parte do município, já está finalizado. Aguardamos o grupo técnico da Secretaria do Estado do programa TEAacolhe para nos dar as diretrizes e as orientações para poder iniciar. A data de início ainda não temos, porque depende da esfera estadual, nos dando aval, começamos os atendimentos”, destaca.
Anaquel ressalta que o principal objetivo do espaço é fazer o atendimento em saúde de pessoas com autismo de todas as faixas etárias, em todos os graus de suporte, como leve, moderado e grave. “Os atendimentos realizados serão, terapia ocupacional, psicologia, médico, enfermagem, entre outros que poderão compor a equipe multidisciplinar para fazer o melhor tratamento possível, em todas as questões de autismo”, revela.
Além disso, a relação do CAS TEAcolhe com o Capsi Girassol é algo importante de ressaltar. “Na verdade, ele é um braço do CAPSi, que até então é o serviço de referência para atendimento de crianças e adolescentes com autismo, como a demanda vem crescendo exponencialmente, principalmente de crianças com autismo vindas de outros municípios e até de outros estados, percebemos que no CAPSi não conseguiríamos dar conta de fazer o atendimento necessário. Porque, além de autismo, atendemos outras demandas de saúde mental para criança e adolescente do município”, explica.
Segundo ela, o local é necessário, porque além da demanda, há dificuldade de compreensão do diagnóstico. “Hoje em dia parece que tudo é autismo, e após uma avaliação adequada descobre-se que não é, por isso a necessidade de uma avaliação realmente comprometida, séria e profissional”, afirma.
Com o espaço e equipe se tornando insuficientes, as profissionais envolvidas, com anuência do secretário da saúde, enviaram a proposta para a implantação do Centro de Atendimento de Saúde do programa TEAacolhe no município de Bento Gonçalves. O CAS atenderá a região 25, composta por 22 municípios: Bento Gonçalves, Pinto Bandeira, Veranópolis, Garibaldi, Carlos Barbosa, Monte Belo do Sul, Santa Tereza, Nova Prata, Fagundes Varela, Vila Flores, São Jorge, Paraí, Guabiju, Nova Araçá, Protásio Alves, Boa Vista do Sul, Cotiporã, Vista Alegre do Prata, Nova Bassano, União da Serra, Coronel Pilar e Guaporé”, lista.
A assistente social conta como será organizado o fluxo no novo local de atendimento. “Hoje, estamos atendendo no CAPSi, todas as crianças e adolescentes com autismo, continuaremos realizando a avaliação e todas as suspeitas seguem vindo para cá. Após avaliação da equipe as crianças e adolescentes que tiverem diagnóstico de autismo serão encaminhadas para o CAS TEAcolhe. Para os adulto com autismo da mesma forma, as que chegam com diagnóstico de autismo serão encaminhadas para o atendimento no CAS. As que tiverem outros diagnósticos, serão atendidas no CAPSII ou nas unidades de saúde”, salienta.
Equipe com olhar diferenciado
Conforme a terapeuta ocupacional, Juliana Calabria, em um mesmo ambiente estarão reunidos profissionais especialistas em autismo. “Toda equipe vai ter o mesmo olhar. Então, além de facilitar o diagnóstico para aquelas famílias que ainda não sabem muito bem, vamos poder dizer se é ou não. Vamos poder olhar para a pessoa e ver qual é a necessidade naquele momento, se precisa de um atendimento em grupo ou de forma individual, mais focado na autonomia, para as questões da vida diária”, pondera.
Ela ressalta que a intenção é auxiliar logo nos primeiros anos de vida. “É realmente iniciar no comecinho mesmo, e poder já ir montando o plano de tratamento para quando chegarem em uma idade mais avançada, terem maior qualidade de vida, mais autonomia e poderem estar integradas na sociedade como todo mundo está”, considera.
Apesar de ser um espaço de acolhimento pensado e voltado especialmente para as pessoas autistas, a intenção é preparar um lugar que possa ser frequentado por toda a família. “Enquanto a criança está aqui fazendo atendimentos com a Terapeuta Ocupacional, com a psicóloga ou veio para um atendimento médico, outros profissionais podem estar orientando esses pais, sobre como manejar em casa ou até mesmo como lidar com questões da escola. Queremos poder trazer esses familiares mais próximos do serviço e dar orientações de pais enquanto pessoa, não pai de autista, mas de ser humano que está ali e que também tem suas angústias, suas frustrações e como lidar com tudo isso”, enfatiza Juliana.
Ela diz que esse processo é importante, principalmente para que a pessoa diagnosticada com autismo possa continuar desenvolvendo as atividades em casa. “A ideia é fazer um atendimento em conjunto, ensinar esses pais a lidar com essas angústias, que às vezes são simples. Em muitos casos, é só seguir uma orientação, mudar alguma coisa em uma dinâmica familiar e poder ter essa criança mais globalmente organizada”, realça.
Cordão girassol
No mês de julho, o governo federal oficializou o uso da fita com desenhos de girassóis como símbolo de identificação das pessoas com deficiências ocultas ou não aparentes – isto é, aquelas que podem não ser percebidas logo de cara, como surdez, autismo, entre outras. O objetivo é ajudar o dia a dia dessas pessoas a fim de garantir o suporte e respeito aos direitos de que necessitam, como atendimento prioritário ou em situações de emergência. “Vai auxiliar nas prioridades de atendimento, até na forma como a sociedade em geral vai receber essas pessoas. Porque elas são mais propícias a ter crises, a se desorganizar, e com a sinalização, por meio do cordão, os que estão ao redor vão acolhê-las de forma diferente”, conclui.