Campanha com programação especial já está acontecendo em Bento Gonçalves. Patrícia Da Rold e delegada Deise Salton Brancher explicam sobre todo o trabalho realizado no município
O oitavo mês do ano é dedicado à conscientização pelo fim da violência contra a mulher através da campanha Agosto Lilás. A campanha, criada em referência à Lei Maria da Penha, que no último dia 7 completou 17 anos, surgiu para amparar mulheres vítimas de vários tipos de violência como física, sexual, psicológica, moral e patrimonial. Para a apoiar a causa, a Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social (SEDES) por meio da Coordenadoria da Mulher e Centro Revivi, iniciou uma programação na última semana, em Bento Gonçalves.
De acordo com a coordenadora do Centro Revivi e da Coordenadoria da Mulher, Patrícia Da Rold, as atividades foram construídas pensando em todas as mulheres, sejam idosas, adultas ou jovens. “Temos um projeto chamado ‘Informação é Prevenção’ onde nós entendemos que é muito importante levar e falar sobre o assunto. Nesse sentido, nós faremos em bairros, em empresas, em escolas, igrejas, onde podemos falar sobre a rede de proteção estruturada que temos no município de amparo, de auxílio para as mulheres vítimas de violência”, ressalta.
Patrícia pontua que a rede de proteção à mulher é composta pelas forças de segurança, onde se faz uma ação que visa o bem-estar das envolvidas. “Nosso trabalho também é focado para mostrar para todos os públicos que é possível justamente para que podermos chegar em mais lugares e maior número de mulheres. Da mesma forma, as informações são direcionadas para os homens, pois percebemos em várias palestras o quanto eles têm dúvida sobre a Lei Maria da Penha e sobre os tipos de violência”, frisa.
Ainda, no Centro de Referência da Mulher REVIVI é realizado o acolhimento, orientação e acompanhamento psicossocial das mulheres vítimas de violência doméstica e social. “Além disso, realiza campanhas e ações de prevenção junto à comunidade, como o projeto ‘Informação é Prevenção’, que leva para a comunidade escolar, indústria, comércio, serviços e Igrejas, palestras sobre a Rede de Proteção à Mulher. Fazendo com que as mulheres saibam que existe uma rede de proteção estruturada no município, se sentindo mais encorajadas e seguras para denunciar”, destaca. E a repercussão das conversas coletivas é imediata. “Por várias vezes na semana em que foi realizada uma palestra, chegam ocorrências policiais de vítimas que relataram ter se encorajado depois de saber da existência da rede através do encontro”, conclui.
Programação da Prefeitura
11/08 – 9h às 16h – Ação na Via Del Vino
14/08 – 14h às 16h – Caravana da Mulher no bairro Municipal
16/08 – 18h30min – Palestra na OAB
20/08 – 16h às 18h – Ação na Planalto
21/08 – 14h às 16h – Caravana da Mulher no bairro Cohab
22/08 – 9h30min e 13h30min – Palestra na SCFV Toquinha da Amizade
24/08 – 14h às 16h – Evento Servidores Públicos
28/08 – 14h às 16h – Caravana da Mulher no bairro Eucaliptos
29/08 – 13h – Encontro do Comitê Intermunicipal em Eldorado do Sul
DEAM
As DEAMs (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) são unidades especializadas da Polícia Civil, que realizam ações de prevenção, proteção e investigação dos crimes de violência doméstica e violência sexual contra as mulheres, entre outros. Em Bento Gonçalves, o espaço localizado na rua Marechal Floriano, 142, no Centro do município, atende diversos casos envolvendo delitos deste tipo.
A delegada titular da Deam, Deise Salton Brancher, destaca que uma delegacia de polícia é sempre um órgão de repressão. “Nosso trabalho é investigar os crimes que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher e também contra crianças e adolescentes. Mas, justamente por tratarmos de delitos que envolvem grupos vulneráveis, nós também temos toda uma atividade preventiva, um diferencial no acolhimento dessas pessoas para que elas se sintam confortáveis no momento de fazer a denúncia”, garante.
Segundo com a delegada, atualmente qualquer cidadão pode denunciar qualquer tipo de violência contra mulheres, crianças e idosos. ‘É extremamente importante a gente desmistificar a história daquele ditado popular de que em briga de marido e mulher não se mete a colher, pelo contrário, toda vez que uma pessoa estiver sendo violada em seus direitos e em suas liberdades, outro cidadão que está percebendo esta situação, tem a obrigação de agir e comunicar as autoridades o que está acontecendo”, afirma.
Atualmente, muitos registros são feitos diretamente pelas vítimas que vão até a delegacia. “Fazem a comunicação e já pedem as medidas protetivas de urgência. Mas também recebemos as comunicações via disque 100, via rede”, informa. Além disso, ela destaca a existência do Centro Revivi. “Há muitos anos atua com muita força, oferecendo bastante instrumentos para as mulheres saírem do ciclo de violência. Nós também recebemos as denúncias dos hospitais. É extremamente importante quando se tem uma rede engajada e voltada para a proteção delas”, completa.
Qual a realidade em Bento?
Em 2022, a Delegacia da Mulher recebeu 1.800 ocorrências. Neste ano, até o mês de julho, a quantidade de denúncias já chegou a 1.050. “O que esse número me diz? Que provavelmente nós chegaremos ao final do ano ultrapassando o número do ano passado. Mas, por outro lado, sempre digo que um número alto de ocorrências não significa que a violência aumentou, demonstra que mais pessoas tiveram coragem de denunciar”, realça Deise. E ressalta que há um lado positivo destes dados. “Revela o real enfrentamento da violência. Pois toda pessoa que não comunica o fato à autoridade policial, esse número fica na subnotificação. Fica uma cifra oculta e é uma pessoa que não entrou, eu costumo dizer assim, no nosso guarda-chuva. Ela não entrou no leque de proteção do estado”, nota.
No município, o tipo de violência que mais predomina e que é mais identificada por meio das ocorrências que são registradas é envolvendo lesões corporais. “Mas também temos ameaças, vias de fato, violência psicológica, entre outros. É preciso que as pessoas compreendam que quando o casal chegou ao ponto de trocar agressões ou do marido agredir sua companheira, que antes disso já ocorreu muita violência. Em especial a psicológica e a verbal”, diz.
Portanto, o número de ocasiões e tipos de agressão é diversificado. “Nós temos todos os tipos penais, inclusive crimes sexuais. Há o mito de que entre o casal a relação sexual poderá se dar da forma que o companheiro desejar. Isso não é verdade. Toda relação, todo ato sexual praticado contra outra pessoa, sem que haja o consentimento dessa outra pessoa, pode caracterizar um crime de estupro ou importunação sexual, conforme o caso concreto. E isso também pode acontecer no ambiente doméstico e familiar”, esclarece.
Conforme a delegada, hoje a rede de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher de Bento Gonçalves é referência para muitas outras cidades. “Nós contamos com vários órgãos integrando esta rede, nós temos um Revivi que é fortíssimo, atuante na esfera da proteção e da assistência a essa mulher. Porque costumo dizer, não adianta tu oportunizar para ela registrar uma ocorrência e quando ela sai porta fora, não assistir essa mulher. Não dar condições para ela enfrentar e sair do ciclo de violência. Nós temos judiciário, Defensoria Pública, IGP e Brigada Militar com a Patrulha Maria da Penha, que faz um importantíssimo trabalho aqui no nosso município, coordenados pela capitã Estefani. Além de uma delegacia da mulher, ou seja, um órgão repressivo com foco específico na investigação e prevenção desses delitos”, valoriza.
Com Bento Gonçalves sendo referência no assunto, o ideal é compartilhar com os outros as estratégias realizadas. “Outros municípios vêm até nós conhecer o nosso trabalho, entender os fluxos das atividades para buscar implantar dentro da realidade deles. Então, a nossa comunidade está sim bem assistida. O que eu diria? Que diversas mulheres não utilizam tanto esse serviço. Muitas vezes por vergonha, que ainda precisam desmistificar para elas mesmas que estão num ciclo de violência e precisam reconhecer isso. Mas elas têm uma estrutura muito boa em nossa cidade”, retrata.
O medo pode ser um fator determinante, pois muitas mulheres ficam preocupadas e não sabem se a delegacia é ambiente seguro em que possam confiar e fazer a denúncia. Deise detalha o quanto o local é garantia de segurança. “Todos os órgãos da rede, toda estrutura de recebimento da notícia-crime são ambientes seguros. Por exemplo, aqui na Delegacia da Mulher os registros são feitos numa sala específica para esse atendimento, lá no plantão policial nós temos a sala das margaridas que é uma sala destinada para atendimento de grupos vulneráveis. As denúncias que são feitas no disque 100 ou através da rede, por exemplo, são todas anônimas. Eu garanto as pessoas que nós não temos conhecimento de quem é o denunciando. Então, tanto a denúncia feita anonimamente como o registro da ocorrência, são sim realizadas em ambiente seguro, num local em que as pessoas vão se sentir confortáveis para falar de fatos que dizem respeito da vida pessoal delas. É importante que esse ambiente ofereça para elas segurança e respeito”, confirma.
Durante todo o ano a Deam realiza diversas atividades preventivas, mas no Agosto Lilás o foco é ainda maior. “Nós costumamos atuar em rede, inclusive, na prevenção deste ano nós vamos participar de toda a programação e de alguns eventos organizados pelo Revivi e pelo Gabinete da Primeira Dama. E também realizamos atividades que nós, da Delegacia da Mulher e do policiamento comunitário, organizamos, como diversas atividades em empresas e em escolas, e o nosso foco é justamente levar informação. Fazer com que as pessoas compreendam principalmente essa questão da denúncia, que ela é anônima”, finaliza.
Canais de denúncia
Disque-denúncia – 180
Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) – 3454.2899
Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento – 3452.3200
Patrulha Maria da Penha – (54) 98423.2155
Coordenadoria da Mulher/Centro Revivi – 3055-7418 / 3055-7420 / 99132-8148
Fotos: Cláudia Debona