Estar com os amigos, dar boas risadas e jogar carta, isso está no sangue de muitos cidadãos de Bento Gonçalves. Para um grupo de amigos do município, como tantos outros espalhados pela Serra Gaúcha, isso não é diferente. Rudimar Marcolin, Nelso Seben, Waldemar Mazzeto, Jacinto Panizzi e Ivanor Bass, se reúnem há mais de dez anos, duas vezes por mês, para jogar e colocar o papo em dia. Na suas noites de jogos, o mais jogado é o quatrilho.

Tradição e amizade

Para Marcolin esses encontros são feios para reencontrar os companheiros. “Somos um grupo de amigos, que vemos o jogo como distração. Estamos em cinco componentes, jogamos há mais de dez anos praticamente duas vezes ao mês. Nos reunimos cada sexta na casa de um dos participantes, e às vezes nos sábados à tarde vamos na sede da associação do bairro Universitário, mas nem sempre formamos a mesma turma porque ali se reúne dezenas de jogadores que jogam outros tipos de jogos como canastra, pontinho e bisca”, diz.

Para ele, jogar a conversa fora enquanto distrai-se em uma partida de carta é passado de geração por geração. “O quatrilho e um jogo trazido pelos imigrantes italianos, no qual somos descendentes. Então, aprendemos com nossos pais que por sua vez aprenderam dos pais deles, pois sempre existiu essa tradição de se reunir para praticar baralho”, explica.

Cada reunião é em local diferente, mas o que nunca falta é um bom vinho para acompanhar as horas de jogatina. “Nesses encontros fazemos sempre uma janta acompanhada de um bom vinho, o cardápio sempre fica por conta do dono da casa. Fazemos isso simplesmente para nos reunirmos a fim de passar umas horas de descontração e tirar o stress do dia a dia”, conta.

É bom se divertir, mas jogar valendo algo traz uma emoção maior a partida. “Jogamos sempre apostando um valor, mas nada de exageros, somente para brincar e normalmente quem ganha acaba pagando as despesas do jantar”, expõe. Marcolin ressalta, ainda, que cada um tem seu estilo de jogo e que pode prejudicar ou ajudar os demais. “Dentro do nosso grupo cada um tem seu modo de jogar. Tem aquele que arisca mais, o que só joga na segurança nunca se comprometendo e tem aquele que adora blefar, mas sempre jogamos brincando e se respeitamos muito”, pontua.

E claro, quem perde sempre vai ser o alvo das brincadeiras. “Depois do jogo a flauta pega para aqueles que perderam. Normalmente no dia seguinte no nosso grupo de Wats, é mandado algumas fotos de um pato se referindo aos que perderam e demais chacotas”, retrata.

Em 2022 o grupo se aventurou em um campeonato organizado pela Associação Brasileira dos Amigos de Quatrilho (ABAQ), onde havia mais de 280 jogadores oriundos do Rio Grande do sul, Santa Catarina, paraná e Mato grosso. O torneio foi realizado, em Cotiporã. “Fui o que melhor ficou classificado da nossa turma. Fiquei em 53º, foi uma experiência muito boa fizemos amizades com pessoas de outros municípios outros estados foi um dia sensacional”, finaliza Marcolin.

Como funciona?

A modalidade foi trazida pelos imigrantes no século 19, inspirou a literatura e continua sendo passada de geração a geração. Na Serra Gaúcha, o jogo se rivaliza em popularidade com outros carteados da moda, como o Pôquer.

Jogado em quatro pessoas, com um quinto participante que distribui as cartas de baralho do tipo espanhol, o quatrilho chama a atenção por um detalhe: é obrigatório a troca de parceiro a cada jogada. Ao contrário do que podem imaginar, a tática não remete à traição. O objetivo é dar mais dinâmica à disputa, que terá apenas um ganhador.

As regras são complexas para iniciantes, o que só desperta mais curiosidade. Durante o jogo, os participantes não podem falar, a sinalização das cartas é feita somente com toques na mesa, o que exige muita atenção. Mas, ao final da rodada, o silêncio cede lugar para a gritaria, com espaço para acaloradas discussões sempre em tom de brincadeira.