Maioria dos que residem no bairro presenciam acidentes que ocorrem entre o cruzamento da rua Paraná com a avenida São Paulo. Além disso, comerciantes relatam que vendas não estão boas e se mostram preocupados
Sendo um dos principais bairros da cidade, o Borgo se conecta a diversos outros locais, como o Centro, o São Francisco e o Licorsul. Por conta disso, a região acaba se tornando caminho para muitos que trafegam pelo município. A localidade também tem muitos habitantes e por conseguinte, quase que um comércio próprio. Entretanto, a instabilidade na economia preocupa os empreendedores, assim como os acidentes de trânsito que já viraram rotina.
Negócios
O bairro conta com um vasto comércio, que abrange quase todos os segmentos, desde moda, beleza, oficinas e mercado. Rose Pertile não é moradora do local, mas o escolheu para instalar sua loja. “Ter um empreendimento no Borgo acaba sendo mais acessível que no Centro. Lá, muitas vezes, não tem onde estacionar e se vai caminhando tem que subir morro. Acredito que vir para cá foi uma boa escolha e a tendência é crescer”, enumera.
Foi há dois anos que Rose decidiu ter seu próprio negócio. Após se aposentar, estudou os empreendimentos que existiam no local e averiguou que uma loja de cama, mesa e banho fazia falta. Por isso, sente que acertou em cheio. “A população começou a conhecer o espaço, a pedir mais produtos e fui agregando”, revela. Ela complementa enfatizando as dificuldades que vem enfrentando. “Apesar de estar achando bom, tem meses em alta, outros em baixa. A parte mais complicada é que a mercadoria não está sendo fácil de conseguir, tanto pelos preços quanto pela demora. Os fornecedores explicam que está difícil conseguir as matérias-primas. O tempo também está dificultando, no caso da venda de cobertores. Com esse clima que uma hora faz frio e na outra calor, acabei investindo muito no inverno e, infelizmente, não tive o retorno que gostaria”, esclarece.
Assim como Rose, Valesca Lagunas também trabalha com roupas. Seu negócio abrange o vestuário infantil até o adulto, entretanto, por conta da falta de um frio mais intenso, o resultado das vendas não está como o esperado. “Devido ao clima, não estou achando um bom ano para as vendas, pois não faz um frio contínuo. Com isso, as pessoas não veem motivos para comprar, e aí o estoque que investimos fica parado”, lamenta.
Nelci Klaus trabalha no ramo de design na Douglas Decor, e está preocupada com o futuro. “Esse ano estamos enfrentando dificuldades, não está sendo bom. As vendas até começaram de forma positiva e depois de março houve uma queda que foi se acentuando. Agora, nesse último mês, houve uma pequena elevação nas vendas. Acredito que os motivos sejam, primeiramente, a situação econômica do nosso país, já que ela está muito instável e as pessoas estão com medo do que pode vir daqui para frente. Ao mesmo tempo que elas também já começam a pensar no final do ano e sempre querem fazer algo novo na casa ou no apartamento”, presume.
“É um desafio empreender e se dar bem”
mpra é um local presente no bairro há, no mínimo, 60 anos. Antigamente, carregava o nome de “Mercado Belém”, mas acabou sendo modificado. Mauri Belle é o filho do fundador e o atual dono do empreendimento. “Hoje em dia, somos associados a uma rede de Caxias do Sul. Então, a maior parte das compras são feitas de forma associativa e cooperativa, seria bem mais difícil mantê-lo senão dessa forma”, relata.
Ele acredita que o empreendedorismo não é fácil, mas que é possível fazer um bom trabalho. “Desde que estejamos bem treinados e preparados para os novos desafios que estão surgindo, dá para se tornar um bom empreender. Não estamos mal, claro que observamos uma concorrência ferrenha, e o mercado local acaba sendo visado provavelmente por redes maiores, então, por conta disso, a situação fica mais complicada. É um desafio empreender e se dar bem, por isso precisa estar bem treinado”, reflete.
Mas Belle também vem sentindo as dificuldades que a economia está trazendo para os negócios. “Não temos interesse em contratar ninguém agora, pelo menos não enquanto sentirmos dificuldade de entender a situação tributária no país. E só será possível quando tivermos segurança em fazer investimentos e compromissos futuros. Por isso, preciso confiar em um amanhã para o Brasil”, expõe.
Falta de estabilidade
Leandro Taffarel, assim como os colegas comerciantes, também está notando que a economia está com problemas. Ele mantém a petshop Taffarel no bairro e se preocupa com a instabilidade. “Tem sido um ano com bastante dificuldades, muitos altos e baixos. Um mês é bom, no outro acaba caindo muito. Não conseguimos ter um crescimento e uma estabilidade tão boa. O mercado está oscilando e o pessoal está inseguro, é o que se nota. Comparado aos outros anos, este é bem mais atípico”, analisa.
Ele acredita que esse sentimento é geral. “Não vejo crescimento para nenhum segmento, todos eles estão com bastante dificuldade de crescer e empreender, então acredito que este período será bem 0 a 0. Mantendo a empresa aberta e não ter dívidas é lucro. Atualmente, tenho cinco colaboradores e, no momento, por conta da instabilidade do mercado, estamos com as contratações fechadas”, finaliza.
Moradores
A maioria dos habitantes do local gostam de viver ali. O bairro é calmo, a vizinhança agradável e o melhor: estão perto de comércios essenciais. Esse é o caso de Nelson Schuck, que chegou há mais de cinco décadas no Borgo. “Moro aqui há 52 anos. Antigamente essa rua era só mato e agora virou praticamente Centro. Tudo o que precisa é só dobrar a esquina que se encontra. Não troco aqui por nada, é um lugar bom de viver”, afirma.
Apesar de gostar muito, no entanto, o morador sente necessidade de algumas melhorias. “O único problema que temos é que estamos batalhando há vários anos para asfaltarem a nossa rua e o prefeito até fez uma reunião conosco. Entretanto, disse que aqui não teria como, mas seguiremos lutando para melhorar o nosso bairro”, salienta.
Maria Lourdes Ferreira assim como Schuck, também chegou no bairro quando ele estava apenas engatinhando, e pôde ver toda a transformação que o local recebeu. “Praticamente estamos no Centro, é um bom lugar para viver. Claro que como todos os lugares sentimos insegurança, não dá mais para viver com tudo aberto e apesar de ter pontos mais pesados, nunca ocorreu nada grave”, esclarece.
Trânsito
De moradores a empreendedores, a reclamação sobre o trânsito foi unânime. Todos eles já presenciaram acidentes até graves pela falta de sinalização e pela velocidade que muitos motoristas transitam nas vias. A principal preocupação é com a rua Paraná que liga a avenida São Paulo. A esquina é cenário de muitas irregularidades que causaram até mesmo transtornos graves.
Nelci Klaus, por estar sempre próxima desta esquina, relata que é sério o problema. “Esse cruzamento está bastante perigoso, muitas pessoas já foram atropeladas. Acidentes com motos e com carros é algo corriqueiro. Todos os dias presencio algo referente ao trânsito aqui. O fluxo em momentos de picos é muito alto e a solução é ter uma sinaleira entre a avenida e a rua”, explica.
Rose Pertile também presencia muitos incidentes na esquina onde as ruas cruzam. “Já aconteceram acidentes graves, principalmente de motos, caminhões. Aqueles que não conhecem o trajeto, então, é pior ainda. No mês de julho os acidentes diminuíram, já estava sendo bem preocupante. Quando ocorre vemos o Samu, os Bombeiros, o guincho e tudo isso poderia ter sido evitado”, recomenda.
Mauri Belle já acha que o problema ultrapassa essas ruas, e é caso de mudanças drásticas. “O problema de Bento Gonçalves é que a cidade está instalada em uma região muito acidentada, temos muitos problemas de bairros ou loteamentos que não dão segmento e nem fluxo. O Borgo está em um local que acaba sendo passagem para outras localidades. Então, acredito que para solucionar este problema seria necessário abrir outros acessos para que o fluxo não se concentre apenas em uma avenida”, finaliza.