Em reunião concluída na quarta-feira, 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa de juros básicos da economia brasileira, pela primeira vez em quase três anos. Na ocasião, a autoridade cortou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano.
Esta decisão deixou boa parte do mercado surpreso, pois a média das projeções apontava para uma redução de 0,25 p.p. “Alguns colegas economistas estão dizendo que o Banco Central errou, que não deveria ter baixado agora que ele está colhendo os frutos da política que foi implementada lá atrás. Mas a princípio a autoridade tem atuado de forma preventiva”, ressalta o economista e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Mosar Ness.
O que é a taxa Selic?
A Selic é a taxa básica de juros da economia. É o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação.
De acordo com Ness, uma economia como a brasileira, se tem uma política fiscal que compreende os gastos e os tributos que são cobrados pelo governo. “É composta fundamentalmente pela oferta de crédito e pela taxa de juros. A taxa de juros regula a quantidade de dinheiro em circulação na economia. Assim, quando temos muita moeda circulando, temos um nível que está acima do que o produto tem e vamos ter a inflação”, explica.
Conforme o professor, a partir de quando entra muita moeda em circulação e gera a inflação, o governo emite títulos e recolhe esse dinheiro. “Tirando ele de circulação, consequentemente vai chegar num nível em que os preços dos bens, como vai ter menos dinheiro e mais bens, começam a reduzir. Então a moeda ganha valor e força contra a própria mercadoria. E aí nós temos a redução da taxa de inflação”, afirma.
Portanto, a Selic tem por objetivo justamente isso, implementar a política monetária do governo, e a oferta de moeda que é feita por determinação do Conselho Monetário Nacional e implementada pelo Banco Central do Brasil. “É a garantia de que o dinheiro vai ter valor e não vai perder ele com a inflação. Então, numa economia monetária como a brasileira, a taxa de juros se reveste num caráter especial, porque além de nós induzirmos o controle da inflação, nós também podemos, através do aumento do crédito e da redução da taxa de juros, quando necessário, estimular o crescimento da economia”, analisa.
O que movimenta a Selic?
O que movimenta a taxa Selic é a disposição, a meta de inflação que é determinada pelo Conselho Monetário Nacional. “Então, temos uma meta aí de 4,5%, 2% pra mais, 2% pra menos, que deve ser implementada dentro da economia. Pra que isso aconteça, é preciso reduzir a taxa de juros, quando nós não temos uma atividade econômica muito forte, e também não há muita inflação, ou aumentar a taxa de juros quando estamos com um problema de surto inflacionário”, diz. E conta sobre o que aconteceu há alguns anos. “Então, a partir de 2020, quando tivemos a pandemia, se colocou muito dinheiro em circulação. Por força das transferências que foram feitas para estados, municípios e também para as pessoas físicas, havia a necessidade de criar um fluxo de renda mínima. O governo gastou bastante nessa área pra manter o consumo das famílias. Isso foi muito importante naquela época porque salvou, vamos dizer assim, da fome, muitos brasileiros que não tinham renda. Quando foi entrando dinheiro em circulação, chegou num ponto que o dinheiro começou a perder valor ante os bens, então é o princípio da inflação”, completa.
Qual o impacto da taxa?
Segundo Ness, a política monetária no Brasil tradicionalmente demanda um tempo pra acontecer, cerca de três a quatro trimestres. “O efeito nós vamos sentir num horizonte daqui quase um ano. Nesse momento, é mais sobre as expectativas. Mas normalmente, o impacto da redução da Selic vai ser uma oferta maior de moeda nos próximos meses. Nós vamos começar a sentir isso aí, a economia vai notar o desconto das duplicatas, que também se tornam mais baratas quando tem mais dinheiro em circulação. O valor das transações financeiras, de uma maneira geral, começa a se reduzir também. A taxa de juros começa a cair e nós vamos pagar juros menores”, destaca.
Além disso, a partir do aumento da oferta de dinheiro, eleva-se a disponibilidade de crédito para as famílias. “Quando se reduz a taxa de juros, as pessoas criam uma expectativa dos investimentos se tornarem mais atrativos”, conclui.
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