Clacir Rasador
Como exercitar o futuro? Esta é uma pergunta que tem futuro? Como estaremos, seremos, faremos, daqui a… um, dois, cinco, dez anos, quando aquela espaçonave chamada futuro, na música Aquarela, de Toquinho, pousar no espaço único, chamado EU? Se para muitos ir à academia, no presente, já é um plano futuro, imagine trazer o futuro para o presente… Contudo, mais que filosoficamente – e mesmo que não se tenha tal hábito diário –, uma ótima oportunidade para exercitar o futuro é abrir um hiato em dias de remanso, e esse feriadão caiu mais que uma luva… pois seis sóis se passaram.
Como se diz, o tempo é de cada um, mas é fato que o tempo que vivemos é fruto de muitos protagonistas que exercitaram o futuro de uma forma extraordinária, mesmo sofrendo pesadas críticas pelo modo diferente de antever o que viria à frente e atrás da porta, porém se mantiveram corajosamente incólumes nas suas convicções, o que, ao final, fez toda a diferença.
Sem manual ou protocolo desta espaçonave que é o próprio futuro, mesmo que pareça contraditório, olhar pelo retrovisor da nave, da vida daqueles que souberam tão bem antever o horizonte, se constitui hoje, ao menos, um farol a iluminar os maiores perigos para se conquistar com segurança o amanhã.
Um dos maiores exemplos destes faróis da humanidade foi o grande estadista inglês Winston Churchill, que, em março 1933, portanto seis anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, na Câmara dos Comuns – equivalente à nossa Câmara de Deputados – exercitou o futuro ao se pronunciar antevendo a saga genocida e criminosa de Adolf Hitler: “Nada na vida é eterno, mas é certo que assim que a Alemanha atingir a igualdade militar com seus vizinhos, enquanto seus pesares ainda não foram reparados e enquanto o país ainda se ressente do que vimos com tristeza, sem dúvida, nós nos encontramos a uma distância mensurável de uma nova guerra geral europeia” (MANSFIELD, Stephen. O caráter e a grandeza de Winston Churchill, Madras, 2010).
Sem dúvida, fôra ele – Winston Churchill – aquilo a que ele próprio se propunha: “Todos somos insetos, mas eu pretendo ser um vaga-lume”.
Talvez esteja exatamente nessa frase a explicação mais simples para sua brilhante trajetória como primeiro ministro inglês na vitória contra a Alemanha na Segunda Guerra. Irradiou luz onde todos viam trevas, acreditou onde desacreditavam, com ação e resistência prefetizou a vitória ao contrário da rendição por uma falsa promessa de paz. A isso se chama fé – aliás, na visão de Churchill, a grande Guerra era do Cristianismo contra o paganismo – e assim plantou a semente da vitória até mesmo no jardim mais árido de esperança, no singular EU de cada um; e juntos, colheram os frutos da liberdade.
Honrarias a seu nome merecidamente não faltaram após sua morte, embora ainda em vida, humildemente viria a recusar a mais alta honraria oferecida pela realeza – Ordem da Jarreteira – pois, não tendo sido reconduzido pelo povo ao cargo de primeiro ministro após a vitória na Segunda Guerra, entendia não ser digno de tal deferência.
Como se vê, exercitar o futuro, de fato, não é algo fácil, até mesmo aos mais célebres protagonistas de nossa história, uma vez que “Sem pedir licença muda nossa vida e depois convida a rir ou chorar…”. Assim toca a música de Toquinho, assim o futuro nos dá a letra.
A propósito, ao mirar os acertos do futuro no passado de grandes lideranças, há quem se aventure nesse mister nada comum, ao ponto de querer ser forçosamente farol do mundo – do seu mundo -, pois erroneamente direcionam o foco sobre si próprios, não compreendendo que tais exemplos, dignos de serem seguidos, tinham uma luz mais que sobrenatural, diria, DIVINA. Fato é que, se tratando de honrarias, na história contada, há mortos notáveis, cujos feitos verdadeiramente extraordinários estão descritos em merecidas placas, que resistirão ao tempo e ao vento; por outro lado, há vivos sem merecidas e destacadas histórias, sendo estas vergonhosamente encomendadas e patrocinadas – muitas com dinheiro público – em notáveis placas feitas, as quais não merecerão o sincero aplauso do futuro e cairão no próximo e maior ataque de outro egocentrismo qualquer.
Vamos em frente!