Desde criança, os dois irmãos do bairro Licorsul, Bruno, 29 anos e Tiago Casagrande Otaram, 27, fortaleciam seus laços com o esporte. O pai, Marino Otaram, foi o grande incentivador da dupla, levando-os na escolinha de futsal da comunidade Santa Catarina.
Com o passar do tempo, Bruno começou a jogar futsal e futebol de campo em Caxias do Sul, atuando pelo Clube Juventude. “Fiquei o período de um ano, mas vi que tinha uma grande diferença no contato com a bola em comparação aos dois tipos de jogos. Então, resolvi fazer uma peneira na Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF), onde passei e fiz toda base até, aproximadamente, meus 20 anos”, conta.
Em 2014, os irmãos atuaram juntos no Foz Cataratas Futsal, e puderam compartilhar o amor pelo esporte no estado paranaense. “Também jogamos no Sub-20 do ACBF, foi uma experiência diferente pois onde trabalho, sempre vou sozinho e muitas vezes não conheço quem vão ser meus companheiros de time. Estando na mesma equipe que meu irmão, é mais fácil e bom por ter alguém da família por perto”, salienta.
Ao ir jogar na Itália, o rapaz teve a oportunidade de conquistar a cidadania italiana. “Durante o processo para conseguir o documento, disputei a Sub-20 e equipe principal. Já estou no país europeu há sete anos e passei por seis clubes de várias regiões, como Sicília, Marche, Emilia-Romagna e Vêneto”, salienta. Atualmente, o atleta atua em seu segundo ano no Tiemme Grangiorgione c5, clube de Tombolo, cidade localizada na região italiana de Vêneto.
De acordo com Bruno, o futsal brasileiro é o oposto do italiano. “A diferença entre Brasil e Itália é o nível de qualidade do campeonato, no Brasil é muito disputado e possui jogadores mais fortes”, ressalta.
O atleta volta todo ano para seu país de origem, com objetivo de passar um tempo com quem sempre lhe espera na Capital Nacional do Vinho. “Em maio viajo e fico dois meses de férias em Bento, assim desconto a saudade que sinto dos amigos e da família”, afirma. Além disso, Bruno acredita que toda experiência é válida e todo sacrifício de estar longe de quem ama é necessário, porém difícil. “Tive que me adaptar o mais rápido possível ao país italiano, pois passo dez meses por ano jogando lá. Na Itália, a vida é mais tranquila e segura, mas dependendo da parte em que você mora, tem pouca abertura para diálogo ou fazer novas amizades. Assim como existe muita diferença entre norte e sul do Brasil, aqui é a mesma situação, tem seus pontos positivos e negativos”, finaliza.
Já o caçula, Tiago, passou pelo Foz Cataratas, do Paraná, antes de seguir carreira internacional. “Depois de jogar no Brasil, a primeira experiência no exterior é sempre mais difícil. Tem a adaptação, a língua, o fuso horário e a saudades de casa, mas com o tempo fui me acostumando”, revela. A Itália foi o país que ele estreou nas quadras longe de sua terra natal. “Atuei lá durante cinco anos, depois tive passagens pela Alemanha, República Tcheca, Polônia, Bósnia Herzegovina e Suécia, todas elas graças ao futsal”, completa.
Durante certo período, Tiago retornava à Bento Gonçalves para matar a saudade. “Sempre valorizei estar mais com a família e alguns bons amigos. E aproveitava para comer bem pratos daqui que gosto muito, como churrasco e feijão”, recorda.
Atualmente o atleta atua na equipe de Seberi, município localizado no norte do Rio Grande do Sul. Ele destaca que há diferenças entre o Brasil e o país europeu em que morou durante o período de trabalho. “A qualidade de vida é excepcional, lá tem mais tempo livre, tranquilidade e estabilidade financeira. Porém, aqui há mais alegria, amigos e família, que é essencial”, valoriza. Mesmo assim, Tiago revela que, em breve, pretende voltar à Europa. “É uma experiencia incrível. Desejo que os jovens que possuem o mesmo sonho, se aventurem e tenham a oportunidade de viver algo único”, conclui.
O incentivador
O orgulho do pai Marino Otaram vem desde cedo, durante os treinos de futsal no salão da comunidade. “Eles sempre viam como uma diversão entre estudos e atividades esportivas. Muitas vezes passei todo final de semana acompanhando os jogos, torneios e campeonatos dos meus filhos”, lembra.
Além disso, o pai destaca que crescer na carreira escolhida pelos dois foi um desafio muito grande. “Fico feliz por ver eles conquistando seu futuro e que, desde pequenos, conseguiram realizar aquilo que se dedicavam a fazer. Não é fácil seguir no esporte e se profissionalizar, muito menos trocar de país”, comenta.
Sobre a ida para a Itália, Marino conta que os dois foram no mesmo período. Conseguiram a cidadania, mas foram atuar em diferentes clubes no país italiano. Foi planejado e programado, pois já estavam fazendo parte da documentação pelo Brasil e finalizaram lá”, revela.
Os rapazes, segundo o pai, retornam sempre no período de abril/maio, momento em que a família procuram fazer atividades juntos e matar a saudade. “Sempre que os vejo, lembro que o maior orgulho é ver eles darem continuação naquilo que iniciamos juntos muito tempo atrás, quando eram pequenos. Ver que todo aquele processo, incentivo e investimento teve um motivo e um retorno”, valoriza.
Aos que incentivam os filhos a seguir uma carreira de atleta, ele deixa um recado. “Acredito que o mais importante é as crianças fazerem atividade física e se divertir, nem todos têm qualidade ou cabeça para seguir no esporte, isso somente o tempo irá dizer. É preciso ter paciência e deixar os filhos decidirem se é correto e se são capazes de suportarem a distância, os conflitos, a saudade e uma profissão que parece fácil, mas não é”, encerra.
Fotos: Arquivo Pessoal