A religiosidade e futebol são destaque no bairro, assim como a vinda de famílias em busca de um lar ou oportunidades comerciais
A comunidade do bairro Borgo é muito unida e as famílias são receptivas. O bairro cresceu ao longo do tempo, levando a atividade econômica também para essa região, que é próxima do Centro. A religião e o esporte são alguns dos destaques da localidade.
Uma liderança religiosa
A aposentada Luciane Ribeiro Conci, 61 anos, faz parte do conselho comunitário do Borgo há aproximadamente 17 anos. Porém, ela conta que desde que chegou no bairro, no início dos anos 1980, acompanhava seus sogros. “Acho importante estar ajudando a comunidade em tantos serviços que ela oferece para as pessoas, como equipe administrativa, ministros da palavra, da eucaristia, catequistas, visitas aos doentes e tantos outros trabalhos voluntários que só nos fazem crescer como seres humanos”, realça.
Luciane, que também é catequista, revela que sempre gostou muito de crianças e a equipe administrativa a convidou para ministrar as aulas, fazendo que aceitasse de imediato. “Para os pequenos, acho que a maior importância é de nós catequistas, passarmos pra eles a história de Jesus, sua bondade, seu jeito de ser, sua fidelidade e este encantamento de quem ele era. Quanto aos adolescentes, tentamos ser persistentes em levar esta palavra de perdão e de amor, pois estes ensinamentos vão ser para a vida inteira e poderão passar para outras pessoas”, sustenta. Atualmente há cerca de 100 crianças participando dos encontros, divididas entre nove catequistas.
Segundo Luciane, quando ela chegou no bairro não tinham tantos prédios e comércio. “Agora é um local bem acessível. Tem mercado, farmácia, escola, creche, restaurante, posto de combustível, entre outros estabelecimentos. Além de ser pertinho do centro, é uma região muito boa e que está ainda crescendo”, elogia.
No ponto de vista da liderança, o Borgo deveria ter algumas melhorias que só agregariam para a qualidade de vida dos moradores. “Mais placas de sinalização, limpeza mais frequente das ruas e um posto de saúde na região do salão da comunidade, pois o bairro é muito grande”, afirma.
Conforme Luciane, a localidade cresceu demais e tem várias religiões, sendo importante ter respeito a todas. “Quanto ao salão da comunidade, ele atua junto a Igreja Nossa Senhora do Carmo e a gruta Nossa Senhora de Lurdes, onde procuramos receber e acolher bem a todos que nos procuram”, convida. A catequista deixa uma mensagem a todos os leitores, fazendo jus aos seus ensinamentos. “Nós, como humanos, devemos fazer o bem e viver intensamente cada segundo da nossa vida, as coisas mais lindas são as mais simples, Deus foi maravilhoso e perfeito no mundo que criou, vamos viver esta perfeição”, conclui.
Um destaque no futebol
Durante mais de 30 anos, o empreendedor Nelson Rizzardo, 60 anos, atuou no time São Paulo do Borgo. Se interessou pelo esporte desde jovem e uma das diversões da época era juntar os amigos e jogar futebol, principalmente aos domingos. “A gente juntava o grupo aos finais de semana, participava de torneios entre as comunidades e até alguns campeonatos da cidade. Atualmente não jogo mais, somente colaboro com a sociedade”, revela.
O Complexo Esportivo São Paulo é um local muito importante para o esporte da Capital Nacional do Vinho e atualmente o clube tem um time de veteranos que joga aos domingos de manhã. “É um espaço para a prática do esporte, onde o São Paulo mantém a escolinha de futebol de cinco à 12 anos. No momento as atividades estão paradas, retornam no início de fevereiro”, informa.
Morador do Borgo desde os anos 1990, ele escolheu a localidade por ser conhecida e por já ter alguns familiares residindo no bairro. “Tinham menos casas, com moradores mais familiares e com o trânsito bem tranquilo. Hoje em dia a região cresceu na infraestrutura em geral, com novas residências, comércio, escolas, etc”, fala.
Para ele, o fato do bairro ser ao lado da região central ajuda muito na locomoção, já que o itinerário de ônibus é reduzido. “É próximo ao Centro, com escolas, supermercados, farmácias e bem tranquilo. Como negativo apontaria os poucos horários de transporte público e talvez o baixo cuidado com a praça”, analisa. Mas, de acordo com Rizzardo, não há nada para mudar. “É só manter limpo e organizado o que já tem aqui”, opina.
Para os futuros jogadores do time, ele deixa um recado de motivação. “O meu conselho é que sigam jogando, para que no futuro o futebol não fique só como uma forma de diversão e talvez se torne uma profissão”, conclui.
Em busca de uma vida melhor
Desde criança, Gema Terezinha Bessega Rebelatto, 76 anos, ajudou os pais no campo e abriu mão do estudo pelo trabalho árduo no interior de Cotiporã. O passar do tempo fez com que sua família procurasse um novo destino e, com aproximadamente 30 anos, a aposentada mudou-se para Bento Gonçalves. “Minha família era muito grande, tinha mais de 30 pessoas em uma única casa simples. Depois de um tempo minha mãe não suportou mais ficar na residência do meu vô e saímos de lá sem levar nada, nenhum garfo, faca ou prato. Ela teve que sustentar os seis filhos”, relembra.
Residindo há mais de 20 anos no bairro, Gema se vê num local bom e com tranquilidade moderada. “Às vezes tem alguns vizinhos que abusam do som e barulhos, daí fica ruim de dormir, mas a grande maioria do tempo é calmo”, afirma.
Segundo a aposentada, após a pandemia de covid-19 o transporte público reduziu os horários e, até o momento, não voltou à normalidade. “Antes tinha de hora em hora, agora tenho que me programar muito mais para ir até o Centro, pois de manhã o itinerário é pequeno”, revela. Para consultas médicas, Gema tinha que ir até a Unidade Básica de Saúde (UBS) Central, mas o atendimento mudou recentemente para a unidade da Cohab. “Depois que fiz todos os meus exames, me transferiram. Para mim é mais perto agora e mais rápido, mas queria mostrar os resultados e ter o acompanhamento com a médica que me atendeu desde o início”, finaliza.
Outra batalhadora em busca de uma vida melhor na cidade é Iraci Alves de Morais, merendeira aposentada, 63 anos. Ela partiu da zona rural de David Canabarro com os três filhos, após uma separação, aceitando um convite de moradia de parentes que já residiam no Borgo. Ela disse que o bairro mudou muito desde o dia em que se estabeleceu no endereço, há 25 anos. “Era um penhasco e tinham duas ou três casas, agora residem muitas pessoas e tudo evoluiu”, recorda.
Durante oito anos, Iraci atuou na cozinha da Escola Municipal de Ensino Médio Alfredo Aveline, um dos principais espaços educacionais do bairro. Ela detalha os bons momentos vividos durante o período em que trabalhava com algo que gosta muito, a culinária. “Era muito bom, os alunos me chamavam de tia e estavam sempre felizes. Inclusive, hoje em dia, alguns me encontram na rua e me cumprimentam”, conta.
A tranquilidade é algo que a aposentada destaca. Na localidade onde mora, próximo à divisa com o Licorsul, os latidos de cães são os únicos ruídos que ela lamenta escutar. “Algumas vezes não consigo nem conversar com as pessoas, pois há muitos animais fazendo barulho”, revela. Outra observação da merendeira são as ruas e o sistema de encanamento que precisam de melhorias. “As vias estão ruins e precisam de um olhar mais atento. Na questão do escoamento, tem vezes que desce lá de cima e molha dentro de casa. Quando teve aquela chuva forte pensei que alagaria toda a garagem, mas tive sorte que entrou pouca água”, comenta.
Comércio tradicional
A proprietária de uma mecânica tradicional do bairro, Solange Maria Marchioro dos Santos, 51 anos, conta que ela e o marido Tobias, iniciaram o trabalho no local há mais de 25 anos. “No começo, em março de 1998, era somente nós dois e mais alguns rapazes. Antes de construirmos, viemos visitar os loteamentos que estavam à venda e não tinha calçamento no Borgo. Nos interessamos pelo local e queríamos ter uma oficina, pois meu marido já trabalhava como mecânico e era sócio de outra empresa, a qual saiu quando criamos a nossa. Fomos evoluindo e estamos até hoje trabalhando bastante”, salienta.
De acordo com Solange, os clientes da localidade são bacanas e muito parceiros. “Um tempo atrás teve aquela chuva bem forte e entupiu uma galeria, alagando várias casas. Todos os vizinhos se ajudaram e, como uma família, acolheram-se”, lembra. Além disso, a empresária disse que a população está sendo bem vista pela prefeitura, que seguidamente limpa os terrenos.
Fotos: Cláudia Debona