Presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) há 21 anos relata sua atuação na entidade, perfil do consumidor, mudanças no mercado, experiências e projeções pessoais
Antônio Cesa Longo é presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) desde 2002 e ocupa também, desde janeiro de 2009, a vice-presidência da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Natural de Porto Alegre, economista com pós-graduação em Gestão Empresarial e Administração em Marketing, ele atua no setor do varejo desde o início da década de 1980.
Neto de imigrantes italianos que, a partir de 1917, se dedicaram à atividade comercial em Porto Alegre, Longo iniciou sua carreira profissional no ano de 1982, na Companhia Apolo de Supermercados, com sede em Bento Gonçalves. Nessa primeira atuação, exerceu diversas funções dentro da organização, a fim de conhecer, com a maior abrangência possível, todas as fases que envolvem o funcionamento de um estabelecimento comercial de autosserviço.
Foi vice-presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) e presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade. Exerceu cargos de direção na Federação do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado do RS (Fecogêneros) e na Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL) do Rio Grande do Sul. Também foi membro do Conselho de Administração do Hospital Tacchini, integrou o Lions Club e o Rotary Club de Bento Gonçalves, participou da construção do Kartódromo Aristides Bertuol e foi diretor da Fundação Parque de Eventos e Desenvolvimento (Fundaparque).
Depois de participar como diretor e vice-presidente da Agas, Antônio Cesa Longo assumiu, em dezembro de 2002, a presidência da entidade. Em sua gestão, a Expoagas se consolidou como a maior feira varejista do Cone Sul.
Empresário, presidente da Agas e vice-presidente da Abras, como conciliar o tempo?
A verdade é que não há segredo pra isso, é preciso gostar. Para mim, tenho muito claro estes três pilares: família, trabalho e entidade. Eles precisam ser interdependentes entre si, mas ao mesmo tempo complementares. Para mim, participar da Agas é como um hobby, é algo que gosto.
Tivemos bons modelos e professores aqui em Bento Gonçalves. É uma cidade diferenciada, que conquistou esse carinho e liderança de todo o Brasil, como suas entidades empresariais também. Os empresários do município têm um grande respeito, justamente por essa escola. Tive a oportunidade de participar de diversas organizações, justamente por ser motivado por essas pessoas a doar um pouco do meu tempo. No começo, claro, era mais difícil, porque não tinha experiência, mas hoje tenho a felicidade de trabalhar em um ramo pelo qual sou apaixonado, que vivo intensamente e consigo participar de uma entidade que tem muito afim com a minha atividade, que é uma extensão do meu trabalho.
Felizmente, a minha família, minha esposa e minhas filhas entenderam essa paixão e compreendem toda a disposição e paixão pelo que faço.
Paixão
É preciso manter os três pilares em equilíbrio. São como pernas de uma cadeira, se cortarmos uma, as outras não sustentarão todo o peso. Hoje as atividades se completam, levo com prazer e satisfação. Acredito que o importante é isso, termos dificuldades e vitórias. Mesmo em qualquer relacionamento, em uma empresa, no trabalho, não tem só coisas boas e é através da dificuldade que a gente aprende a ficar melhor. Então esse conjunto me fez isso. Acabei crescendo pelas adversidades que tivemos e por meio do respeito pelas pessoas e aos meus antepassados, que construíram essa história e me sinto responsável também. Sinto que sou uma continuidade, que tenho os dois avós que foram imigrantes, pioneiros no comércio e consegui assimilar um pouco desse DNA. Hoje a minha vida é maravilhosa porque consigo fazer tudo ao mesmo tempo, me divertir e trabalhar.
Perfil do consumidor
Um consumidor muito ansioso, perspicaz e fazendo valer seu dinheiro. Estamos há meses afirmando que as pessoas estão dando verdadeiras aulas de gestão com suas finanças. É um cliente que dança conforme a música, ou seja, faz suas compras mediante o que sua renda naquele momento está permitindo.
Mudanças nos hábitos de compra
As mudanças foram profundas e continuam acontecendo. Há cinco anos, um consumidor chegava a ficar 40 segundos em frente a uma gôndola de supermercado, escolhendo seu produto. Hoje, o tempo médio é de 15 segundos. Há mais ansiedade, pressa e valorização do tempo.
Então, se tu consegues vender informação, elas levam o produto e saem satisfeitas, senão elas não levam. Assim, hoje o cliente tem muitas opções de locais de compra, não existe mais uma fidelidade, e isso acaba qualificando mais a todos, o consumidor e os estabelecimentos.
Aumento no preço dos alimentos
Por muitos anos os alimentos estiveram abaixo na correção de preços, ficando inferior a inflação nos últimos dez, mas nos últimos três anos eles tiveram o realinhamento, o que acabou ocasionando o aumento acima da inflação, em função de guerra, de crises de secas, do custo da logística. O importante é que a nossa indústria foi muito eficiente, não tivemos escassez, não tivemos falta de produtos.
Houve momentos em que o consumidor não conseguiu acompanhar este aumento de preços, infelizmente. Notamos migrações de carnes bovinas para frangos, de frangos para ovos, de ovos para batatas e até famílias buscando biscoitos waffers para garantirem um alimento. Felizmente este cenário está mudando.
Já há menos pressão sobre os preços, mas os supermercados buscam novos fornecedores e fazer compras concentradas em um mesmo local para garantir mais volume e, consequentemente, mais desconto. Por isso, o mix de produtos médio foi enxugado nos supermercados gaúchos.
Principais bandeiras
Jamais lutamos apenas pelos supermercados, a luta é para todos. Precisamos, enquanto supermercadistas, que os setores em geral sejam fortes para que a economia cresça de forma sustentável. Lembramos que os trabalhadores de todos os segmentos compram em supermercados, e por isso, quanto melhores estiverem estes setores, melhor para todos. Essa é a roda da economia em que acreditamos.
Incentivar a abertura de lojas, dar mais oportunidade de escolha de produtos e privilegiar a nossa indústria local. Hoje, o Rio Grande do Sul é uma referência no Brasil na diversidade de alimentos, marcas e de custo -benefício. Então, nosso objetivo é simplificar cada vez mais a operação, o entendimento da legislação e a capacitação.
Nossa principal meta é levar qualificação a todos os empresários e pessoas que trabalham no setor, que hoje conta com mais de 120 mil. Fazemos isso nos nossos eventos, temos a própria ExpoAgas, que coloca quase sessenta 60 mil pessoas nos seus três dias, de diversos segmentos, principalmente hotéis, bares, restaurantes e farmácias. Praticamente todos os dias temos realizado cursos que fazem essa movimentação. O setor é uma escola, é uma oportunidade. Cerca de 40% dos jovens aprendizes tem a oportunidade de ter o seu primeiro emprego nos supermercados, que atualmente correspondem a quase 8% do PIB (Produto Interno Bruto) e contam com mais de 6 mil lojas somente no nosso Estado.
Futuro do país
Ainda estamos embalados pela atmosfera positiva criada pela Copa do Mundo e pelas festas de fim de ano, fundamentais para virarmos a página de um processo eleitoral conturbado. Acreditamos em um novo Congresso mais fiscalizador e defensor de quem os colocou lá, acreditamos nos poderes constituídos, cada um com os seus direitos e deveres, além de um 2023 de pequeno crescimento e controle da inflação, pelo baixo poder aquisitivo. O setor supermercadista é um aliado do consumidor para que façamos um ano de valorização do seu poder de compra e mais tranquilo economicamente para todos nós.
Sempre acreditamos no novo governo, pois o setor nunca precisou de benefícios, de reservas de mercado, então nesses mais de 20 anos que estou na Agas, tivemos um bom relacionamento com qualquer partido, porque nunca olhamos para o nosso umbigo, sempre buscamos melhorias, reivindicações para o conjunto todo, para o consumidor e para que possamos viver melhor.
Novo governo
Expectativa é que diminua a polarização das opiniões, das ideias, que a gente possa entender o bem de todos. Temos os vereadores, os deputados, que devemos cobrar, mas essa polarização tem que ser diminuída para que surjam novos líderes, pois estamos carentes. Tem muitos políticos extremamente competentes, mas é um momento que eles não vão se destacar, porque o espaço está fechado, não tem lugar para nenhuma nova liderança. Existem os três poderes constituídos, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, um não pode se sobrepor ao outro.
Governo estadual
O setor supermercadista não tem partido, mas acreditamos que o governador Eduardo Leite tenha qualificação e experiência para tomar as melhores decisões para o nosso Estado. Estamos torcendo e seremos parceiros para isso.
Presidência da Abras?
É um sonho antigo, mas acredito que, com minha participação, estou contribuindo com o modelo do Brasil. Não sou político, faço política sim, todos nós fazemos todos os dias, mas a gostamos de ver as coisas acontecerem mais rápido. Na esfera federal, com certeza estaria me frustrando um pouco. Estamos participando e no Estado temos um relacionamento grande politicamente. Tudo é questão de tempo, é um projeto sim, só não sei quando.
Qual o motivo do senhor ter conquistado tamanho apoio e liderança na Agas e no Estado?
O segredo é trabalhar para o bem de todos e jamais pensar em benefício próprio. Sou grato a minha família que sabe que é importante para mim e para a empresa que eu trabalho, e isso é um conjunto. A empresa cresce com a Agas, com esse meu aprendizado, as oportunidades de experiências e relacionamentos. O segredo é fazer essa continuidade. Tenho muita preocupação com isso. Hoje, sem dúvida, temos uma entidade forte, com muitos sucessores, mas precisamos entender o momento que cada um está disposto a assumir esse compromisso. Hoje cada vez menos pessoas conseguem se dividir assim. Então felizmente, nesses anos, tive sorte que meus colegas da empresa e família, conseguiram compreender tudo isso.
Política não lhe atrai?
Acho que hoje tu consegues não estando na política, contribuir e ajudar mais, não sendo refém apenas de um partido, porque hoje temos muitos políticos maravilhosos que nem sempre conseguem fazer o que querem. Tem que apoiar e participar, mas não tenho esse perfil, não pretendo ser político. Política é assim, em casa, na empresa, na sociedade, mas a nível Legislativo isso não vai me dar prazer e não vou conseguir fazer o melhor, então isso está totalmente descartado.
Visão sobre Bento
Minha família é da Serra, sou neto de imigrantes, que com muita dificuldade, sempre souberem que queriam crescer. Embora tenha nascido em Porto Alegre, tenho muita honra de ter escolhido Bento Gonçalves como minha cidade, minha terra do coração. Bento Gonçalves e seu povo são o extrato de uma terra que foi colonizada e que deu certo, forjada a muito trabalho, dedicação e ensinamentos dos nossos antepassados que aqui chegaram. Sou um admirador de Bento e sua gente.
O que ainda não conseguiu conquistar?
A nível de entidade estamos com essa pauta de comercializar os medicamentos sem prescrição médica nos supermercados, é uma demanda antiga nossa, uma batalha eterna e contínua. Também queremos a simplificação tributária. No mais, sou feliz, porque faço tudo o que posso dentro da minha limitação de tempo.
E se o senhor voltasse a ter vinte anos? O que mudaria? Ou não mudaria nada?
Essa é uma pergunta cruel. A experiência e o aprendizado, quanto mais tu estudas e aprendes, tu percebes as mudanças, mas não me arrependo de nada. Faria tudo de novo. Acho que, felizmente, o grande patrimônio que a gente deixa são os exemplos. A minha mãe sempre dizia que a única coisa que eles queriam me deixar é aprendizado, são os ensinamentos, que isso não perco, ninguém vai me roubar. Agora um terreno, um carro, um um bem, posso perder qualquer hora. Mas é essa a escola que eu tenho. Felizmente não tenho nada a reclamar e tive bons modelos. Pretendo e acredito que estou sendo um bom pai, marido, chefe e colega de trabalho.
Fotos: Dani Villar