Delegado Renato Nobre revela detalhes dos incidentes de 2022, como bairros onde ocorreram, formas mais comuns de execução e o trabalho de investigação em cima dos casos
Em 2021, Bento Gonçalves passou por um cenário de recuperação em meio aos altos e baixos da pandemia de covid. Além da doença, os delitos que afligem a cidade não pararam. No ano passado, 34 pessoas foram vítimas de homicídio. Somente em janeiro, sete foram mortos de forma violenta. Agora, em 2022, apesar da redução, eles continuam, e seguem cada vez mais atrelados a outro tipo de crime, o tráfico de drogas.
Em entrevista ao Semanário, o delegado responsável pela 1ª Delegacia de Polícia Civil, Renato Nobre, revelou que cerca de 90% das execuções deste ano foram encomendadas por traficantes, seja por disputa de ponto de tráfico ou dívidas entre criminosos. Até o fechamento desta edição, 21 casos foram registrados na Capital do Vinho, há poucas semanas de encerrar o ano. O número é 30% menor que em 2021, quando 30 ocorrências foram confeccionadas.
Locais e método de execução
Dentre os diversos bairros de Bento, três se destacam de forma negativa, como reincidentes em locais de homicídios. Dentre eles, o Vila Nova é o que mais soma assassinatos, com três vítimas. Na sequência, Ouro Verde e Maria Goretti se igualam com dois registros cada. Os demais 12 incidentes aconteceram em localizações diferentes.
O delegado explica que esse tipo de crime não fica atrelado a uma localidade específica da cidade. “Apesar de sabermos onde alguns deles residem, os delitos em si ocorrem em outras regiões. Isso geralmente depende da operação da facção em matar o envolvido. Neste ano até aconteceu de indivíduos de regiões próximas virem para matar outros aqui no município, mas normalmente os executores são daqui”, elucida.
Referente ao modo como os homicídios são executados, Nobre comenta que o uso de armas de fogo é o mais comum. “O assassino já costuma ter envolvimento com a venda de entorpecentes e os traficantes fornecem o armamento necessário, as vezes o transporte também, e mandam matar. Foram raros os casos passionais neste ano e neles não há a regra da arma, pois geralmente se utiliza uma faca, por exemplo. Na maioria das vezes, o delito é encomendado, eles premeditam tudo”, detalha.
Investigação e resolução
Cada homicídio demanda uma quantidade de tempo de trabalho investigativo para ser solucionado. Segundo o delegado, registros semelhantes podem levar de uma semana até anos para chegarem a um final onde a autoria e motivação são reveladas. Para se descobrir o criminoso por trás de um assassinato, as vezes, é necessário a troca de documentos entre municípios e estados, o que deixa o processo lento.
Um elemento importante dentro do inquérito é a informação fornecida por testemunhas. Nobre aponta que, atualmente, muitos possuem medo de repassar algo, com medo de sofrer represálias. “Em diversas regiões onde há violência, que temos conhecimento de um crime naquele local, se formos lá as pessoas não falam nada. Elas têm medo de serem punidas e mortas pelo próprio criminoso que mora no bairro. A gente estimula a denúncia anônima, pois temos o telefone da polícia, o 197, onde as informações são levadas ao fim. Todas passam por um procedimento para serem averiguadas a fundo, gerando um protocolo que no final avalia o que foi repassado como procedente ou improcedente”, destaca.
A Polícia Civil de Bento Gonçalves, que compreende a 1ª e a 2ª DP, já resolveu 14 dos 21 casos deste ano. Todos os solucionados foram remetidos ao Poder Judiciário com inquérito de indiciamento, ou seja, os culpados pelos crimes foram identificados.
“Aqui em Bento, no ano passado, tínhamos uma guerra declarada entre facções e isso estava gerando um número alto de homicídios. Somente em janeiro tivemos sete casos. Eles estavam se matando. Já neste ano, nós tivemos conflitos entre grupos em municípios próximos, que acabaram repicando aqui, como em Farroupilha, Garibaldi e Guaporé. Houve alguns casos isolados, mas neste ano não teve combate direto. Em 2022, as ações policiais também foram muito efetivas, diminuindo pontos de tráfico e aumento o número de prisões. Tudo isso acabou diminuindo o número de homicídios”.