Presidente da Fundação Educacional da Região dos Vinhedos aborda sua trajetória, mercado de trabalho, qualificação, relacionamento comunitário e novidades para Bento Gonçalves
Formado em Economia e pós-graduado em Controladoria. Nestor José Caon começou sua carreira profissional como cobrador de uma entidade social, depois atuou como bancário e gerente financeiro. Como presidente da Fundação Educacional da Região dos Vinhedos (Fervi) está em seu segundo mandato, sendo sua primeira gestão de 2008 a 2012 e a outra de 2019 a 2022.
Casado com Neusa De Vila Caon e pais de dois filhos, a engenheira química Bruna De Vila Caon, de 28 anos, e o engenheiro da computação, Felipe De Vila Caon, de 26.
Presidência
Na vida, você tem as amizades, nasci no município de Nova Roma do Sul e estou em Bento Gonçalves há 50 anos. Tenho uma trajetória de muitos anos de passagem por uma empresa, onde conheci o hoje já falecido doutor Renan Proença. Ele me colocou nas linhas do CIC (Centro da Indústria, Comércio e Serviços) de Bento Gonçalves como diretor e, assim, apareceram oportunidades. Em 2006, também fui guindado ao conselho da FERVI e em 2008 foi a minha primeira gestão até 2012. Voltei em 2019 e estou terminando meu mandato em 31 de dezembro.
O conhecimento em si é você todo dia praticar, estar presente. Tem uma frase lá na universidade que diz “a educação é base para o desenvolvimento e integração regional”. Então, em toda essa trajetória, sempre digo para o pessoal da academia, que nunca é demais mais um dia para aprender.
Parceria Fervi e UCS
É um comodato que surgiu lá em 1992, na época o presidente do CIC era o empresário Iduíneo Pauletto e viu-se que faltava alguma coisa para Bento Gonçalves. Quando surgiu a Fervi lá em 1972, os abnegados professores viram que o estudante que saía do segundo grau, tinha que ir para Caxias ou Porto Alegre se queria se graduar. E ele disse, por que não Bento Gonçalves? Nós, naquele tempo, tínhamos cursos de agricultura e enologia que faziam um meio termo. Queríamos algo mais.
Assim, comandados pelo professor Lourenço José Dalsácio, junto com os professores do Colégio Aparecida, foram ver junto ao MEC (Ministério da Educação) a criação do curso no município. Conseguiram três: Economia, Letras e Matemática. Com o tempo, precisava investimento. Assim, em 1992, iniciaram as conversas e foi feito um comodato entre as fundações, ou seja, a Fervi, aqui em Bento Gonçalves, e a Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS), que é quem comanda a Universidade de Caxias do Sul. Então, o nosso convênio engrandeceu, porque partimos de três cursos de graduação para 14, abriu o leque. Inclusive com os investimentos que estavam sendo postos no comodato junto ao Carvi, que é o Campus Universitário de Bento Gonçalves. Dessa forma, crescemos em ambas as linhas, em educação e estrutura universitária para poder atender as demandas não só de Bento Gonçalves, mas praticamente de vinte municípios ao redor.
Crescemos em ambas as linhas, em educação e estrutura universitária para poder atender as demandas não só de Bento Gonçalves, mas praticamente de vinte municípios ao redor.
Papel
A FERVI administra, indiretamente, solicitações de empresários. Como aconteceu no passado, o SIMMME (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves) precisava de um curso de engenharia mecânica para atender as necessidades dele. Ora, os empresários vieram até a Fundação, ela constituiu junto a UCS e FUCS, e conseguiram a graduação para o município. Então, a gente agrega e ajuda as demandas de Bento e da região. No caso do segmento dos móveis aconteceu a mesma coisa e em outras áreas também. Então, a Fervi, hoje, administra os 63 hectares que ela tem e mais o terreno onde está constituída a Casa Geisel, alugado para um estacionamento.
Relacionamento com a UCS
Na área de educação, você nunca pode ser, vamos colocar no linguajar gaúcho, “ponta de faca”. Sempre coloca na mesa para pegar a melhor situação para o nosso demandado, que é o estudante. Então possuímos um relacionamento harmônico.
Manutenção do comodato
Ele vence em junho de 2027, então já estamos começando as negociações. Apesar que, temos visto que com a pandemia do covid-19, praticamente diminuiu cerca de 40% dessa base de estudantes em todas as universidades e faculdades. Por que isso? De um modo não sei se o pessoal está com problemas financeiros ou se viram em um impasse entre ter família ou estudar. Isso também já estamos fazendo pesquisas junto a universidade para vermos se conseguimos agrega-los de volta, porque lá na frente vai faltar. As vezes a oportunidade que temos para estudar é trancada por um breve momento, alguns por mais, outros por menos tempo, mas ela fica presa porque há uma necessidade maior do que o estudo.
Atuação em Bento
Hoje estamos com cerca de três mil acadêmicos, em uma estrutura que comporta aproximadamente cinco mil estudantes. Também estamos atendendo agora, desde o ano passado, por volta de 200 alunos da rede municipal. Fizemos um convênio entre a Prefeitura, UCS e Fervi, e estamos com um projeto novo com jovens entre nove e 14 anos para que sejam inseridos em uma futura graduação. Ou seja, eles têm o melhor dentro de um estudo de primeiro e segundo grau, com laboratórios de primeira linha de universidade. Então esses estudantes, que são turmas do Colégio São Roque, que a prefeitura nos cedeu, usufruem dos melhores instalações que temos na graduação de fisioterapia, na área de ciências e engenharia, e têm acesso pra dizer o seguinte: “quero ser alguém na vida”.
Muitas vezes vemos as faculdades e universidades que vão aos colégios e mostram o que oferecem. O que estamos fazendo hoje é inserir o aluno diretamente ao meio ambiente de universidade. Hoje, todos tem um celular com o “WhatApp” e o “Google” que dão acesso a tudo, mas a consciência, o que que a gente quer de melhor na vida, está no estudo.
Reunião da FERVI foi tumultuada?
Não sei se isso surgiu por um veículo de comunicação ou por alguém, mas como presidente nos últimos quatro anos, nunca ouvi e inclusive a gente vê nas atas, não existe isso. Quem conhece e participa de reuniões de sindicatos, de entidades, existe alguma exaltação de alguma pessoa, mas isso não é tumulto, é aprendizado. É muitas vezes o afinco da pessoa de querer participar. A Fervi esteve apagada por um certo tempo e agora nos seus 50 anos, ela rejuvenesce. O que queremos é recoloca-la no mercado, ouvir o passado, o incentivo que os professores tiveram, os abnegados que colocaram a educação em primeiro lugar.
Visão sobre o Executivo
Na realidade, o prefeito Diogo e a secretária de Educação, nós nos damos muito bem, sempre vemos o que a gente tem em Bento Gonçalves e pode melhorar. Existem algumas situações que poderíamos fazer mais rápido. Na iniciativa privada é melhor, mas na base da Prefeitura você sabe que demanda tempo, lá degera outros princípios muitas vezes mais demorados, mas, em um todo, trabalhamos muito juntos.
Mercado de trabalho e qualificação
Se a família é estruturada, a pessoa vai bem para o mercado e tem direcionamento, mas o que que acontece hoje, em termos de família? Ela cresce muito rápido e vai para o mercado, que tem N oportunidades. Só que, muitas vezes, antes de fazer a caminhada da vida, que é a da criança, ela já está com o laptop e com o celular na mão. O que a gente quer dela? Que ela fique mais quietinha, porque está ouvindo música ou assistindo um filme. Então, a oportunidade de mercado é tecnologia? Sim, mas o que que ela vai ser lá na frente? Com o tempo, quando ela vai entrar no colégio, ela já tem aquela história, 50% de tecnologia e 50% a educação base.
O que a gente diz na faculdade da vida? Ela vai ensinar essas pessoas a ter o ambiente entre a tecnologia e o ensinamento. Tenho 60 anos e me lembro na época que a minha mãe estudou, tinham aqueles quadros pretos, se você queria rever o assunto não tinha como. Eu já tive caderno. Então, você folheava lá atrás e revia alguma coisa. Meus filhos, hoje, estão no mercado abrangente que se diz, globalizado.
Entramos em uma área tecnológica muito cedo, então o pessoal acha que o Google dá tudo, mas se você olhar em todas as faculdades, universidades ou que sai muitas vezes de estatísticas e implementação, não é só você se dedicar junto ao professor, dentro da sala de aula, é olhar para o mundo, é estudar. Essa dedicação que faz o profissional melhor.
A graduação você tem que estudar, o professor está lá pra atender a sua necessidade, agora, se você não quer aprender, vai ter um pequeno espaço que se chama na área da tecnologia o “delay”, passou e você não viu, e vai faltar lá na frente.
Relação com a comunidade
Pessoas de 30 anos para cá, dificilmente você vai falar em Fervi e elas sabem quem é. Hoje se diz que é o maior pulmão de visita de Bento Gonçalves. Um lugar que você vai ao fim de semana lá, tem mais de três ou quatro mil pessoas que estão caminhando, que levam o as crianças para olhar a natureza, para ficar embaixo de uma árvore, tomar um chimarrão, comer alguma coisa e a gurizada leva seus brinquedos, vai passear, então eles dizem que lá é UCS, mas a propriedade é da Fervi.
Ela é um espaço comunitário para viver melhor uma situação do nosso dia a dia em família. A questão do resgate que a gente tem nesses 50 anos em 2022, é colocar de novo a Fervi no mercado. A Fundação é jovem e foi criada para Bento Gonçalves. Temos uma estrutura de espaço para corrida, ciclismo, aeromodelismo, algumas visitas programadas, falando com a reitoria, para conhecer todas as demandas que ela tem.
Ela é um espaço comunitário para viver melhor uma situação do nosso dia a dia em família.
Novidades
Participo da reunião do conselho universitário, então lá tem muita coisa agregada. Por exemplo, Bento Gonçalves precisa de um curso de enfermagem, a gente estuda, conversa, observa a área econômica do município e do seu entorno, se as demandas realmente trarão retorno, analisa que tipo de investimento precisa para colocar essa graduação e aí você vem para o mercado e oferece as vagas. Se tem retorno, você lança entre um e dois anos, que você precisa autorização do MEC, para ter toda essa estrutura.
Agora, a partir de janeiro, vai ter curso de enfermagem, que depois de psicologia, pedagogia, fisioterapia, é uma das últimas graduações para colocar medicina, que Bento também merece. Já tem em Caxias, então é só pedir para o Ministério, só que até 2023 ele bloqueou todas as vagas principalmente nessa área. Então ano que vem vamos ver o que o mercado diz para incentivarmos. A Fervi está, junto com a Universidade de Caxias do Sul, trabalhando para colocar vagas em Bento, temos estrutura. Para isso, a prefeitura também tem que avalizar.
Curso de medicina
Se olharmos o passado, em 1972 existiam, quando foi criada a Fervi, a Univates e a faculdade dos Campos de Cima da Serra, que é em Vacaria. Então na época essas três eram conjuntas, tanto que a Fervi junto com a Univates, formam o controle do Taquari- Antas, que é o intrínseco do Rio das Antas, entre Bento Gonçalves e Lajeado. Existia parceria no passado. Claro que com o caminhar, com a tecnologia, muito se avança. Oxalá, que isso dê certo. E também a gente diz que só pode ter um curso de medicina em cada município. Olha, o que está escrito pode ser mudado. Caxias do Sul tem 550 mil habitantes, se você olhar Bento Gonçalves e os 40 municípios do seu entorno, dá uns 300 mil. Por que aqui não pode ter dois cursos de medicina? Então acho que tem muito campo para ser expandido e muita proposta pra ser implementada durante essa jornada.
Trabalho conjunto
Quando você está presidente de uma entidade, só é um coordenador, quem demanda mesmo é o conselho diretor, ele que formata, que autoriza. Então, tem lá 16 pessoas e mais dois vice-presidentes, que com afinco e conhecimento, erguem os pilares do conhecimento para o mercado. Nesse conselho podem ter professores, empresários, pessoas físicas, na realidade a comunidade em si é representada.
Sucessão
Na realidade está bem conduzida já fazem 60 dias, agora no começo de dezembro vai ter o edital de convocação de assembleia geral, onde quem quiser, está aberto para colocar chapa para galgar ao conselho da fundação para os próximos dois anos. Então, na minha parte a gente já tem mais ou menos direcionados a questão de uma chapa com o novo presidente, que não posso divulgar agora, mas devemos conhecer mais ou menos até o dia 15 de dezembro, qual é a próxima estrutura de presidente e conselho.
Recomendação ao novo presidente
Muita paciência. Por que lhe digo isso? Porque o conhecimento e a educação são validados por cada pessoa. Indiretamente o viver é o tamanho do conhecimento individual. Então, muitas vezes, nos perguntamos quem é o melhor? Dessa forma, você sendo presidente de uma fundação de educação, tem que dar o melhor para a visualização do mercado. Ele que vai dizer que a vivência e a convivência são as melhores maneiras de transmitirmos conhecimento e amizade no nosso povo.
Legado
A FERVI é uma grande família. E quanto mais você agregar pessoas a você, ou seja, conselheiros, às pessoas abnegadas, ela se reestrutura. Então, sendo presidente ou ocupando esse espaço, a grande família que luta no dia a dia pela educação e pelo conhecimento, essa é o melhor retorno que eu tenho. É conhecer. Nunca esqueçamos, nunca é tarde para aprender e conhecer.
Portaria de Louvor
Nesta semana, foi entregue uma portaria de louvor e agradecimento à Fundação Educacional da Região dos Vinhedos – Fervi pela passagem dos 50 anos da instituição. O reconhecimento foi entregue pelos vereadores e prefeito Diogo Siqueira ao presidente da Fervi, Nestor Caon, e ao reitor da Universidade de Caxias do Sul, Gelson Leonardo Rech.
Portaria de louvor e agradecimento pelos 50 anos da instituição foi outorgada pelos Vereadores e Prefeito Diogo Siqueira ao presidente da FERVI, Nestor Caon, e ao reitor da UCS, Gelson Leonardo Rech