DO Altos de Pinto Bandeira dá destaque à cidade da região, que tem terroir diferenciado

Novamente a Serra Gaúcha se destaca no cenário nacional da vitivinicultura. Isso porque é a primeira região, em todo o país, a ter duas Denominações de Origem (DO) para vinhos. A primeira foi concedida ao Vale dos Vinhedos e, a segunda foi conferida, recentemente, a Pinto Bandeira, a primeira localidade brasileira a ter uma DO para espumantes.

O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Jorge Tonietto, explica que no Brasil existem dois tipos de Indicação Geográfica (IG), uma delas é a Indicação de Procedência (IP) e outra é a Denominação de Origem. “A IP se aplica a produtos de regiões específicas que se tornaram conhecidas, renomadas. Já a DO é para produtos de locais que apresentam qualidades ou características que são conferidas aos produtos pelo meio geográfico, incluídos os fatores naturais, como clima, solo, relevo e fatores humanos, como sistemas de produção e elaboração associados ao saber-fazer”, esclarece.

Conforme Tonietto, para obter o registro de uma IG, ela deve de fato existir. “Porém é necessário estruturá-la. Para tal, deve haver uma instituição que represente os produtores no pedido junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). É preciso delimitar a área geográfica da IG com base em critérios técnicos, e elaborar o chamado Caderno de Especificações Técnicas, no qual constam todos os requisitos específicos para o produto da IG, bem como o sistema de controle, entre outros”, especifica.

Para o profissional da Embrapa, a DO é importante porque permite aos produtores trabalharem de forma coletiva, promovendo a sua qualidade. “Com garantia de autenticidade para colocar no mercado consumidor, já que os mesmos devem ter uma atestação de conformidade que assegura que os processos de produção foram cumpridos, sendo uma garantia. Normalmente esses produtos conseguem maior facilidade de acesso aos mercados, bem como podem agregar valor aos mesmos”, salienta.

Características da região

A DO Altos de Pinto Bandeira compreende 65 quilômetros quadrados, incluindo também os municípios de Bento Gonçalves e Farroupilha. O pesquisador ressalta as características da região, que foram apuradas através de pesquisas realizadas pela Embrapa Uva e Vinho, Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com a Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho). “A área delimitada, a partir destes estudos, mostrou que ela apresenta um clima ameno em um patamar de altitude, que oferece condições diferenciadas para a interação ‘clima-solo-videira’ próprios da região, produzindo uvas aptas à elaboração de espumantes de qualidade diferenciada. Na verdade, trata-se de um produto que é um ícone da vitivinicultura da Serra Gaúcha”, expõe.

Regras para utilização da DO

Para a produção de espumantes com a DO Altos de Pinto Bandeira, Tonietto ressalta que há muitos requisitos. “Dentre eles destacam-se: produção de uvas exclusivamente na área delimitada, sendo autorizada somente três variedades bem adaptadas à região – Chardonnay, Pinot Noir e Riesing Itálico; sistema de produção em espaldeira com limites máximos de produtividade dos vinhedos para garantir maior qualidade às uvas; técnicas específicas de prensagem delas; padrões analíticos específicos para o vinho-base, bem como para o produto finalizado, espumantes exclusivamente elaborados pelo método tradicional, tempo mínimo de contato com as leveduras de 12 meses, controle sensorial para garantir a qualidade final e originalidade da produção”, menciona.

Uma década de luta da Asprovinho

O presidente da Asprovinho, Daniel Geisse, explica que a entidade luta pela DO desde 2012, com um longo processo que durou 10 anos. “Além das inúmeras reuniões internas dos grupos de trabalho criados dentro da associação para definirmos os objetivos e regras da DO, que iriam nortear o futuro da região de Pinto Bandeira, teve um grande esforço e dedicação de outras entidades envolvidas como a Embrapa e algumas universidades, como a UCS e UFRGS, que realizaram todo o trabalho de respaldo técnico e científico necessários para justificar os diferenciais de qualidade que fazem deste terroir um local especial para a elaboração de espumantes. Também contamos com a participação do Sebrae e, como apoiador do projeto, o Banco Sicredi”, cita.

Segundo Geisse, são raríssimas as regiões do mundo vitícola que reúnem as condições ideais para produção de uvas base para elaboração de espumantes de alto padrão. “Basicamente um dos principais diferenciais é que, neste terroir, nossas uvas, como a Chardonnay e a Pinot Noir, conseguem atingir seu grau de maturação perfeito, com boa sanidade e conservando uma acidez mais alta e níveis de açúcar mais baixos, o que é requisito fundamental para elaboração de espumantes de mais qualidade, o normal na maior parte das regiões produtoras do mundo é que quando a uva atinge sua maturação completa, o nível de acidez é baixo e de açúcar mais alto”, sintetiza.

Para o presidente, a DO é importante pois cria regras claras que têm objetivo de fazer com que região se desenvolva, em busca de que seus produtos atinjam o maior nível de qualidade possível dentro das características únicas do terroir. “Tornado-a uma especialista no que pode fazer de melhor, sendo também um norte claro em relação a como os investimentos devem ser conduzidos na busca de valor no longo prazo”, analisa.

Até agora, quatro vinícolas estão buscando o direito à certificação, são elas a Geisse, Don Giovanni, Valmarino e Aurora Pinto Bandeira. Há, entretanto, outras que pretendem se adaptar às regras para conquistar a DO em seus rótulos. “Este passa a ser um processo contínuo pela busca da excelência”, finaliza.