Há pouco mais de 40 anos havia apenas mato, parreirais e lavouras no local onde se encontra o bairro Santa Marta. Por volta dos anos 1979, iniciou-se a comercialização dos primeiros terrenos e, consequentemente, a construção das primeiras casas. No início, os moradores não tinham transporte, água, luz, esgoto ou calçamento, e para adquirir qualquer produto de primeira necessidade, deslocavam-se até o bairro Botafogo ou Centro.
Com o tempo, cresceu habitacionalmente, comercialmente e as lutas por melhorias proporcionaram grandes feitos para a população que reside por lá. Hoje, há comércios e muitas casas neste bairro tranquilo e em constante evolução.
Uma educação sustentável
A Escola Municipal Infantil Pinguinho de Gente é destaque quando o assunto é sustentabilidade e contato com a natureza. Localizada na rua Cristóvão Ambrosi, apresenta grande parte de seu pátio coberto por árvores, conectando os alunos com o meio ambiente e garantindo mais qualidade de vida.
Um dos grandes avanços foi o recebimento, nesta terça-feira, 8, de um equipamento biodigestor que transforma cascas de frutas em gás natural para um fogão e adubo, que é utilizado nas hortas orgânicas presentes na creche e para os pais que se interessarem. “Somos a primeira escola do município a ter essa máquina. Encaminhamos o projeto ao fórum e, através das multas que eles recolhem, nos contemplaram com R$14.500 para a aquisição do produto”, conta a diretora Nelci Piovesana Brandalise.
O sonho dela e das vice-diretoras, Neli Marlei Antunes e Rosane Cieflik, era obter esse aparelho para ajudar ainda mais a natureza e incentivar os alunos sobre a importância de cuidar do meio ambiente. “O interesse em tê-lo vem desde o ano passado, ele garante uma grande economia de gás e o adubo fornece o plantio de culturas saudáveis. Tem esterco e água que criam a bactéria, a qual vai enchendo os compartimentos e formando os componentes. Depois dos 25 dias que ele começa a produzir, alimentaremos com cascas de frutas que antes iam para o lixo”, completa.
No espaço infantil, o preparo da comida é feito com muito cuidado e preocupação, prezando sempre por insumos plantados no local. “Temos nossa própria horta com frutas, verduras, temperos e chás. Ensinamos as crianças desde cedo a importância de ter alimentos saudáveis e sem agrotóxico em sua dieta, tratando ainda por cima, as plantas com carinho”, comenta.
Além disso, o educandário faz um excelente trabalho de reciclagem. “Recolhemos e vendemos, compramos todo o material pedagógico para as crianças com o dinheiro que arrecadamos, como livros, brinquedos, jogos, entre outros. Temos grandes sacolas para separar todos os tipos de lixo, a cada 15 dias uma empresa vem buscar”, descreve. O papel da família é muito importante neste momento, Nelci elogia a participação de todos. “Além de terem ficado muito felizes com a chegada do biodigestor, estão sempre trazendo coisas para reciclarmos e revertermos em itens para os filhos matriculados”, acrescenta.
De acordo com a diretora, há um momento que ela nunca irá esquecer. “No início, quando carregamos as primeiras sacolas de lixo para reciclagem, uma criança disse ‘não vou mais trazer reciclados para a dire, pois ela estava jogando tudo fora no caminhão’. Com o primeiro dinheiro que ganhamos, compramos todos os brinquedos e passamos pelas salas para contar a novidade, foi ali que ele entendeu que estávamos convertendo em algo bom para todos. É uma grande lição”, finaliza.
Um líder comunitário
Desde 1989, o floricultor Joarez Batisti reside no Santa Marta. Durante o passar do tempo, atuou como presidente da Associação de Moradores em prol de melhorias e do bem estar da população. Atualmente, orgulha-se de estar há três anos e meio no cargo de Coordenador da Comunidade, trabalhando diretamente com a parte religiosa do local. “Saí do Botafogo e vim morar aqui, depois de alguns anos comecei a participar da associação e, em 2001, me tornei presidente. Ao todo, fiquei nove anos na liderança lutando por avanços, sempre atuando ao lado da igreja”, menciona.
Em sua gestão como presidente, conquistou a construção de calçamentos, do posto de saúde, do trevo na entrada do bairro, policiamento comunitário, alguns asfaltos, entre outras obras. “Ainda há muito a se fazer, como o roteiro de ônibus, onde é necessário ter pavimentação asfáltica em todas as ruas que o transporte urbano transita. Também há muitos buracos e, por isso, a população levou essa pauta para prefeitura”, revela.
Hoje, 12 de novembro, a partir das 20h, a comunidade vai ter um jantar dançante. Com isso, Batisti releva a importância da convivência em grupos. “O preço está bem acessível, apenas R$50,00 por pessoa para dançar o baile com a banda ‘Os Mensageiros’ e aproveitar muita comida boa. Essa relação de amizade é muito importante para a cabeça da gente, conversar nos faz abrir mais a mente”, convida.
A escola como princípio
A dona de casa, Juciane Ferreira, mora no bairro há 42 anos e seus pais foram uns dos primeiros habitantes do local. “Estudei na primeira escolinha fundada na comunidade e no início ela era bem pequena, depois mudou para o endereço que está hoje. Inclusive, é onde minha filha estuda, Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Noely Clemente de Rossi”, conta. A moça faz parte do Círculo de Pais e Mestres (CPM) e sempre está à disposição de ajudar todos. “O colégio se destaca na inclusão de alunos com necessidades especiais”, elogia.
Para ela, o atendimento da Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Marta é ótimo, a calmaria do bairro é um bônus e há um excelente ensino da rede municipal. Porém, o lazer dos moradores deveria ser melhorado, a única praça do local é pequena demais para comportar a grande quantidade de habitantes. “O espaço para as crianças poderia ser ampliado, pois no momento está bem apertado e defasado”, relata. Além disso, a mobilidade urbana tem alguns percalços. “Há bastante ruas asfaltadas no Imigrante e Santa Helena, seria importante ter atualizações nas vias que passam o transporte público do nosso bairro também”, realça.
A religiosidade e o canto
As primeiras famílias que se estabeleceram no Santa Marta, que já vinham de outras comunidades com o embasamento religioso muito forte, enfrentavam a escuridão das ruas e temporais para se reunir nas próprias casas para fazer orações. Após a missa feita em residências, permaneciam juntos e realizavam bailes, para que, apesar das dificuldades, a alegria não fosse deixada de lado.
O aposentado, Ozires Albani, 74 anos, é um dos fiéis que acompanhou o crescimento do bairro a partir daquela época e frequenta ativamente a Igreja Santa Marta há quase duas décadas. “No início não foi fácil, quando cheguei só tinha água e luz, a pavimentação e o melhoramento dos postes de luzes vieram vários anos depois. Eu e outros moradores fomos fazendo baixo assinados e pedindo por melhorias, até que fomos atendidos”, recorda.
Albani e a esposa cantam nas missas há 35 anos, entoado músicas litúrgicas para todos que participam dos encontros. “Convidava os vizinhos e amigos para entrarem para o grupo, com o tempo foi crescendo e comprei uma gaita para um rapaz tocar com a gente. Hoje em dia, os instrumentistas não estão mais na comunidade e seguimos somente com onze cantores, nossos ensaios ocorrem nas sextas-feiras e a missa em dois domingos do mês”, diz.
Para o aposentado, esses momentos são importantes por proporcionar união, diversão e reflexão. “Uma vez realizados um encontro da comunidade em que celebramos uma missa gaúcha, todo o repertório era composto por músicas da nossa região. Entramos cantando e tocando violão, foi muito bonito”, lembra. Albani destaca a necessidade de novas vozes para o coral, principalmente jovens. “Hoje só tem gente de idade, os mais novos foram embora ou simplesmente não participam. Adoraria que a juventude voltasse a estar envolvida, para herdar toda a tradição e fé”, completa.
Fotos: Cláudia Debona