Dado é de pesquisa do Sebrae junto ao IBGE. Porém, cenário financeiro para o futuro é preocupante, segundo gerência do Sicredi

O ano de 2022 está chegando ao fim, período que marca quase dois anos do início da pandemia. Em 2020, o cenário era de crise financeira, endividamento de empresas e corte de gastos por consumidores. Atualmente, a confiança do cliente está retornando, o que leva o índice, principalmente dos donos de pequenos negócios, a diminuir.

Segundo pesquisa recente, chamada de “Pulso dos Pequenos Negócios – 1ª edição”, feita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de donos de pequenos negócios com dívidas e empréstimos em atraso no país é o mais baixo desde maio de 2020.

Fonte: SEBRAE

A assistente de Relacionamento com o Cliente do Sebrae RS, Gabrielle Sartor, conta que de acordo com a pesquisa, 39% dos donos de pequenos negócios encontram-se sem dívidas, enquanto 37% estão com as dívidas sob controle e 24% em atraso. “Tal redução pode estar diretamente relacionada à retomada da economia após o cenário de pandemia, onde aos poucos, as micro e pequenas empresas estão reestabelecendo-se financeiramente”, explica.

Conforme Gabrielle, o acesso ao crédito foi decisivo para a sobrevivência dos pequenos negócios e a consequente retomada econômica. “Aliado a este fator, é importante ressaltar que planejamento e gestão financeira apoiam os empreendedores na tomada de decisão de pagamentos, investimentos e crédito, sendo o fluxo de caixa uma ferramenta relevante para rastrear gastos e fazer projeção de recursos da empresa”, salienta.

Ademais, a assistente de relacionamento sublinha que por meio de consultorias e orientações, a entidade apoia os pequenos negócios na implementação e aperfeiçoamento da gestão nestas temáticas. “Além disso, sabe-se que um dos principais desafios das micro e pequenas empresas na obtenção de crédito é a falta de garantias e a dificuldade no cumprimento das exigências solicitadas pelas instituições. Nesse sentido, o Sebrae RS possui programas como o Fampe (Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas) e a Plataforma Captei, que conecta instituições financeiras e pequenos negócios”, menciona.

Para ela, também faz parte da gestão financeira das empresas atentar-se à inadimplência dos clientes, pois essa também poderá desestabilizar a saúde financeira do empreendimento. “Um pagamento não realizado no prazo poderá resultar em desequilíbrio negativo do fluxo de caixa, fazendo com que as despesas sejam maiores que as receitas”, acrescenta.

Projeções para o futuro

A gerente do Sicredi de Bento Gonçalves, Deise Vanzela Ticiani, frisa que com a alta da Selic e a esperada desaceleração da economia mundial, a brasileira deve perder tração. “Isso pode limitar ganhos no emprego e na renda, desafiando a capacidade de pagamento das famílias, o que é consequentemente um risco relevante para a taxa de inadimplência”, destaca.

Segundo Deise, a elevada alavancagem das famílias mostra que o endividamento com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) está, hoje, nas máximas históricas. “Bem acima do ocorrido no período pré-crise 2015-2016, por exemplo. Com o aumento da Selic e as perceptivas desfavoráveis para a atividade econômica, espera-se que as famílias encontrem dificuldades para pagar ou renegociar tais dividas”, analisa.

De acordo com a gerente, alguns indicadores também sugerem que a inadimplência continuará subindo. “O percentual da carteira com atraso de 15 a 90 dias, por exemplo, mostra aumento tanto para a pessoa física quanto para a pessoa jurídica. Cabe destacar o acréscimo nos atrasos nas modalidades cartão de crédito e rotativo”, expõe;

As projeções indicam não apenas um cenário de endividamento. “Com a desaceleração da atividade e o patamar elevado da taxa Selic, é esperado que haja uma piora nos resultados das empresas, o que tende a pressionar a inadimplência. Todavia, não acreditamos que esse movimento será tão intenso quanto o que devemos observar na pessoa física. Em suma, o cenário é desafiador e os modelos de projeção sugerem que o endividamento continuará subindo”, finaliza.

O que é inadimplência?

A gerência de Finanças Corporativas e Economia do Banco Cooperativo Sicredi descreve que inadimplência é o descumprimento de alguma obrigação financeira, ou seja, falta de pagamento previsto em contrato até a data de vencimento acordado.

Além disso, o banco ressalta que o saldo em atraso acima de um determinado número de dias é chamado de “Over X”. Essas faixas de atraso consideram o saldo de todas operações que estão com atraso superior a X dias. As mais utilizadas são:
• Over 0: saldo em atraso;
• Over 14: saldo em atraso acima de 14 dias; e
• Over 90: saldo em atraso acima de 90 dias.

O conceito de inadimplência comumente utilizado no mercado é o Over 90 e, como conceito de pré-inadimplência, adota-se a faixa de 15 a 90

Principais fatores do aumento da inadimplência:

• Crise causada pela pandemia do coronavírus;
• Aumento dos indicadores econômicos: Selic, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), Certificado de Depósito Interbancário (CDI);
• Aumento das despesas, pressionando as finanças familiares;
• Mercado de trabalho instável e dificuldades de recolocação em algumas áreas;
• Diminuição da renda média familiar, devido ao desemprego;
• Descontrole financeiro (ausência da educação financeira);
• Aumento nos preços dos alimentos;
• Alto preço do combustível;
• Acelerada alta nos preços dos insumos e/ou matérias primas, gerando várias consequências para alguns setores, sendo construção civil, agronegócio, entre outros;
• Que nem todos os setores conseguiram realizar o repasse do percentual de aumento dos custos de insumos e matéria prima no preço de venda, impactando diretamente na redução de margem liquida para as empresas.

Fonte: Gerência de Finanças Corporativas e Economia do Banco Cooperativo Sicredi