No dia 20 de setembro comemora-se o Dia do Gaúcho. A data tem grande abrangência no Rio Grande do Sul e em Bento Gonçalves, onde se mantêm a tradição através dos Festejos Farroupilhas, CTGs, eventos tradicionalistas, entre outros meios de enraizar a história do povo gaúcho.
Uma promessa de amor pelo tradicionalismo
A designer gráfico e social media, Lays Pires F, participa de eventos gaúchos desde seus nove anos. O amor surgiu devido a paixão de seu falecido avô pela herança cultural do Rio Grande do Sul. “Ele era natural de São Francisco de Paula, e desde criança foi criado nesse meio. Alguns irmãos e tios dele laçavam e ele sempre amou a tradição”, conta.
Lays recorda que todos os domingos pela manhã, ele acordava cedo, ficava ao lado do seu rádio escutando músicas gaúchas e relembrando os velhos momentos dele com a tradição. “Vendo toda alegria e amor dele, comecei a me interessar também. Na época uma amiga de infância participava sempre dos festejos farroupilhas e dançava no CTG, pois seu pai era patrão em uma das sociedades na cidade em que residíamos na época, Cotiporã. Como estávamos sempre juntas, quando o pai dela assumiu o cargo, a garota me convidou para ir em um baile. Nesse momento eu tive certeza de que a paixão, também, já habitava em mim”, diz.
Com 10 anos, iniciou cursos de dança e entrou para a Invernada Artística do CTG Pousada dos Carreteiros de Cotiporã. “Além disso, fui prenda juvenil e pouco antes da minha mudança para Bento Gonçalves, encerrei minhas atividades na sociedade. Mas prometi ao meu avô quando ele estava muito doente, acamado, quase partindo, que eu sempre seguiria a tradição que ele tanto amava”, reconhece.
Para seguir a promessa, Lays garante que todo o ano, ao menos um final de semana, esta presente na ABCTG ou outra localidade, para honrar a tradição, participar dos festejos, dançar, usar as vestimentas e nunca deixar morrer isso em sua família. “Meu avô foi exemplo de pai, de homem e de vida. Sempre carregava muita alegria por onde passava, era querido por todos e tinha paixão pela vida, além de ter tido muito orgulho de ser gaúcho”, valoriza.
A designer sempre participa dos eventos do mês farroupilha. Por mais que, atualmente, devido a correria de trabalho, não consiga ir durante os finais de semana, o carinho pela data permanece o mesmo. “É um sentimento de amor, de estar perto dos que gosto, rever amigos antigos, relembrar o meu avô, honrar a paixão dele e a promessa feita. É um misto de tristeza (pela partida dele), saudade e alegria. É um momento aonde revivo inúmeras lembranças e recordações, em que o coração preenche de felicidade. O tradicional costelão está sempre presente, o que também era muito apreciado pelo meu avô”, sustenta.
Na hora de se vestir a caráter, sua preferência acaba sendo a velha e boa bombacha, cinto, bota campeira, camisa e chapéu. “Era assim que eu via meu avô e foi o que segui. Claro que existem alguns bailes que são mais tradicionais em que as mulheres não podem entrar vestidas dessa forma, então, nestes casos, eu abro meu guarda roupa e escolho o vestido. Geralmente é um vermelho/bordô que tenho há muitos anos e que gosto muito, era o preferido do meu avô e nunca me desfiz dele”, relata.
Para ela, o legado gaúcho significa amor, paixão e respeito pela história, além da saudade e sentimento que sente pelo avô. “Sempre que falo sobre ele, me emociono, porque realmente é algo que vem do fundo do coração. A tradição representa a amizade e o compartilhamento de bons momentos. Eu não saberia definir em uma só palavra, mas com certeza é algo que vai muito além de só estar lá e dançar”, conclui.
Dedicação aos acampamentos
O autônomo, Maurivam Biulchi, atua na ABCTG desde 2009. Anteriormente, prestava serviços de segurança para os rodeios. “Ali foi aumentando a paixão pelo tradicionalismo e fui participando com mais constância nos bailes e atividades. Até hoje sigo o legado dos acampamentos, todos os anos participo, organizo e faço grandes amigos”, revela.
Segundo ele, a área de camping se renova conforme uma nova edição, mas sempre há histórias diferentes para recordar. Infelizmente, algumas coisas o preocupam sobre o futuro. “A tradição fica mais enfraquecida em algumas entidades, porém, ainda acredito que se trabalharmos arduamente com os jovens, isso vai ser revertido e não perderemos nossa essência”, realça.
Os festejos realizados durante a semana do gaúcho, enchem o coração de Biulchi de emoção. “Ver a união das pessoas, as crianças participando com orgulho e empenho para que a tradição não morra, me deixa muito realizado”, acrescenta.
Além disso, o tradicionalista destaca a importância de manter a cultura gaúcha e a essência dos CTGs. “Acredito que dentro do assunto, sempre fui coerente no meu posicionamento de que, se não houver um ponto de equilíbrio, vamos perder as nossas raízes. Hoje está difícil, pois uma grande maioria não entende que CTG não é lugar de baile funk, de carnaval ou de outras festas fora da cultura gaúcha. É o ‘templo’ da nossa tradição e precisa ser respeitado”, conclui.
Pequena laçadora
Camila Martins Orso, nove anos, já agitava bastante desde que estava na barriga da mãe, Salete Martins, ao som dos shows do Mano Lima. “É um artista que gosto muito até hoje. Também frequento rodeios desde bebê com os meus pais. Aos seis, comecei a laçar vaca parada e aos sete, laçar a cavalo”, comenta.
Seguindo o gosto e exemplo do pai, Márcio Orso, a menina sempre esteve vinculada à tradição gaúcha e ao amor por cavalos. “Para mim, ele é muito gauchão e o melhor laçador do mundo. Sempre me incentivou no laço e na lida de galpão com os cavalos. Sou muito grata e tenho muito a aprender com ele. Adoro laçar e sou muito apaixonada pelos animais”, exalta.
A paixão pelos equinos transparece quando Camila fala das éguas que já teve, dando detalhes sobre as duas favoritas. “Aprendi a laçar com uma égua mansa e linda chamada Embiara 1043 da Cabanha Maufer, ela tem pelagem tordilha, meu padrão preferido de cores. Atualmente laço com minha outra égua rosilha, a Geada da Temprano, que vale ouro pra mim. Cuido delas com muito carinho”, declara.
A menina faz parte do Departamento Campeiro (DC) Laço de Ouro, o mesmo que seu papai participa. No início deste ano, esteve presente na Festa Campeira do Rio Grande do Sul (FECARS), em Pelotas, representando a 11° Região Tradicionalista nas modalidades Laço Prendinha e Vaquinha Parada. “Foi uma experiência linda que vou guardar em meu coração para o resto da vida. Também já participei de vários rodeios nas modalidades Laço Pai e Filha e Prendinha, ganhando alguns troféus e medalhas”, ressalta.
De acordo com Camila, ela fica muito nervosa quando participa de alguma prova nos rodeios. “Mas procuro me acalmar e lembrar sempre do que minha mãe me ensinou, que preciso acreditar que sou capaz e pensar: eu quero, posso e consigo. Nunca esquecendo de que o mais importante é competir, dando o melhor de mim, mas as vezes se ganha e outras se perde, faz parte e vida que segue”, afirma.
Segundo Camila, a tradição significa respeito e amor pelo Rio Grande do Sul. “Amo ser gaúcha e estar dentro dessa cultura. Além disso, gosto muito das provas campeiras, principalmente as de laço. Quero desejar um Feliz Dia do Gaúcho para todos(as)”, encerra.
Fotos: Arquivo Pessoal