A Câmara Técnica de Saúde pretende que a população do município, que é longeva, chegue à fase idosa com mais saúde, através de hábitos mais saudáveis, tendo como inspiração cidades da Itália, Grécia, Costa Rica, Japão e Califórnia
Um dos projetos do Bento+20, conselho que tem como objetivo criar propostas para desenvolvimento e crescimento de Bento Gonçalves nos próximos 20 anos, é disseminar e estimular a cultura das Blue Zones. Elaborada pela Câmara Técnica de Saúde (CT Saúde), a proposta leva em consideração o desafio de viver mais e melhor através de avanços na ciência. Com isso, foram apontadas pesquisas acerca de cidades reconhecidas pela longevidade de seus habitantes.
De acordo com a vice coordenadora da CT Saúde, Cristina Franzen, quando o Tacchini foi convidado para assumir a Câmara, um grupo representativo da sociedade do qual fazem parte Secretaria Municipal de Saúde, Conselho Municipal de Saúde, Associação Médica de Bento Gonçalves e Tacchini se reuniu e chegou até esse tema. “A partir da união desse time, começamos a fazer um levantamento epidemiológico e demográfico da cidade, para identificar qual era o perfil da nossa comunidade. Por meio desse estudo, a gente percebeu que através de uma projeção, a nossa cidade está caminhando para ser uma cidade mais longeva, onde vamos ter com um número grande de idosos”, explica.
Com base nessa informação, Cristina destaca que a equipe começou a fazer um brainstorming (técnica que visa gerar novas ideias) das necessidades do município, tendo como objetivo mudanças para 20 anos. “Foi uma pesquisa realizada em várias cidades de todo o mundo. Percebemos que os locais com um número maior de pessoas centenárias com menor incidência das doenças características desta idade tinham algumas características em comum”, salienta.
O pesquisador Dan Buettner, que idealizou o projeto, começou a fazer um levantamento de quais eram os costumes que essas cidades tinham em comum, para poder explicar o que fazia dessa população ser longeva e com saúde. “Foram encontrados alguns tópicos, como por exemplo: mexam-se naturalmente. Todos tinham o hábito de fazer caminhada, um propósito de vida, paravam para desacelerar, relaxar. As pessoas costumavam ter uma alimentação saudável, com legumes, verduras e também possuíam um ciclo de amizade saudável e fé, independente da religião, tinham espiritualidade, além da família em primeiro lugar”, expõe a vice coordenadora.
Conforme Cristina, esses pontos em comum foram encontrados nas cidades de Sardenha na Itália; Icária, na Grécia; Nicoya, na Costa Rica; Okinawa, no Japão e Loma Linda, na Califórnia. “O nome Blue Zones veio porque o pesquisador usava uma caneta azul para circular todos os locais que ele encontrava pontos em comum”, esclarece.
Ações para mudança em Bento
Para que os mesmos padrões sejam observados também na Capital Nacional do Vinho, o foco do trabalho do CT Saúde é em incentivar a população a viver mais e melhor. “Precisamos promover nessa comunidade uma mudança de hábitos, para que as pessoas tenham uma rotina mais saudável, tanto do corpo como da mente. Todas as nossas ações foram programadas também para atingir as escolas, pois temos em mente que as crianças são o reflexo dos nossos hábitos”, acredita.
Atualmente, em levantamento epidemiológico, a Câmara Técnica percebeu que o maior número de internações em Bento está relacionado a neoplasias, que é o câncer, além de problemas do aparelho circulatório. “Nessas ações, também promovemos prevenção. Temos projetos acontecendo no intuito de encontrar os cânceres no início, porque hoje as pessoas chegam no Tacchini com a doença avançada. Junto com nosso instituto de pesquisa, estamos desenvolvendo ações para pode identificar numa fase mais inicial e facilitar o tratamento”, relata Cristina.
A vice coordenadora sublinha que apesar de as Blue Zones sugerirem uma alimentação rica em verduras, sabe-se que a região tem mais o hábito de comer carne. O alimento também está presente no consumo das Blue Zones, mas em quantidades menores. “Acredito também que nossa cidade não desenvolve de certa forma a movimentação natural, percebemos até pelo trânsito, como as pessoas optam mais pelo carro do que fazer uma caminhada. Precisamos também pensar nas ações saudáveis não só do corpo, mas da mente”, reitera.
Grupo de multiplicadores
A primeira ação está sendo programada para acontecer em agosto. Cerca de 300 pessoas de Bento e região serão convidadas para divulgar a importância dessa mudança de hábitos e, com isso, disseminar multiplicadores. “Pretendemos falar um pouco sobre o que são as Blue Zones, quais são os projetos hoje, o nosso foco em viver mais e melhor e, a partir daí, contar com lideranças de bairros, lideranças públicas, escolas. Convidamos também empresas que produzem seus próprios alimentos, para que elas também nos apoiem em uma alimentação mais saudável. Nas escolas, as ações são voltadas às crianças, que são nosso futuro”, finaliza.
Foto: Thamires Bispo