Até pouco tempo, abastecer com diesel era mais vantajoso para o bolso do motorista. A procura por carros abastecidos com o combustível era maior, fazendo com que a indústria automobilística investisse pesado não apenas em camionetes robustas, mas também, em veículos de passeio.
Porém, a situação mudou na última quarta-feira, 22, quando o preço do litro do diesel superou o da gasolina, algo inédito, segundo o sindicato que representa os postos (Sincopetro). Segundo os economistas, a inflação acima da média, alta do dólar e a guerra na Ucrânia são os principais fatores para elevação do preço do litro dos combustíveis.
Ao longo do ano, o reajuste do combustível já passa dos 14%, ficando acima 3% da inflação dos últimos 12 meses, segundo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), que é de 11,73%.
No Rio Grande do Sul, o preço médio do diesel no dia 8 de janeiro era de R$5,24,.Com o aumento do dia 22 de junho, o gaúcho está pagando em média R$7,89, ou seja, em seis meses, o aumento do preço médio do litro do diesel é de R$2,65. Em Bento Gonçalves, o preço médio é R$7,51. Mesmo R$ 0,38 abaixo da média estadual, o valor do combustível impacta os caminhoneiros.
Dói no bolso
O alto preço do diesel afeta diretamente o dia a dia da população. É por meio das estradas brasileiras, que os caminhoneiros carregam alimentos, bens de consumo e demais itens indispensáveis para o cotidiano. Com o reajuste, os preços no supermercado, farmácia, padarias, lojas, oficinas e demais ramos de vários setores aumentam.
Armando Pedro Panizzi, 86 anos, colocou três carretas a venda por conta do aumento gradativo do óleo diesel e o baixo preço do frete. Panizzi conta que o custo de combustível de um frete de Bento Gonçalves até Belém do Pará, destino que ele costumava fazer com frequência, hoje, gira em torno de R$ 26 mil. “Se levarmos em consideração o resto, como pneus, pedágios, motorista, o custo passa dos R$ 35 mil, já o valor do frete pago, está em torno de R$ 32 mil”, relata o empresário.
Panizzi também tem uma oficina para veículos pesados e, segundo ele, é dali que sai a maior parte de sua renda hoje. “Tenho empresa de caminhões há mais de 10 anos e nunca passei por situação parecida como a que estamos vivendo agora. Os preços subiram de maneira absurda, e não há perspectivas de melhoras na economia. Não saberia dizer qual é a solução e como vai ser daqui para frente”, conta, acrescentando ainda que está com um colaborador parado em casa, recebendo o salário mínimo, porque viajar está inviável.
No momento da nossa reportagem, o filho de Armando e fiel escudeiro do pai, Norberto Antônio Panizzi, estava na estrada, em busca de conseguir aumentar o preço de um frete para Belém do Pará. Atento aos números, Norberto recebia orientações do pai que fazia o orçamento do frete, mas sem esperanças de conseguir lucros com a viagem, já que o valor do frete, infelizmente, é menor que os custos para, no mínimo, cobrir a viagem.
Perspectivas para economia
Devido a pandemia, a economia mundial sofre retração. A crise atinge países economicamente estáveis, como Portugal, que o custo de vida médio aumentou desde o começo do lockdown no país, em fevereiro de 2020.
Aqui no Brasil, o Governo Federal não conseguiu cumprir o plano da inflação no primeiro semestre do ano. De acordo com o IPCA, a inflação no país, vestuário, combustível, saúde e alimentação são os grupos que mais aumentaram o preço para o consumidor.
Diante da atual situação, o ministro da economia, Paulo Guedes, alega que está estudando o cenário com a equipe para conseguir projetar os rumos da economia para o segundo semestre. Em entrevista, o ministro afirmou que a projeção oficial do governo com dados e expectativas para segunda metade de 2022 deve sair em julho.
O professor e economista Mosás Ness pondera que a questão do aumento do diesel se dá por conta de dois fatores, o primeiro é que a reserva do combustível no mundo está no menor nível dos últimos cinco anos e que o produto é feito com partes mais refinadas do petróleo, e segundo a guerra na Ucrânia.
Sobre os próximos meses, Ness acredita que os rumos definirão como a economia vai andar. “Os próximos meses serão de retração, manutenção e aumento de preços, se a guerra não acabar.