Gasolina aumentou 18,7% e o diesel, 24,9%. Consumidor final é um dos principais afetados com os novos valores

No último dia 10, a Petrobras anunciou mais um aumento no preço dos combustíveis: 18,7% na gasolina e 24,9% no diesel. Os percentuais passaram, novamente, a ser preocupação dos consumidores. Não só quem tem carro, mas também quem depende de fretes pode ser afetado.

Segundo o economista e docente da Universidade de Caxias do Sul, Divanildo Triches, a subida do preço dos combustíveis tende a aumentar a inflação na economia brasileira de duas formas. “A indireta se dá através do aumento do preço nos transportes dos insumos básicos utilizados pelas indústrias. Isso acaba aumentando os custos de produção que serão repassados para os preços dos bens finais destinados ao consumo pela sociedade. No caso de setores menos oligopolizados, em que não seja possível o repasse custos para os preços, a consequência é uma redução na produção; na direta, há o aumento de preço dos transportes dos produtos finais para o consumo, como os alimentos em geral, vestuários, etc., além dos transportes de passageiros, com as passagens de transporte urbano e aéreas”, menciona.

Ao consumidor final, caso persista o aumento nos preços de combustíveis, segundo Triches, os valores devem pesar. “Pode aumentar, como destacado anteriormente, que é o efeito direto sobre a inflação. O aumento dos preços tem efeito de reduzir o poder de compra das famílias, uma vez que não tem reajuste de salários”, ressalta.

As empresas, seja para abastecer ou receber mercadorias, dependem dos combustíveis. Com a redução da possibilidade de famílias comprarem, Triches salienta que a economia tem menor movimentação. “As empresas, por sua vez, vendem menos, além de ter seus custos aumentados, como consequência. Persistindo a elevação, terão sua lucratividade reduzida e passarão demitir trabalhadores. Isso pode levar à falência dos empreendimentos menos capitalizados”, frisa.

Transporte coletivo é afetado pelo reajuste

Empresas de transporte, como a Santo Antônio, que dependem do diesel para trabalhar, estão passando por dificuldades neste momento. O diretor da entidade, Leonardo Giordani, relata que entre os maiores desafios está a impossibilidade de renovação de frota. “Com o passar desses dois anos de pandemia, não conseguimos repor ônibus novos. Também teremos a convenção coletiva da categoria em junho e precisamos repassar reajuste salarial aos nossos funcionários. Com o aumento dos combustíveis, outros produtos têm majoração, como pneus, peças e itens de manutenção”, explica.

Para o enfrentamento do aumento no preço dos combustíveis, Giordani esclarece que a empresa está se desfazendo de veículos ligados a atividades não urbanas. “Para poder honrar os compromissos do transporte urbano, estamos vendendo ônibus de turismo para termos condições de nos manter”, cita.
Sobre um possível reajuste no preço das passagens, ele afirma que a maioria das cidades que têm um transporte urbano estruturado está implantando subsídio aos sistemas de mobilidade, como Caxias do Sul, Canoas, Porto Alegre e Lajeado. “Há um consenso a nível Brasil que o tempo em que o sistema era custeado única e exclusivamente pela tarifa paga pelo usuário acabou; a população e, especialmente os trabalhadores, não têm como suportar mais aumentos. As cidades que não derem atenção a essa situação acabarão sucateando os sistemas de mobilidade e impondo tarifas massacrantes aos usuários”, expõe.

Segundo Giordani, outro fator importante a ser considerado para a satisfação do usuário e permanência na utilização é a velocidade média do sistema, ou seja, a preocupação de quanto tempo as pessoas permanecem no ônibus até chegarem aos seus destinos. “Os municípios referências em transporte têm criado a cada dia mais corredores de ônibus e usado outros meios para aumentar a velocidade média. Não se deve impor ao usuário que em seu trajeto tenha em um dia um veículo travando meia pista porque está largando uma carga, no outro dia uma valeta aberta e não fechada, e assim por diante. O pensamento precisa ser coletivo”, pondera.

O diretor da empresa menciona a cidade de Curitiba como referência mundial em transporte por ônibus. “É importante também pontuar que eles não usam soluções megalomaníacas, nem metrô eles têm, não são necessários grandes investimentos, eles basicamente usam canaletas exclusivas, sinaleiras inteligentes, em vez de quebra-molas usam lombadas eletrônicas e um sistema de paradas que dá conforto e abrigo aos usuários, principalmente para o clima frio”, cita.