Quatro Mulheres de Cláudio (da série Viagens Fantásticas)
Se vocês bem se lembram, naquela viagem alucinante de sábado passado, escapei por um triz de ser caçada por Calígula.
À meia-noite, estava de volta ao presente, mas com a pulga atrás da orelha: afinal, o que a vida reservara ao tirano mais cruel da História? Então, resolvi dar outro rolê pelas bandas da Roma antiga, no meu 69-hipersônico, chegando a tempo de ver o todo poderoso cair numa poça de sangue. “Aqui se faz, aqui se paga”, pensei sem muita convicção…
Enjoada com a cena, alonguei o olhar e visualizei um homenzinho manco escondido atrás de uma cortina, que começou a gaguejar ao ser encontrado pela guarda pretoriana. Era o tio de Calígula, um ser considerado minúsculo e insignificante até pela própria mãe. Seria o fim dele?
Não só foi poupado, como também foi alçado ao trono. Sorte sua ter nascido sem as benesses da natureza. Se assim não fosse, estaria agora mortinho da silva, junto à sua abominável família.
“Louvável a atitude dos conspiradores diante de um cara que passara a vida sofrendo bullying”, pensei. Mas quê! As boas intenções escondiam o desejo de manter o imperador sob o domínio do Senado, como um fantoche.
Adiantei o relógio. Precisava conferir com meus próprios olhos a atuação do filho rejeitado, do intelectual ignorado, do homem desprezado… Surpreeeeesa! O cara revelou-se muito inteligente e habilidoso na política.
Mas havia as mulheres… Ah, as mulheres! Tanto podem te levar ao paraíso como abrir as portas do inferno. Na verdade, nenhuma delas tornou Cláudio feliz. As duas primeiras foram excluídas por relacionamentos extraconjugais. A terceira, a bela Messalina, teve dois filhos com o imperador, mas foi executada por conspirar contra ele. Obstinado, obcecado, teimoso que nem uma mula, Cláudio se casou novamente, agora com sua sobrinha Agripina, que chegou chegando com Nerinho a tiracolo…
Acelerei meu fusquinha do tempo até o ano 54 D.C. Encontrei a turma toda num banquete que, como sempre, era uma verdadeira orgia de excessos. O provador do monarca experimentava a comida… Não gostei do seu sorrisinho estúpido, que mais parecia um esgar… Percebi um olhar de cumplicidade entre ele e Agrepina, outra messalina cheia de truques e segundas intenções… Aguardei… De repente, assim do nada, Cláudio caiu morto.
O trono? Ficou livre para ser ocupado pelo enteado, o ainda adolescente mas já devasso Nero, futuro incendiário de Roma.
Eta humanidade braba essa! Chega de traição e morte! Bora Paris…