Religioso lutava contra um câncer e não resistiu às complicações da doença; além de sua ação evangelizadora, vida do padre Izidoro Bigolin é relembrada por fieis e amigos de Bento Gonçalves
Familiares, amigos e fiéis participaram, na quarta-feira, 16, de uma despedida especial para o padre Izidoro Bigolin, morto aos 69 anos, após longa batalha contra um câncer. Após 43 anos de sacerdócio, o religioso, que fixou residência durante 25 anos em Bento Gonçalves e, atualmente, conduzia os trabalhos pastorais na paróquia São Pio X, em Caxias do Sul, recebeu inúmeras homenagens durante a cerimônia de despedida, marcada por orações, agradecimentos e muita saudade.
O velório de Bigolin teve início às 6h de quarta-feira, 16. Às 9h, dezenas de colegas sacerdotes e a comunidade de Caxias do Sul participaram de uma missa de corpo presente, presidida pelo bispo da Diocese, Dom José Gislon. Após, o corpo foi transladado para a capela Nossa Senhora do Carmo, em Linha Castro Alves, interior de Nova Roma do Sul, onde mais uma celebração foi realizada e, às 16h30mnin, ocorreu o sepultamento.
Durante suas duas passagens por Bento Gonçalves, no período de 1983 a 1989 e de 1996 a 2014, o sacerdote criou laços de amizade que perpassaram sua partida da cidade. Tanto, que em diversas ocasiões Bigolin retornou à Capital do Vinho para realizar visitas e celebrar missas. Como homenagem, o santuário diocesano de Santo Antônio realizou na quarta-feira, 16, duas celebrações em memória do religioso. Em nota, a paróquia lamentou a perda precoce.
“Não venho para ser servido, mas para servir!”
Natural de Nova Roma do Sul, padre Izidoro Bigolin nasceu em 12 de novembro de 1952. Era filho de Avelino Eugênio Bigolin e Fandila Baldin. Em 1965, o religioso ingressou na Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência, em Porto Alegre. Após os estudos secundários, tornou-se seminarista diocesano, passando a residir no Seminário Maior São Lucas, em Viamão. Cursou Filosofia na Faculdade de Filosofia Imaculada Conceição, em Viamão; e Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre. Foi ordenado sacerdote em 17 de dezembro de 1978, por dom Luiz Colussi, em Nova Roma do Sul, com o lema sacerdotal: “Não venho para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28).
Após sua ordenação, Bigolin atuou como assistente dos seminaristas no Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida, em Caxias do Sul pelo período de três anos. Depois, veio à Bento Gonçalves, na paróquia Santo Antônio, onde permaneceu por seis anos. Nos anos 90, foi à São Paulo onde realizou Curso de Especialização e Mestrado em Liturgia na Faculdade Assunção, período em que auxiliou na Paróquia São Paulo Apóstolo – Jardim Zaira, em Mauá/SP.
Em 1992 realizou o Curso de Espiritualidade Sacerdotal no Centro Internacional de Animação Missionária, em Roma. Foi Reitor do Seminário Maior São Lucas, em Viamão (1992-1996), período em que lecionou Liturgia no Seminário de Viamão, na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (ESTEF) e na (PUCRS), e atuou como coordenador diocesano e regional de liturgia.
Em 1996, Bigolin retorna à Bento Gonçalves após ser nomeado coordenador da Equipe Sacerdotal da Paróquia e Santuário Santo Antônio, onde permaneceu até 2014. Após o longo período, o sacerdote é transferido para Caxias do Sul onde desempenhou até 2016 missão de Vigário Geral da Diocese de Caxias do Sul. Desde fevereiro de 2015 era o pároco da Paróquia São Pio X, em Caxias do Sul.
“Padre Izidoro fez parte da minha decisão em ser padre”, afirma afilhado
Se para muitos, padre Izidoro Bigolin era “a cara” das festividades em honra ao santo padroeiro de Bento Gonçalves, para outros, o religioso foi inspiração para o despertar da vocação sacerdotal. Foi o caso do padre Elton Marcelo Bussolotto Aristides que viu na imagem de Bigolin, o modelo de fé para seguir de exemplo.
De acordo com Aristides, a convivência com o religioso teve início ainda na infância, quando era coroinha na paróquia Santo Antônio. Além disso, aos finais de semana e em outras ocasiões, como Natal e Final de Ano, sua família confraternizava estas dadas junto dos padres na casa paroquial. “Ele (Bigolin) fazia questão de ter os amigos por perto, agregando, para celebrar a vida, afastando assim, o sentimento de solidão”, revela.
No seguir de sua caminhada, Aristides garante que o apoio recebido do religioso foi essencial para a tomada de sua decisão em entrar para o seminário e seguir em busca do sacerdócio. “Eu posso afirmar, sem nenhuma dúvida, que o padre Izidoro fez parte da minha decisão em ser padre. Quando ingressei no seminário, durante o período das férias, ele sempre me convidava para substituir a funcionária que sairia de férias na secretaria paroquial ou na livraria. Eu acabava passando o dia lá, convivendo com ele”, lembra.
Após duas décadas de amizade, Aristides convidou Bigolin para ser seu padrinho de ordenação sacerdotal, que aconteceu na Comunidade Santa Catarina, no bairro Licorsul, no dia 13 de novembro de 2017. “Com muita alegria ele dizia: você será o meu primeiro afilhado de ordenação na minha vida sacerdotal”, revela.
Na terça, dia 15, poucas horas antes do seu falecimento, o afilhado de ordenação estava junto de seu padrinho no leito hospitalar. Devido a gravidade da sua enfermidade, a visita foi de poucas palavras, mas, segundo Aristides, significativas. “Ele me disse: Elton, hoje não estou bem, mas amanhã eu estarei melhor”. Sua fala foi seguida do gesto de segurar minhas mãos, o que ele repetiu novamente, então, pela última vez”, recorda.
“Quem tem fé não perdeu nada, pois ela nos projeta quando estamos mais cansados e doloridos”
A morte do padre Izidoro Bigolin, gerou uma série de homenagens nas redes sociais ao religioso. Na página do Semanário, no Facebook, uma enxurrada de mensagens lamentando a partida precoce e frases de agradecimento pela vida do sacerdote foram publicadas por familiares, amigos, fieis e a comunidade geral de Bento Gonçalves e Região.
Durante suas duas passagens pela Capital Nacional do Vinho, Bigolin conseguiu por em prática seu jeito de evangelizar e auxiliou a comunidade católica na realização de eventos e atividades pastorais, reunindo um grande número de amigos e apoiadores. A reportagem do JS conversou com algumas dessas lideranças para saber mais sobre as marcas deixadas pelo padre.
Antes de escolher o padre Izidoro como nosso vigário-geral da época, eu pensei em fazer uma pesquisa com os padres. E ele foi o mais votado. Ele sempre teve uma certa resistência, porque sabia que para ficar vigário-geral, deveria abandonar Bento Gonçalves e a paróquia Santo Antônio. Então, aceitei a permanência dele como pároco e assumisse a nova missão, por ter o apoio de muitos padres. Trabalhamos juntos por cerca de quatro anos. Padre Izidoro sempre demonstrou muito amor à Diocese de Caxias do Sul e paróquia Santo Antônio de Bento. Para ele sair de lá foi um grande sofrimento para o padre Bigolin. Ele sempre me dizia que não estava ajudando como deveria, mas pela confiança que eu tinha para com ele, eu aceitei essa situação, mesmo não sendo a ideal: o vigário-geral vivendo longe do bispo. Padre Izidoro foi um sacerdote muito simples. Era estimado pelos padres. Fez o bem que podia ter feito junto do povo, seja em Bento ou em Caxias do Sul. Lamentamos muito sua precoce morte. Mas, os projetos de Deus não são iguais aos nossos. Sem dúvida Deus achou digno de tê-lo junto de si, o purificou, pois o seu sofrimento foi muito grande nesses últimos tempos. Meus sentimentos à família e tenho a certeza que, agora, temos alguém que ora por nós lá no céu.
Dom Alessandro Ruffinoni – Bispo Emérito da Diocese de Caxias do Sul
“Sem sombras de dúvidas, perdemos uma liderança religiosa e envolvida em muitos projetos no município de Bento Gonçalves e região. Um homem de fé, muito devoto de Santo Antônio e que deixou a sua marca e legado junto ao santuário. Padre Izidoro Bigolin deixou o seu coração junto ao povo de Bento Gonçalves. Entristecidos, pela perda precoce deste grande sacerdote, estamos consternados. Deixamos nossos sentimentos aos familiares, nossa gratidão, em nome da nossa Igreja local por todo o bem que ele realizou durante sua vida sacerdotal, especialmente, por quase 30 anos junto à comunidade de Santo Antônio. Que ele interceda junto a Deus, pelas necessidades de nosso amado povo bento-gonçalvense”.
Ricardo Fontana – Reitor do Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha e ex-pároco da Paróquia Santo Antônio.
Nós acompanhamos o padre Izidoro Bigolin desde sua chegada em Bento até sua transferência para a Paróquia Pio X, em Caxias do Sul. Sempre que eu ligava para ele, para saber de sua saúde, padre Bigolin me informava de seu tratamento, mas sempre me dizia “sai de Bento, mas Bento não saiu de mim, porque ali encontrei um povo acolhedor, um povo prestativo e, sobretudo amigo. Agora, recebi uma nova missão e vamos cumprir da melhor forma possível apesar da minha doença”. Perdemos um grande religioso e um grande amigo.
Plinio Mejolaro – Ex-integrante do Conselho Administrativo Paroquial da Paróquia Santo Antônio e amigo do padre Izidoro Bigolin
Na história religiosa recente de Bento Gonçalves, Izidoro Bigolin é protagonista singular no território da fé, com íntimos laços de despertar solidariedade e espírito comunitário nas pessoas. A caminhada que tivemos juntos, na construção do livro que preserva uma parcela da memória religiosa da cidade, forjou uma nobre amizade repleta de emoção e pureza. Bento se despede de mais do que um padre. Dá adeus a um ser humano virtuoso.
Fabiano Mazotti – Jornalista e escritor
Falar sobre Pe. Izidoro Bigolin é testemunhar a intensidade de uma vocação vivida pelo seu grande amor pela Igreja. Com muita fidelidade viveu sua vida através do lema de sua ordenação sacerdotal: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28). Foi um homem de Deus que doou a vida em favor do povo a ele confiado. Amava e respeitava as pessoas nas suas individualidades e necessidades. Ele agregava as pessoas em torno de suas comunidades. Era um homem alegre e feliz que se realizava nas conquistas do povo. Era um grande enamorado da Liturgia. Nos quase 30 anos de convivência aprendi com ele a amar as coisas de Deus no planejamento zeloso das celebrações. Sempre me motivou a participar de escolas de formação, estudos e cursos pois queria que as nossas lideranças compreendessem a liturgia como realidade mais viva e mais dinâmica que os homens criaram para anunciar e testemunhar a missão da Igreja. Ele deixa um legado de amor, de doação e de muita generosidade. Muito sofreu, mas sempre se manteve firme na fé. Minha eterna gratidão ao meu querido e amado amigo que Deus me deu.
Liane Tesser Rigotto – Coordenadora da Liturgia da Paróquia Santo Antônio
“O Padre Izidoro Bigollin conseguiu mostrar para toda a comunidade a importância da igreja. Foi acima de tudo um grande devoto de Santo Antônio, que é o padroeiro da cidade, e motivou como ninguém as famílias a irem para dentro da igreja. Sua disponibilidade para participar de festas da comunidade e comandar casamentos, batizados e crismas, além de uma capacidade ímpar de relacionamento, foram diferenciais para trazer as crianças e aproximar as famílias da fé. Particularmente foi uma pessoa muito importante, pois batizou minhas duas filhas e celebrou meu casamento. Sua capacidade de aglutinação fez com que os jovens das escolas fossem à missa. Levou a religião para dentro das empresas, inclusive mostrando a importância da união entre a fé e o trabalho às equipes do Super Apolo por diversas vezes. Foi um padre que entrava na realidade das pessoas da comunidade, colocando-se de igual para igual com os seus fiéis e aproximando-os da igreja. Ele sabia da importância do capital e do trabalho, valorizando a força e a dedicação de todos os trabalhadores, e mostrando-lhes a importância de unir a fé aos seus objetivos. Enaltecia quem gerava empregos e oportunidades, mas repudiando qualquer sinal de exploração ou falta de conduta. Para ele, a fé não tinha limites para quem tinha boa índole. Deixará muita saudade em todos nós”.
Antônio Cesa Longo – Presidente da Agas