Na última quarta-feira, 8, o Comitê de Política Monetária (Copom) precisou fazer mais um ajuste na taxa básica de juros com o objetivo de conter a alta dos preços causada pelo aumento da inflação. Por unanimidade, os participantes do grupo votaram que a Selic deveria ir de 7,75% para 9,25% ao ano.
Analistas do mercado financeiro já haviam previsto o aumento anteriormente à decisão. Após passar seis anos sem elevação, esse foi o sétimo aumento da taxa Selic. Em março de 2021 a taxa foi de 2% para 2,75%; em maio para 3,5%; no mês de junho o acréscimo foi para 4,25%; e em agosto e setembro o aumento foi de 1 ponto percentual, para 5,25% e 6,25%, respectivamente. No último trimestre do ano, entretanto, os dois aumentos foram de 1,5%, em outubro para 7,75% e novembro 9,25%.
O professor de Economia do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Pedro Henrique Campetti, explica que a Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. “Mas ela é mais conhecida pelo seu ‘apelido’: taxa básica de juros da economia, pois a Selic influencia todas as taxas de juros do país”, afirma.
Como a Selic pode interferir no cotidiano da população?
Campetti salienta que a interferência que a Selic tem no cotidiano da população é, principalmente, nos juros cobrados em financiamentos, empréstimos e cartão de crédito. “Quanto maior a taxa Selic, maior tende a ser as taxas de juros para financiamento, etc. Isso pode ser facilmente observado por alguém que procurou um empréstimo há um ano e recentemente. Ou então que estava ou está procurando por empréstimo imobiliário. Além disso, esses custos de captação de dinheiro no mercado financeiro também são maiores para as empresas, o que desestimula investimento e o crescimento econômico”, salienta.
Por que a taxa básica de juros disparou tão rápido em pouco tempo?
O professor pontua que desde 2003 a inflação nunca esteve tão alta. Ele menciona também que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 9,26% até novembro. Ou seja, o acumulado dos últimos 12 meses é de 10,74%.
“Inflação alta é algo ruim na economia, pois gera distorções na previsibilidade dos negócios e piora do bem-estar das pessoas. Portanto, o Banco Central (BC) tenta controlar a inflação através da Selic, pois ao aumentá-la, isso ocasiona um custo maior de empréstimos e financiamentos. Consequentemente, o consumo cai. Com isso, tendem também a cair os preços (o que diminui a inflação). De todo modo, a política monetária (via Selic) é apenas um dos tripés macroeconômicos, pois há também a política fiscal cambial, ambas impactam consideravelmente a inflação”, realça.
Selic em 9,25% é benéfico para quem?
Campetti elucida que aqueles que tem investimentos atrelados à Selic podem ser beneficiados com a significativa alta.
- Tesouro direto: títulos públicos indexados à Selic
- Investimentos em bancos atrelados ao CDI, que é uma taxa que tende a ser muito próxima, quase idêntica à Selic
- Também fundos diversos e previdência privada podem investir em títulos do governo atrelados à Selic.
O que é o Copom?
De acordo com o Banco Central do Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão do BC, formado pelo seu presidente e diretores, que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia – a Selic.
As reuniões normalmente ocorrem em dois dias seguidos e o calendário de um determinado ano é divulgado até o mês de junho do ano anterior.
Como o Copom decide sobre o aumento da Selic?
O docente do IFRS destaca que o Copom leva em conta, principalmente, o cenário inflacionário no Brasil. “Outros fatores também são levados em conta e podem ser conferidos na ata de cada reunião, onde constam as justificativas para alterações na meta Selic”, garante.
Previsão para mais mudanças na taxa para os próximos meses?
Com a escalada da inflação, de acordo com o professor de economia, a tendência é de novos aumentos. “O relatório Focus de 3 de dezembro prevê a Selic em 11,25% para 2022”, relata.
Selic x dívida pública brasileira?
Conforme Campetti, quanto maior a taxa, maior o valor pago de juros com a dívida pública.
Durante o ano, Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) aumentou em mais de R$ 250 bilhões. O valor seria suficiente para pagar três anos de parcelas de R$ 400 do Auxílio Brasil. A cada ponto percentual que aumenta na Selic, a dívida fica em torno de R$ 35 bilhões maior. Em outubro, a dívida superou R$ 5,373 trilhões, segundo informações do Tesouro Nacional.