Sair da cidade e deslocar-se até as propriedades rurais para acolher as dúvidas e dificuldades do pequeno agricultor, ajudar a superar limitações de recursos e estrutura e garantir assistência técnica, tudo isso com muito conhecimento e dedicação. Esse importante trabalho, que contribui diretamente para a transformação da vida no campo é desenvolvido pelo extensionista rural, profissional que tem a data comemorada em todo país nesta segunda-feira, 6.
Dos 50 anos da vida de Thompson Benhur Didone, mais da metade, 32, foram dedicados ao trabalho que escolheu. O profissional começou a atuar como extensionista rural em 1989, na Cooperativa Vitivinícola Pompéia, de Pinto Bandeira, onde permaneceu até 1997, ano em que ingressou na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar), onde está até os dias de hoje.
Questionado sobre como se sente desenvolvendo esse trabalho, Didone diz que “gratificado em saber que muitas das informações que repassamos ou oportunidade que juntos conquistamos com as famílias rurais, na maioria das vezes são decisivas para a melhoria da vida do nosso público alvo”, responde.
Como exerce o cargo de chefe de escritório, Didone destaca que uma das funções mais importantes é buscar a parceria e participação de todas as entidades do setor primário do município na realização dos planejamentos e demandas existentes. “Hoje, existe uma perfeita parceria com a prefeitura, por meio de várias secretarias, Embrapa Uva e Vinho, IFRS, Comapa, cooperativas, vinícolas e escolas”, afirma.
Tentando sempre equilibrar o tempo entre escritório e campo, o profissional conta como é a rotina. “Visita as propriedades rurais, conforme a demanda, organização de tardes de campo, demonstração de método, organização de reuniões e trabalhos em grupo. Nas atividades, busca-se levar aos agricultores as políticas públicas e demandas específicas de cada localidade”, conta.
Além disso, ajuda a nível estadual, a registrar as vinícolas familiares. “Com orientações tanto na legalização dos empreendimentos, quanto na qualificação da produção de matéria prima e elaboração de produtos derivados da uva”, afirma. Além disso, atua no Centro de Treinamento de Agricultores de Fazenda Sousa no Curso de Vinificação.
Sobre o impacto que o trabalho causa na vida dos produtores, Didone salienta que os mais de 50 extensionistas que passaram pela Emater de Bento deixaram uma contribuição. “Acredito que a nossa maior conquista é a confiança que o agricultor possui na instituição e no trabalho sério e comprometido que temos com as pessoas assistidas”, finaliza.
Inserido na rotina das famílias rurais
Neiton Bittencourt Perufo, 35 anos, graduado em agronomia, Técnico Agrícola, Tecnólogo em Alimentos e Pós Graduado em Tecnologia de Alimentos, começou a trabalhar como extensionista rural em 2010. “Naquele ano, vários profissionais foram aprovados no processo seletivo e chamados para trabalhar na Emater. A partir daí, fizemos muitas capacitações técnicas, inclusive de como ser extensionista, que é uma atividade diferente dentro do contexto profissional e social, principalmente quando falamos na forma de se inserir no dia a dia das famílias, como se comunicar com o produtor, levando as devidas considerações e respeitando sempre a realidade das propriedades”, afirma.
Dos 11 anos de atuação, sete são em Bento. “Atualmente, trabalhamos com uma grande diversidade de produção, mas principalmente com fruticultura em geral e a execução de políticas públicas municipais, estaduais e federais”, conta.
Perufo descreve que ser extensionista rural é contribuir para o desenvolvimento da agricultura familiar. “Levando conhecimento, oportunidades e principalmente ideias. Da mesma forma, ‘colhemos’ conhecimentos com nossos assistidos que fazem nossa profissão de extensionista evoluir cada vez mais. A extensão rural é isso. Uma troca de experiência, a oportunidade de poder ajudar e aprender ao mesmo tempo”, afirma.
Dentre as atividades que desempenha, o profissional ressalta o trabalho junto às agroindústrias. “Nosso estado possui uma política pública que a Emater executa, específica para beneficiar os agricultores familiares que tem a intenção de legalizar um estabelecimento. Esse programa, aliado ao do nosso município, viabiliza os trâmites de legalização. Tem dado muito certo e nos orgulha dizer que somos a cidade com o maior número de estabelecimentos legalizados no Rio Grande do Sul”, assegura.
Sobre os desafios, Perufo afirma que são: conseguir se inserir no contexto das famílias, ganhar confiança e poder contribuir de forma significativa para a transformação. “O trabalho do extensionista vai muito além de contribuir para o benefício econômico da propriedade, mas também para o bem estar e desenvolvimento social das famílias. Por vezes nossa ligação é tamanha a ponto de construirmos verdadeiras amizades”, garante.
O olhar para a mulher do campo
Luciana Marion Fagundes da Silva, 31 anos, também começou nova na profissão. Professora de anos iniciais e educação infantil, Bacharel em Direito com especialização em direito agrário, trabalha como extensionista rural há quase oito anos, na Emater.
Durante esse período, atuou desenvolvendo um importante trabalho: o de valorização do saber da mulher rural nos grupos de fortalecimento de vínculos, além de fomentar a ideia da autonomia e o empoderamento feminino dentro da família e comunidade.
A profissional acredita que uma das principais funções é criar estratégias para não haver vulnerabilidade social no interior. “Algumas ações que evitam isso, estão abrangidas na valorização do trabalho da mulher rural dentro do ambiente familiar, no incentivar a agregação de renda na propriedade, com a consequente autonomia familiar e, também, em levar conhecimentos e auxílio profissional sobre ideias ou ações para que as famílias não caiam ou saiam de vulnerabilidades sociais onde as mulheres são mais expostas”, destaca.
A jovem salienta que sente orgulho em ver o agricultor alcançando os sonhos que começaram com a ideia do extensionista e posterior auxílio para a implantação. “Também é gratificante sentir a emoção de mulheres, especialmente aquelas que passam a enxergar que o seu trabalho, sua voz e sua luta têm valor”, conclui.