Morgan Freeman fez um vídeo (que eu achei que fosse um filme de fantasia) falando que o mês da Consciência Negra não deveria existir e que, para acabar com o racismo, é necessário “parar de falar sobre isso”. Sinceramente, achei que fosse só aqui ‘na minha terra’ que se ouvia esse tipo de coisa. Sempre tive um pé atrás com o ‘todo-poderoso’, parece-me que agora entendo.


Pegando o trem andando – achando que sentaria na janela – , a atriz e ex-ministra da Cultura (sim, da Cultura) (é…ex) repostou com uma legenda, que se enrola no próprio pescoço e se enforca:

“Ontem foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Quando teremos o Dia da Consciência Branca, Amarela, Parda…? Quanto tempo vamos ainda nos vitimizar ao peso de anos, de séculos de dor por culpas antepassadas? Quando vamos parar de olhar pra trás e enfrentar o hoje e nos olharmos com a coragem da cara limpa? Maduros, evoluídos, conscientes de nossa luta, irmanados em nossa capacidade de sermos … HUMANOS? Simplesmente IRMÃOS?”

O feriado da Consciência Negra foi incluído nos calendários escolares em 2003, mas, apenas em 2011, foi oficializada a celebração em âmbito nacional mediante a lei nº (não sei dizer no momento). A importância do Dia da Consciência Negra está ligada à importância de outras datas históricas. Elas estão relacionadas à ideia de criar memória. COMO TODAS AS OUTRAS DATAS HISTÓRICAS, ACREDITE.


Agora pensando na legenda da ex-ministra, a frase em primeira pessoa do plural me faz achar que ela se coloca como vítima de racismo. Ok! Vamos lá. Digamos que nós, negros, não vamos mais sentir dor pelos nossos antepassados. Beleza! Então vamos focar no presente? Ah! Teve aquele emprego que eu não consegui, por causa da minha cor. Aquele abastado anfitrião, que, à minha frente na mesa de jantar disse que, para seus colaboradores ‘negrinhos’, estava faltando banana, porque não estavam produzindo. E, envergonhado pelo que acabara de dizer, admitiu, como se tivesse sua pena reduzida, que era preconceituoso. Havia sido ensinado assim, não havia nada que pudesse fazer.
Hummm…acho que caiu por terra.


Então estamos todos olhando para trás? Diga-me, ex-ministra, como vamos enfrentar o hoje de cara limpa, se a minha cara limpa, mas preta, me impede de entrar em uma loja de departamento (que pensa que é grife, cof, cof) e gastar o dinheiro que eu ganho trabalhando?


Maduros, evoluídos e conscientes a ponto de achar que eu sou ladra ou menos capaz por causa da minha cor? Que grau de evolução, consciência e maturidade, excelentíssima ex-ministra, você se refere exatamente?
Capacidade de sermos humanos? Nenhuma outra pessoa negra já me comparou com um macaco.
Reflita, senhora.


Alguém tem dúvida que gostaria de parar de falar sobre racismo? De eximir a palavra e o sentido para todo o sempre? O problema, queridos IRMÃOS, é que não funciona assim, porque aquele probleminha lá atrás, continua até hoje, na devida escala do dia.