Golpistas estão em toda a parte. Não como antigamente, que eram só malandros, boas-pintas, bons de papo e miravam especialmente os idosos, afanando suas economias. Segundo a linguagem policial, era a famosa torpeza bilateral, porque a vítima caía no conto do vigário por ver vantagens nisso – o famoso olho grande.
Golpeados também estão em toda parte. E os que ainda não entraram nas estatísticas, são vítimas potenciais. Mesmo aqueles que se acham muitos espertos, acabam tropeçando no próprio ego, inflado pela habilidade dos golpistas, agora experts da computação.
Já os golpes estão cada vez mais sofisticados e, muitas vezes, transformam a vítima em vetor de disseminação dos mesmos. Que nem o mosquito da Dengue.
Aqui, em casa, alguns caíram direitinho. Menos eu. E não é por ser mais ligada. É porque sou meio desconfiada. Gosto de saber o porquê de algumas coisas e duvido de outras, o que já me rendeu rusguinhas na família e fora dela. Obediência cega, crenças cegas e sapiência a granel balançam minha fé. Tudo é muito relativo e por trás de tudo, pode haver interesses escusos que nossa vã filosofia sequer imagina…
E isso me reporta a uma história um pouco anterior à pandemia. O cara viajava pelos picos nevados do Chile, quando topou em oferta irrecusável na Internet. E então começou a saga. Primeiro veio a pesquisa virtual, depois, a decisão de comprar a carta de crédito. Com a nota fiscal emitida como manda o figurino, a transferência do valor começou a passar pelo processo, que se mostrou complicado. Felizmente.
Acredito que essa dificuldade tenha sido o primeiro sinal do Universo… O segundo foi a imagem da “gerente” do Banco que, inclusive, se desvelava para finalizar a transação em tempo recorde. Na verdade, o fundo da foto é que começou a mexer com a cabeça do comprador. Ele via a representação de um “buraco negro” da anatomia humana, com o respectivo plissê e tudo. Estava desenhado aí o “buzeto del culo”, como diriam nossos antepassados italianos.
No retorno, ainda no aeroporto de Guarulhos, o cara finalmente acordou.
-É golpe! – comentou desesperado – Tenho que cancelar a operação.
Urgia trocar o chip do celular (o internacional pelo nacional) para enviar a ordem de retirada das tropas do campo de negociação. As unhas ruídas não ajudavam.
-Um clip! Preciso de um clip.
E, de repente, naquele chão limpíssimo, brilhou a pecinha de metal.
No fim, tudo deu certo. Graças a sua estrela… e à arrogância dos golpistas.