Feriadão ardente no litoral. Expor a brancura no sol nem pensar. Mas olha o que acontece com quem tem pele de porcelana: a radiação UVA, que passa através da peneira de ozônio e se dissimula atrás das nuvens, acha um jeito de infernizar a vida das branquelas, se infiltrando pela trama dos tecidos. E, ao descobrir áreas não alcançadas pelo protetor, tatua nossa ingenuidade com pintas vermelhas, que ficam roxas, descamam e voltam à sua cor – ou à falta de cor – natural.   

Por isso, continuo achando que o bom da praia é ficar na sacada com a típica cara de paisagem… O olhar perdido no azulão sem fim, e os ouvidos sintonizados no marulho das ondas que se desfazem em lambeijos na areia… E ir além… Viajar até os vagalhões que se chocam nas pedras da Ilha dos Lobos Marinhos e imaginar os fofinhos se espreguiçando… (Ainda terei um binóculo zoom!).

Mas nem só de mar e amor vive o homem. Depois de uma parada brusca imposta pela pandemia, artistas correm atrás do prejuízo, com ânsia redobrada, inclusive inflacionando o mercado. E a gente colabora, é claro, levando nossas crianças para assistir ao espetáculo. Da casa, foi uma baixinha acompanhada por três marmanjas. Estávamos ansiosas pra ver a nova versão dos contos de fada, onde todas as princesas disputam o mesmo príncipe encantado.

Com uma visão parcial do palco e sonoridade comprometida – poucos têm uma Casa das Artes como a nossa– e sem paciência para histórias muito longas, a garotada se mexia que nem pipoca. Fiquei visualizando salas de aula com a hiperatividade borbulhando nas classes, tendo que ser canalizada e redistribuída no abc cotidiano. Definitivamente as mestras são mais artistas de que qualquer elenco teatral.

Mas a nossa baixinha de nem sete anos ligara as antenas e não perdia nenhum lance. Aliás, ela nos repetiu mais tarde toda a história, baseada na ideia de que o príncipe devia ser desencantado para casar com a princesa certa. E o encanto só acabaria se ele encontrasse o amor verdadeiro.

Foi nesse ponto que uma das personagens se dirigiu à plateia, para salientar a importância do amor nas relações, e perguntou:

-Será que ele vai encontrar o amor verdadeiro?

E a pequena respondeu em alto e bom som:

-Acho difícil!

Foi a parte mais engraçada do espetáculo, ao menos aos adultos presentes. Mas também serviu para uma breve reflexão: as novas gerações não vão cair no conto da fada, beijando sapos na expectativa de que virem príncipes.