A pergunta é de Mário Sérgio Cortella, o filósofo que foi premiado com uma inteligência acima da média e um DNA capilar denso e extenso, diferentemente dos outros QIs bem dotados do Brasil, que ostentam uma cuca lisinha e lustrosa. (Se servir de consolo aos carecas anônimos, saibam que as estatísticas mostram que o que falta em cabelo, pode estar sobrando em intelecto).
A reflexão sugerida pelo pensador é de nos questionarmos sobre o impacto que tivemos neste mundo e o que vamos deixar quando partirmos…
Bom, por conta da minha partida, o mundo não vai parar. O dólar não vai se encolher de tristeza, até porque ele nem me conhece. A gasolina continuará na sua maratona de revezamento com o gás de cozinha, a carne vermelha e alguns itens hortifrutigranjeiros. Mesmo que eu cante, além-túmulo, “não quero mais pepino”, o produto teimará em sua escalada… insossa. E por mais abobrinhas que eu deixe escrito, o preço das mesmas sequer vai considerar minhas reticências… A pandemia talvez boceje de cansaço, mas não por minha causa. Nem meu voto fará falta nos escrutínios, porque deixei de votar nas últimas eleições, por pura falta de convicção. E mesmo quem lê minhas crônicas vai encontrar outras histórias preenchendo meu espaço.
Eu compartilhava essas considerações nada animadoras com um “grupo cabeça” do whats, quando me dei conta de que havia provocado uma comoção coletiva. De início, sentimentos vazaram de forma meio contida, aqui e ali, como filetes d’água escorrendo… À medida que as contribuições aconteciam, eles foram se encontrando e engrossando. No fim, até correntes subterrâneas vieram à superfície e se juntaram num grande rio que gerou muita energia. De graça.
Pensar na própria finitude não costuma acontecer enquanto se é jovem, porque a sensação é de imortalidade. Já nesse grupo, filosofar é quase uma prática. Muitas ideias surgiram, e da conjunção delas concluiu-se que a única coisa que nunca morre é o amor. Ele permanece vivo através de nossa descendência, mas não só. Ele é o suporte das realizações, que podem ser grandes e impactarem o mundo, ou pequenas e cotidianas, como atos de solidariedade, de amizade, de proximidade, de partilha, de cuidados, de afeto…, que certamente impactam vidas. O amor em suas múltiplas manifestações faz a diferença, transformando nossa passagem em algo valioso que permanece nos corações das pessoas que tocamos e na natureza que zelamos.
Enfim, as emoções liquefeitas drenarem a alma, e o grupo retomou sua rotina, consciente de que a jornada é curta, mas que pode ser tão densa e extensa quanto a cabeleira de Cortella.