Apenados precisaram aceitar regras mais rígidas ao se mudarem para Penitenciária Estadual há dois anos
O diretor da Penitenciária Estadual de Bento Gonçalves, Volnei Zago, esclarece que a mudança do presídio no centro da cidade, para a nova casa prisional, fez com que houvesse uma adaptação cultural.
No antigo local, os presidiários tinham uma liberdade interna nas galerias maior do que ao que estão acostumados atualmente. Novas regras, como uniformes, recebimento de kits de higiene, estruturas e atendimento, precisaram ser adaptadas por eles.
Laranja é a nova moda
O uniforme é uma regra que os presos tiveram que se adaptar. Atualmente há poucas casas prisionais que possuem vestimenta própria e conseguem manter isso. O benefício dessa simples organização está no fato de que todos se tornam iguais dentro da penitenciária e ninguém se diferencia. “Os presos traficantes que tinham poder aquisitivo se vestiam diferente, tinham tênis de marca, roupa cara, eram desiguais e usavam isso para se destacar”, explica Zago.
Dessa forma, não há aquela venda e troca de favores dentro das celas para obter uma roupa cara que ajudaria o apenado a se destacar de outro. Não é mais permitido que visitas levem tênis caros ou outras vestimentas, já que a camiseta, moletom e calças laranjas, calçado e chinelos são todos idênticos e fornecidos na entrada do preso. Não podendo ser substituídos por outros.
Segurança que começa dentro das grades
Além da questão de uniformes, as necessidades básicas também são atendidas no novo local. Escova e pasta de dente, papel higiênico, sabonete e toalha são disponibilizados na chegada do apenado. “O objeto geral disso é diminuir o poder das facções, porque se um preso entra em estado de super necessidade, outro traficante vai oferecer um sabonete, uma pasta de dente, e um dia isso vai ser cobrado”, destaca.
Essa cobrança vem em forma de favores, em que a pessoa acaba sendo coagida a cometer outros delitos quando sai da prisão para poder pagar o que deve. Isso prejudica a segurança pública num todo, já que mais crimes ocorreram na cidade, e conseguir cortar essa rede de trocas beneficia o cidadão.
O serviço local que não afeta a cidade
Dentro da Penitenciária há uma UPA que serve para atender os presos. Dessa forma, não há necessidade de deslocar o criminoso até um local de atendimento médico onde outros bento-gonçalvenses estão. Há também o serviço mais especializado de dentista e psicóloga para os detentos.
Há casos em que quando um apenado está em deslocamento, aliados de facção podem tentar um resgate, ou rivais tentarem acerto de contas. Isso traz riscos, tanto para os agentes que realizam esse transporte, quanto para a população nas ruas. “Quanto mais se evitar o deslocamento dos presos até um hospital ou a UPA, é mais segurança para a população”, reforça o diretor.
Trabalho e estudo prisional
Os presos, através do benefício de redução penal, são expostos a cargos de trabalho e estudo para que possam ajudar a instituição a se manter mais auto suficiente. Atualmente quase não há trabalhos terceirizados na cadeia. O único serviço que ainda é feito por pessoas de fora é a manutenção de equipamentos de segurança, como os scanners corporais e objetos.
Em relação ao trabalho, há 60 apenados realizando atividades laborais – cozinhando, faxinando, trabalhando na biblioteca, auxiliando enfermaria com arquivamento de prontuários, plantando e cuidando de hortaliças na horta, fazendo manutenções simples, como troca de lâmpada e desentupimento de vaso sanitário – tudo em acompanhado por guardas.
Além disso, há 180 presos que estudam, a nível de ensino fundamental e médio, realizando provas periódicas. Há cursos que são feitos, ensinando-os a costurar e a plantar. A costura é utilizada para que eles próprios façam os uniformes e o ensinamento de horticultor vem do Instituto Federal de Bento. A leitura de obras também é incentivada dentro da cadeia.