Projeto foi criado há quase duas décadas na associação. Atualmente, pessoas com deficiência podem participar dos treinos nas quintas e sextas-feiras
O fato de que praticar exercícios regularmente faz bem para a saúde e resolve uma série de problemas, todo mundo sabe. Pelos benefícios que a prática tem, ela não deve ser limitada, mesmo para quem tem algum tipo de deficiência.
Pensando nisso, a Associação de Deficientes Físicos de Bento Gonçalves (Adef), há quase duas décadas, criou o Projeto Tênis de Mesa Paralímpico. Segundo a coordenadora da entidade, a assistente social Andressa Bem, o objetivo inicial era ofertar uma atividade que complementasse o trabalho da fisioterapia neurofuncional, nas questões de reabilitação, pois trabalha equilíbrio, coordenação, força, postura, entre outros. “Além disso, o esporte traz benefícios para a saúde mental, pode auxiliar na socialização, na independência, autoconfiança e autoestima dos pacientes”, explica.
Por conta da pandemia e seguindo as normas sanitárias, o projeto foi pausado. Porém, na última quinta-feira, 7, a associação voltou às atividades. Andressa pontua que a prática de exercícios físicos é de extrema importância para a saúde. “Ele pode trazer diversos benefícios, tanto para a saúde quanto para a qualidade de vida da pessoa. Melhora a circulação sanguínea, o fôlego e ainda proporciona sensações de prazer e alegria”, pontua.
A assistente social menciona também que para além disso, praticar esportes pode auxiliar na reabilitação da pessoa com deficiência. “Melhora a autoconfiança e autoestima, tornando os praticantes mais otimistas e seguros para alcançarem seus objetivos. Também previne as enfermidades secundárias à deficiência e ainda promove a integração social, levando o indivíduo a descobrir que é possível, apesar das limitações físicas, ter uma rotina normal e saudável”, acrescenta.
Para os deficientes, a coordenadora da Adef salienta que é fundamental respeitar os limites e possibilidades de cada indivíduo, de forma segura. “Estimulando o desenvolvimento individual e adequando a prática esportiva às necessidades e objetivos das pessoas com deficiência. O esporte precisa ser saudável, adequado, adaptado e divertido, neste sentido a relação com seu corpo será harmônica, independente das limitações”, destaca.
Entre os exemplos de alunos que já se envolveram com a prática na associação, Andressa diz que nota melhora na condição cardiovascular dos praticantes, aumento da força física e da agilidade, aumento da coordenação motora, do equilíbrio e do repertório motor, noção de direção e motricidade. “O esporte oportuniza o aumento da sociabilização entre pessoas com e sem deficiências, além da noção de competividade. Podemos mencionar também o aumento da percepção que o indivíduo e a sociedade passam a ter das pessoas com deficiência, acreditando nas suas inúmeras potencialidades”, relata.
Nesse processo, segundo ela, o papel da Adef é fundamental para portadores de alguma deficiência, familiares e cuidadores. “É o único espaço que oferta modalidades esportivas adaptadas às pessoas com deficiência física e neurológica associada com profissionais especializados na área de sua formação”, sublinha.
A educadora física Carla Lizott, em seus mais de 20 anos de experiência na profissão, garante que é de total importância que pessoas com deficiência pratiquem esportes. “São inúmeros os benefícios, pois dentro das possibilidades de cada um, serão estimulados vários sistemas do corpo, mas o mais importante é a sociabilização e integração que o esporte proporciona, isso faz total diferença nesta nova perspectiva de vida. Trabalhado muito o emocional, o pertencimento a uma vida ‘ativa e capaz’”, valoriza.
Já nos primeiros momentos de prática, a treinadora afirma que há mudanças nos semblantes dos alunos é alterada. “Eles chegam inseguros, tímidos, cabisbaixos, e em pouco tempo estão mais comunicativos, sorrindo mais, se desafiando, cooperando e ajudando os colegas com diferentes limitações. O condicionamento físico também é notado rapidamente, o ganho de condicionamento físico geral é notável e muitas dificuldades como falta de força, coordenação, equilíbrio, agilidades, reflexo são melhoradas”, conta.
Um dos principais pontos é a relação dos atletas com o próprio corpo, que se modifica, segundo a educadora física. “Com as perspectivas de vida também, pois se veem capaz de muitas destrezas que pensavam estarem incapazes de realizar. Com certeza o mais importante da prática é isso. As pequenas vitórias, adquiridas a cada ponto, saque, manobra realizada com a raquete e a bolinha, atingem diretamente na autoestima, na possibilidade de vencer a limitação, seja ela momentânea ou permanente, mas que ainda assim não seja ela que te determina como indivíduo e sim a sua vontade e determinação. São todos guerreiros vitoriosos”, destaca.
A professora afirma que todos estão aptos à prática do tênis de mesa paralímpico. “Na Adef, eles são encaminhados para pelos fisioterapeutas, que veem benefícios para seus pacientes. Mas o esporte é totalmente inclusivo, adaptável para todas as deficiências. O que fará com que o atleta se destaque é a determinação, o foco, a periodicidade de treino. Como em tudo na vida, para ter excelência você precisa se dedicar ao máximo”, realça.
Superação pelo esporte
Há cerca de três anos, o professor Paulo Rusezyt conheceu a associação e começou a praticar o tênis de mesa. Ele tem uma deficiência chamada Charcot-Marie-Tooth e, devido a problemas médicos, teve o agravamento da doença. “Fiquei por dois anos em uma cadeira de rodas. Desde esse momento começou a bater uma depressão muito forte em mim, não tinha mais vontade de fazer nada, foi então que a Adef apareceu e, a partir de um convite, comecei a praticar o esporte. Na época era a treinadora Carla, no primeiro treino ela disse que a gente ia treinar para competir. Eu nem sabia sacar direito”, lembra.
Depois de um período a palavra da educadora se cumpriu e ele teve a oportunidade de participar de uma competição de tênis de mesa, na qual levou o prêmio de 3º lugar. “O esporte na vida do deficiente físico tem um papel extremamente importante que desenvolve não só a autoestima, mas proporciona sensação de inclusão e, como no meu caso, ajudou no tratamento da minha depressão. Ele tem o papel de incluir”, descreve.
A pandemia freou o desenvolvimento de Paulo, pois ele não pôde mais realizar os encontros em grupo para jogar. As evoluções já alcançadas, entretanto, já são uma grande conquista. “Desde que eu deixei de ter essa oportunidade, minha evolução em diversos aspectos começou a ser mais lenta porque quando comecei o tênis de mesa e as fisioterapias na Adef, não conseguia segurar um garfo na mão. Tive o apoio da entidade, de alguns estudantes que foram meus alunos e criaram uma órtese adaptável para eu conseguir me segurar. Com os treinos, perseverança e parceria, comecei a segurar os talheres com meus dedos que estavam bem rígidos e tortos, eles começaram a se alinhar”, destaca o educador.
Além disso, outras melhoras foram notadas. “Diferença na capacidade respiratória. Acabei melhorando em um monte de pontos, cheguei na cadeira de rodas e devido ao esporte associado à fisioterapia, consegui, aos poucos, levantar. Hoje caminho com muletas”, conta.
Atualmente, Rusezyt consegue se alimentar sozinho e ficar de pé, mas uma das principais diferenças, encontrou na saúde mental. “Me ajudou principalmente na depressão, porque um dos problemas que mais atingem a pessoa com deficiência é se sentir isolado de tudo. Muitas vezes, enquanto cadeirante, tinham alguns lugares que eu não podia ir porque não tinha acesso para entrar na loja, no restaurante, não podia ir no banheiro, então você começa a sentir como se não fizesse parte de alguma coisa, como se não fosse um ser da sociedade e isso vai te colocando para baixo. Mesmo tendo apoio da família, dos amigos, da minha esposa, o esporte veio para servir como um complemento, para ver que posso fazer parte de alguma coisa”, conclui.
Contato
Para mais informações sobre o tênis de mesa paralímpico, basta entrar em contato pelos telefones (54) 3451-4499 ou
(54) 99916-1201.
Fotos: Thamires Bispo