Brigada já auxiliou 10 casos como este, apenas em 2021. Corpo de Bombeiros atende, em média, uma ocorrência por mês
No último final de semana, dois casos chamaram atenção para algo que acontece de forma recorrente: o engasgo de bebês. Na sexta-feira, 13, uma criança de 18 dias se sufocou com o leite materno e na madrugada de domingo, 15, ocorreu o mesmo com um recém-nascido de apenas oito dias de vida. Nos dois casos, a Brigada Militar (BM) foi acionada e realizou a manobra de Heimlich para o salvamento de ambos.
O major do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (Bpat), Luis Fernando Becker, afirma que a incidência desses casos não é rara. “Neste ano, somente a BM atendeu 10 casos envolvendo crianças”, frisa.
O ideal, entretanto, é acionar o Corpo de Bombeiros ou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Eles são quem socorrem. Como não é uma ocorrência típica de policiais atenderem, mesmo com o preparo básico de primeiros socorros, para eles, agir em um momento destes se torna um desafio. Em cada caso bem-sucedido o alívio dos pais se torna o melhor agradecimento que um policial pode receber”, salienta.
Becker sabe bem a importância de agir rápido nesses momentos. “Enfrentei a perda de um afilhado de um ano e sete meses por engasgamento. Quando uma criança é salva remete à memória daquele anjinho que não conseguiu sobreviver. É importante todos conhecerem a manobra”, relata.
O tenente do Corpo de Bombeiros Militar de Bento Gonçalves, Edson Germiniani, também enfatiza que é bastante comum tais ocorrências. A corporação atende casos como esse ao menos uma vez por mês. “Os recém-nascidos são mais suscetíveis pela alimentação que eles têm até os seis meses, que é basicamente em líquido. A gente sempre sugere que a mãe, quando descobre que está grávida, faça o acompanhamento pré-natal no posto de saúde e, após o nascimento, continue. Ali as enfermeiras vão dar todas as orientações necessárias que vão deixar a mãe mais tranquila no manejo da criança”, ressalta.
Ele também explica que nesses momentos é preciso ter calma. “Ligue para o Corpo de Bombeiros ou Samu, que terá uma orientação sobre como proceder, pois não é uma manobra difícil de se fazer”, recomenda.
Para os responsáveis, os cuidados são em evitar que o pior aconteça. “Ter as formas corretas de posicionar o bebê após a amamentação, não pode colocar ele para dormir de bruços, realizar a amamentação sentada e nunca deitada. Caso o pai ou a mãe notem que a criança se engasgou, devem proceder com os primeiros socorros. Existem postos de saúde que ensinam a manobra”, aconselha.
Germiniani evidencia, porém, que há intercorrências também em adultos. “Alimentos mal mastigados, pessoa que comeu um pedaço maior de carne, por exemplo. A gente atende também bastante casos”, destaca.
Primeira causa de morte acidental em bebês
A pediatra Simone Caldeira Silva destaca que sufocação ou obstrução de vias aéreas é a primeira causa de morte acidental de crianças de até um ano de vida. “Os bebês aprendem a sugar ainda durante o processo de formação no útero. Esse ato fortalece a musculatura que movimenta o maxilar e a mandíbula, auxiliando na amamentação e preparando terreno para a mastigação. Entretanto, engolir pode demorar um pouco mais de tempo para ser aprendido e treinado, aumentando o risco de engasgamento, inclusive com leite materno. Isso pode acontecer quando demoram a controlar, simultaneamente, a respiração, o ato de sugar e a deglutição do leite”, esclarece.
Além disso, a médica sublinha que os próprios bebês já crescem com a consciência de que experimentar o novo pode trazer satisfação e alegria. “Desde que começam a desenvolver a coordenação motora e a firmeza das mãos eles podem se engasgar porque passam a colocar tudo na boca como forma de descobrir novos sabores. Como nos bebês os músculos da tosse ainda estão em desenvolvimento e as vias aéreas são pequenas, o engasgo pode ser perigoso, já que atrapalha a respiração”, pontua.
Simone diz que as principais causas de engasgo do bebê são com o leite, durante a amamentação; por meio de alimentos em grãos, como feijão e ervilha; ingestão de líquidos, inclusive na mamadeira, ao ficarem deitadas ou mal recostada; com peças pequenas de brinquedos, baterias, ímãs, moedas; pedaços de frutas escorregadias; além de poder ocorrer ao deitar o bebê depois de comer ou mamar antes de arrotar.
É necessário prestar atenção aos sinais de que a criança está engasgada. A médica exemplifica que os principais são tosse com choro, espirro e náuseas durante a alimentação; dificuldade de respirar, com palidez ou lábios arroxeados; respiração rápida e ofegante de repente; muito esforço para respirar e tentativa de choro, sem que o som saia. “Caso isso aconteça, é necessário manter a calma para ter condições de ajudar e seguir algumas orientações. Independente da idade da criança, o engasgo é um quadro que pode evoluir para gravidade”, alerta.
Dicas da pediatra
- Evitar amamentar o bebê com ele totalmente deitado;
- Observar se o fluxo de leite não está muito forte;
- Colocar para arrotar;
- Depois da mamada colocar o bebê dormir na posição inclinada;
- Dormir de barriga para cima é mais seguro.
Manobra de Heimilich
Segundo o Corpo de Bombeiros, ao se deparar com essa situação, o primeiro passo é manter a calma, entrar em contato pelo telefone 193 ou com o SAMU no 192 e iniciar, o mais breve possível, a manobra de desobstrução:
- Sentado em uma cadeira ou ajoelhado, posicionar o bebê em decúbito ventral (com a barriga para baixo) em um dos antebraços, com o corpo ligeiramente inclinado para baixo.
- Realizar 5 golpes (com força moderada) com a região hipotênar (calcanhar da mão) dominante na região inter-escapular (meio das costas) do bebê.
- Posicioná-lo deitado de costas no antebraço (cuidando a estabilização da cabeça, mantendo vias aéreas abertas e ligeiramente inclinado para baixo).
- Realizar 5 compressões torácicas com 2 dedos na região inter-mamilar (no meio do peito, entre os mamilos).
- Alternar os 5 golpes ou tapotagens em região inter-escapular e as 5 compressões torácicas até que o lactente consiga expelir o corpo estranho ou que evolua para inconsciência.
Caso o bebê desengasgue é importante que seja levado ao pronto atendimento para uma avaliação médica.
Caso evolua para inconsciência, continua o mesmo procedimento e aguardar a chegada do serviço de emergência.
Tipos de obstrução
Na obstrução parcial, haverá tosse que deve ser estimulada até que o corpo estranho seja expelido
Na obstrução total, a vítima poderá levar as duas mãos ao pescoço (Sinal Universal de Asfixia). Neste caso não haverá tosse, devendo iniciar a manobra de desobstrução (Manobra de Heimilich), que tem por objetivo provocar uma “tosse artificial”.
Em crianças a partir de um ano, aproximadamente, colocando-se de joelhos atrás dela, posicionando uma das mãos fechada acima do umbigo, cobrindo com a outra mão, aplicar golpes fortes em “J” para dentro e para cima até que o objeto seja expelido ou evolua para inconsciência.
Em adultos, posiciona-se atrás da vítima, colocando uma das pernas entre as pernas dela e afastando os pés na largura dos ombros, posicionando uma das mãos fechada acima do umbigo, cobrindo com a outra mão, aplicar golpes fortes em “J” para dentro e para cima até que o objeto seja expelido ou evolua para inconsciência.
Em grávidas e obesos, as compressões devem ser realizadas posicionando as mãos no centro do tórax, fazendo força para trás.
Soldado Kaemily Lemes Colla Pellin demonstra como fazer a manobra de Heimilich em crianças a partir de um ano e em adultos
Fotos: Thamires Bispo