Giovani Grizotti é o cara. Esse repórter investigativo não tem medo de trazer às claras questões obscuras, sem, contudo, mostrar a cara. Certíssimo. É importante preservá-la.
Enfim, assisti a uma reportagem em que ele revela os meandros do mercado farmacêutico, que paga comissões e viagens não só a médicos, mas também a atendentes de farmácia para estimular a venda de produtos. Nada ético engordar os salários por conta da ingenuidade alheia, mas considerando que os políticos fazem isso desde sempre, e a gente continua votando neles, releva-se… desde que não nos façam esperar numa fila de “duas” pessoas por vinte minutos, em pleno domingo ao meio-dia, com a carne na brasa esperando…
Então, estava eu no fim da fila, ou seja, era a próxima cliente a ser atendida. Na expectativa do término da exposição minuciosa da balconista, que discursava sobre as indicações, ações e vantagens dos suplementos vitamínicos, eu batucava os pés no chão, de nervosismo. A jovem assediada, que pedira algo bem forte para enxaqueca – ela já havia tomado vários analgésicos sem que a dor e enjoo diminuíssem – relutava diante da oferta de produtos que, a longo prazo, prometiam acabar com todos os seus problemas. No limite da dor, ela não conseguia se decidir. A sua relutância era um incentivo à vendedora, determinada a empurrar a cota diária de “tratamentos alternativos”, além dos analgésicos solicitados e já separados.
Naquele ponto, não me contive e resolvi intervir, afinal sou formada em Google-Medicina (os médicos adoram…), com especialização nas redes sociais. Primeiramente fiz as perguntas padrão – se estava descartado Covid – “sim” – se dormira bem – “muito mal” – se tomara água – “quase nada”… Minha intromissão esfriou o entusiasmo da atendente, que deve ter revirado os olhos assim como eu, há minutos antes. Depois de alguns conselhos, falei de um medicamento que sempre tenho em mãos, que é tiro e queda para enjoo e ainda provoca um soninho legal.
-A nova fórmula não dá sono – interrompeu a vendedora, extremamente alerta.
-Dá, sim! Eu durmo que nem bebê – arrematei.
Isso foi determinante para a moça escolher. Ela me olhou tão agradecida que desejei de coração que ela dormisse a tarde inteira e levantasse novinha em folha com a cabeça leve e a alma zen.
Já a balconista… Fazer o quê! Parodiando J. C. Maxwell, às vezes, a gente ganha, às vezes, a gente aprende.