Adeus professor e amigo Paulo
Na madrugada desta sexta, Pedro Paulo Zanatta, um Mestre no campo da educação, meu líder, meu amigo, meu educador, foi-se embora. Ele fazia parte e liderava, no Colégio Aparecida, da equipe de professores que instituiu o ESCRITÓRIO MODELO, notabilizado em todo o país, na América do Sul e exterior como um conceito revolucionário de conduzir empresas e seus serviços contábeis. Fui aluno dele no Colégio Aparecida, 2° grau, contabilidade. Eu gostava dos momentos pré-aula e pós-aula, eu era uma personalidade ainda tosca a ser lapidada. Paulo, com sua fala mansa, sorriso sempre presente, gestos de cordialidade, contribuiu muito para isso. Eu gostava de “copiar modelitos” de postura e liderança, por isso estava sempre grudado nos professores e eles gostavam disso, me tornavam também referência. Após a aula ficávamos reunidos na sala dos professores do MARISTA por vezes até a madrugada, estreitando laços e absorvendo saber. Paulo exerceu a Direção da Faculdade de Economia da UCS, foi difusor de nossos valores educacionais na Itália, entre outras atividades na área da educação.
A visita à residência
Paulo construíra uma bela residência, ali, logo acima do Colégio Medianeira, ainda está lá mantendo ares de modernidade apesar de ser cinquentenária ou sexagenária. Nosso sonho era conhecer a casa “uma ponte longe demais”. Pentelhávamos o Paulo todos os dias e trocávamos ideias sobre o que aconteceria no dia da visita: “um deleite visual, momentos de cordialidade, o prazer de sentar num sofá de ‘mola espiral’, um uisquezinho, sim um uisquezinho daqueles que Paulo enfeitava as prateleiras”. E, também, conhecer a Da. Lucila, esposa, que não sei como, Paulo conheceu mesmo sendo ela, Venezuelana. Ensaiamos um “pero si, pero no”, para a eventualidade dela travar um diálogo em espanhol e entender o nosso ‘portunhol’. Aquela suntuosa casa, era o templo do Paulo e da Lucila, a porta principal dificilmente se abria mas, diante da “eminência do arrombamento”, Paulo abriu e lá fomos nós para a visita. Houve um clima nervoso no ar, “como segurar um copo de uísque, fazer um barulhinho da cascavel como Chico Anísio, onde e como usar o guardanapo”, nos tempos de BARRACÃOCITY eu limpava a boca na manga da camisa, não havia guardanapos, hoje não abro mão deles. E o ar circulante, metade espanhol, metade português como absorvê-lo corretamente. Bom, como diria Marta Suplicy, amiga da Dilma, “relaxa e goza”, a partir daí espalhamos cordialidade, sorrisos, rememoramos passagens. Bem, gente, o tal de uísque ficou num “cafezinho”, pois é, num cafezinho, servido com amabilidade pela Da. Lucila. E, a visita para conhecer a casa, não passou da sala de visitas. Mas, foi uma conquista, conseguimos visitar a casa do Professor Paulo. A vida se tornou melhor.
A viagem a Mendoza
A HEUBLEIN comprara a DREHER. Pedro Paulo Zanatta foi nomeado Diretor. Não demorou muito ele fez uma grande confraternização na sede campestre da empresa. Tinha gente lá, muita gente, com direito até a ouvir um discurso de Mário Gabardo, Presidente do Sindicato Rural, que elogiou a multinacional. Olhei para cima para ver se o teto não ia cair. Paulo, com sua fala do coração – ele sempre falava com o coração – foi muito aplaudido. Não muito tempo depois Paulo resolvera levar os principais fornecedores da agora HEUBLEIN (cerca de 30) para uma viagem de observação e estudos em MENDOZA, Argentina. Ele me convidou como jornalista e: “pero si, pero no, no, no, no”, acabei aceitando o convite, depois dele dizer: “sim, tu vai, prepara a mala. Saímos dia tal quatro horas da manhã”. Lembro que eu disse a ele “nem vou dormir então”. Quatro horas eu estava lá, mala no bagageiro, subi no ônibus, olhei para a esquerda, para a direita, olhei para o motorista, olhei para o ônibus, olhei para frente, mais de três mil quilômetros, desci do ônibus, e: “Paulo, tô com mal estar, acho que não vou”. E ele: “sobe aí amigo, vai sim”. Fui, quando o ônibus chegou na frente da Igreja Cristo Rei pedi para o motorista parar, mas o Paulo estava acordado e: “onde tu vai guri”? “Putz Paulo, eu ia ver se os pneus do ônibus estavam com calibragem correta”, risos. E ele “volta pro teu lugar, motorista toca”! De Bento a Carlos Barbosa o motorista ia muito devagar porque “vivia ajeitando o porta luvas do ônibus, numa espécie de check in de documentos”. Lembro de eu ter dito a ele “tem que limpar esta gaveta”. Aproveitei a deixa, olhei, o Paulo já estava dormindo, raciocinei, é a última chance, desço aqui, pego minha mala, carona de um caminhão e volto à “casa mia”. Convenci o motorista a parar, ele desceu, abriu o porta malas, eu estava pegando minha mala quando alguém toca meu ombro e diz, cândida e suavemente: “volta pro ônibus, tu não vai escapar”, era o Paulo. Eu lembro de ter refletido: “ele dorme de olho aberto”. Não teve mais jeito, subi, sentei no lado do motorista, encima do motor e pensei, olhando para a plateia “vou ter que fazer deste limão uma limonada”. E assim se fez. Foram, os 17 dias da viagem, cadastrados entre os mais felizes e produtivos da minha vida. Contar, porque é uma longa história, fica para mais adiante. Mas, tem um episódio que eu vou contar. Paulo levara, presas por algemas nos braços do Nilson Majola, seu fiel escudeiro, duas malas pretas cheias de dólares para os custeios da viagem. Concluída a visita a Mendoza (14 dias), constatei, estava sempre grudado na dupla PAULO-NILSO, que daquele dinheiro todo havia sido gasto apenas 1/3. Então convidei o Paulo a sentar numa das mesas do bar do Hotel após retorno da última visita. Eram 10 horas da noite. Lá fui eu: “Paulo, escuta aqui, tu vai levar todo esse dinheiro de volta? Porque não levamos esse pessoal a Buenos Aires, veja, nenhum brasileiro está vindo à Argentina, custa uma banana, nós estamos aqui vamos aproveitar, chegamos lá vamos leva-los a um show de tango, conhecer a Calle Florida, o Cemitério da Ricoleta, Porto Madero, serão momentos inesquecíveis, eles estão cansados de tanta visita pensa bem, só há motivos para ir, nenhum motivo para não ir”. Saibam vocês que, exatamente as 4:15 da manhã, eu obtive do Paulo o “sim, vamos”. Pulei da cadeira, dei um abraço nele, e fui aos apartamentos, acordei todo mundo com o brado de guerra: “VAMOS A BUENOS AIRES, SAÍDA ÀS 7 DA MANHÔ! Quando chegamos no Hotel em BUENOS, um desavisado ou distraído, desceu correndo do ônibus, não viu que o Hotel tinha uma porta de vidro, bateu com a cabeça, voltou e caiu no meio fio da calçada, resultado: pronto socorro! Nada grave, café da manhã tomado no dia seguinte, a postos do ônibus, sobe o Paulo e anuncia: “pessoal agora nós vamos visitar a estação ferroviária de Buenos Aires, a segunda maior e mais imponente do mundo”! “Meu Deus”, eu disse em voz baixa, “mais cultura na turma, mas, esse é o Paulo, não é à toa que ele foi casar com uma Venezuelana, cultura internacional”! E fomos, confesso que fiquei tão impressionado que mais adiante, voltei lá, até para saber “onde era o escritório da Gestapo na Segunda Guerra Mundial, pois Peron e Hitler eram ‘mui amigos’”, diria Jô Soares.
O prédio do Semanário
A construção do prédio, sede do SISTEMA S, é fruto da “ação entre amigos”. Paulo foi procurado, não hesitou nem cinco minutos em participar, um gesto que me deixou comovido e cheio de gratidão, ele havia me alcançado mais do que um cafezinho, mais do que um uísque, um gesto de solidariedade, de reconhecimento, de reafirmação de um relacionamento cheio de admiração, respeito e solidariedade. Isso não tem preço! Esteja com Deus Paulo, grato pelos teus ensinamentos, pelos conselhos, pela amizade. Lamentavelmente eu não posso dizer para meus netos, “vão lá no museu da imagem e do som, cliquem ‘Pedro Paulo Zanatta’, e saibam tudo sobre sua vida e obra, é uma enciclopédia de conhecimentos, de exemplos e realizações postergadas em favor de Bento e da educação, bem como um exemplo de valor humano.
A visita de Bolsonaro
Eu ia falar sobre a visita de Bolsonaro mas, diante da morte de Pedro Paulo, fica para a próxima pois “cessa tudo quando a musa canta quando um valor mais alto se levanta”. Bento perder um líder é uma lástima. Não ficar sua vida e obra registrados para a posteridade é duas lástimas. Mas, sobre a visita de Bolsonaro que já veio a Bento cambaleando, vale perguntar: o que é que “entupiu”, de novo, o intestino do Presidente Bolsonaro: a facada que levou? O costelão? A enxurrada de reivindicações que recebeu? O assento da moto que pilotou? Ou, quem sabe, foi o Cover do Elvis? Kkkk?