O empresário e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Simmme-BG), Juarez José Piva, tem uma grande trajetória no seio da comunidade. Administrador por formação, fundou a Piva Comércio e Indústria Ltda., empresa de acessórios de alta qualidade para móveis e há alguns anos está à frente do sindicato da categoria.
Em entrevista, Piva avalia o momento de pandemia que ainda está sendo atravessado, além de falar sobre sua trajetória, anseios, perspectivas, o otimismo que está sempre presente, além das conquistas em diferentes áreas de atuação.
Jornal Semanário: Sentimento na vida pessoal e empresarial?
Juarez Piva: Entre angústia, medo, vontade de fazer e preocupação. Estamos em um ambiente contaminado pela situação. Ano passado e nesse, devido a pandemia, continuamos na mesma situação. A vontade de explodir ou fazer diferente é grande. A preocupação entre saúde e economia nos reserva surpresas e nos mantém menos otimistas. É uma preocupação entre manter vivo todos os seres humanos e a manutenção dos negócios. Isso vem me tirando muitas horas de sono. Além disso, tive um filho com Covid-19. A pandemia mudou muito a forma da pensar e viver, e por muitas vezes, fico até com medo de perguntar para as pessoas como está a família. Sou acostumado a abraçar, ter envolvimento com a comunidade e desde março do ano de 2020 minha rotina mudou. É só da empresa para casa e vice-versa.
JS: Como vai a Piva Comércio e Indústria?
JP: Logo que iniciou a pandemia, no ano passado, nos expulsaram das fábricas. Então, ficamos março e abril desesperados, depois começamos a voltar, com calma, mas também com muita preocupação. Mesmo devagar a empresa foi voltando à normalidade. Em setembro e outubro aumentou a demanda, com muitos pedidos em casa, mas nos deparamos com a falta de matéria prima e os preços também aumentaram desproporcionalmente. Alguns monopólios ou oligopólios que temos no Brasil conseguiram reaver suas margens de lucro em seis meses, e isso vem nos causando a preocupação do aumento do índice da inflação no país. Quando se fala em situação financeira e econômica das indústrias, mesmo que estejam faturando bem, o resultado daquele que faz e a transformação não é muito animador.
JS: Como vai o Sindicato?
JP: O Sindicato também passou por uma reestruturação. É uma constante briga ou defesa do setor produtivo para que se possa evoluir, se desenvolver e, principalmente, gerar emprego e renda. Estamos passando por uma fase difícil em todos os setores e na entidade não está sendo diferente. Entretanto, ficamos cada vez mais otimistas, desenvolvendo educação, prosperidade, conhecimento e aplicando novas tecnologias ou inovação para que o setor industrial possa competir com mais eficiência no mercado nacional e internacional.
JS: Como é ser líder sindical hoje?
JP: Sou otimista por natureza. A transformação que a pandemia trouxe vai nos levar para uma consciência de que somos apenas seres passageiros. Como líder, nos últimos anos, me senti como alguém que tem que fazer milagre para todos. Inúmeras pessoas me pedem solução de determinados problemas que não tem como resolver, seja pelo mercado que se encontra, pelo vírus e pela politicagem. Às vezes notamos a dor daquele empresário com 40 anos de empresa, 70 de vida e passando por dificuldades, estas são pessoas que querem fazer diferente, mas que, infelizmente, devido à situação em que vivemos, não consigo apoiá-las e isso me angustia. Tem momentos que estou em um ambiente e por mais pessoas que estejam no local tenho a impressão de estar sempre só. O futuro ainda é muito incerto.
JS: Dificuldades e conquistas do setor Metalmecânico
JP: A maior conquista do empresariado foi manter suas empresas abertas, com capacidade de produzir e manter empregos. Muitas sofreram problemas de caixa e tiveram que recorrer a bancos, a exemplo da minha empresa, para se manter. Em questão de dificuldades, foi uma série de fatores que se agravaram na cadeia produtiva do setor. A crise no Brasil de 2014, agravou e as empresas diminuíram sua linha de produção. Quando começou a melhorar a economia, as industrias estavam indo bem e aí veio a pandemia.
JS: Uma análise ampla da situação atual do Parque Industrial de Bento
JP: • Setor metalmecânico: Percebemos a necessidade de fazer investimentos de equipamentos, tecnologia, conhecimento que possam gerar produtos e investimentos pesados, na procura de novas oportunidades, agregando valores.
• Setor moveleiro: O setor está muito bem. Discutimos sempre a questão de manter um designer, um produto diferenciado. As pessoas estão mudando, os espaços físicos mudaram o aproveitamento de espaço, que é essencial nos dias de hoje, porque as pessoas ao chegarem em casa, buscam um ambiente agradável e isso é uma mudança que o setor moveleiro tem que entender, porque faz o sonho do consumidor
• Vinho: O vinho é uma bela surpresa. Há alguns anos as vinícolas vêm fazendo o dever de casa. O consumidor, com a valorização do dólar, deixou de comprar o vinho importado e percebeu que o vinho nacional é de boa qualidade e está cada vez mais agradando o paladar dos brasileiros.
• Serviços: O serviço passou e passa por uma mudança drástica. Vamos pensar nos hotéis, pousadas, restaurantes, e bares, esses serviços talvez sejam os que mais vão ter que se reinventar na forma de atender o cliente e deverão passar por uma extraordinária mudança
• Turismo: O turismo vai ter uma grande transformação interna, porque as pessoas, agora, descobriram o Brasil. O turista vai ter uma oportunidade única de aproveitar o ambiente em que estamos. Em Bento, a gastronomia tem que ser valorizada, com pratos diferenciados para acompanhar um bom vinho.
JS: Sua visão sobre as Entidades Assistenciais e Esportivas de Bento
JP: Todas tem uma vocação de ajudar o próximo e nessa época estão sofrendo como todos os setores, mas eles têm sobrevivido pelas suas capacidades e lideranças de fazer diferente. Aqui, o povo é solidário, logo no início da pandemia foi feita uma campanha, junto ao CIC-BG, para ajudar a UPA 24h e foi arrecadado muito mais do que o previsto. A dedicação de fazer e transformar é o diferencial de Bento.
Nós temos todas as modalidades aqui na cidade. O Esportivo, por mais que não teve tanto êxito, esse ano, no Gauchão, leva o nome da cidade por onde for, seja nas competições estaduais, mas também nacionalmente. E não é só o futebol, mas o vôlei, judô, rugby e tantos outros que crescem e levam Bento com eles. É uma pena que agora com a pandemia, estamos lacrados, caso contrário, o desenvolvimento e crescimento no esporte seriam enormes.
JS: O vírus, na sua interpretação dos fatos no Governo do Estado, do Município, UPA e Tacchini
JP: Faltou um pouco mais de estudo, humildade, sobriedade de ver os ambientes. A criação das bandeiras foi um projeto inédito, nos manteve em uma bandeira até março deste ano, mas no meio do caminho mexeram e isso acabou gerando uma insegurança em toda a sociedade, onde não é mais admissível dizer que isso é certo ou errado, e ponto. É muito cômodo e fácil dizer ‘fecha tudo’, mas então, que se feche tudo mesmo, mercados, postos, tudo, porque o ser humano é o mesmo, sem privilégios. Temos que entender que precisamos nos proteger, ter um ambiente mais seguro possível.
O município fez o tema de casa, compreendeu, errou e acertou, talvez um pouco mais afinco em alguns setores, menos em outros. A assistência social que foi dada desde março, o ambiente social em quem nos encontramos, que arregaça as mangas em fazer diferente e melhorar. O político e o privado conseguiram fazer uma cadeia produtiva muito boa, que ajudou muito no combate ao vírus. No geral, Bento foi muito feliz na forma que agiu, com os atores públicos e privados. Eu tenho uma sensação que o município fez um bom trabalho e se cuidou bem, mas temos que melhorar sempre.
UPA e Tacchini lidaram muito bem com a situação que passamos. Ambos têm bons e competentes profissionais que se dedicaram e dedicam para salvar vidas. O Hospital Tacchini percebeu as dificuldades, criou ambientes, gestou, abriu mais salas. Parabéns também à UPA que se transformou em pouco tempo para dar suporte há quem realmente precisava. Parabéns pela capacidade de se transformarem em pouco tempo.
JS: Uma análise do Estado sob ponto de vista econômico, social, político, investimento e
privatizações
JP: Faz anos que batemos na mesma tecla de fazer uma transformação no Estado, tanto de infraestrutura, investimento da área tributária e reforma administrativa. Estamos demorando muito para transformar o estado competitivo, precisamos da reforma administrativa profunda, pois não é mais admissível pagar tanto imposto e receber tão pouco diante do que se paga. Brincamos que queremos um estado mínimo, e ele conseguiu dar o mínimo, precisamos de um estado transformador e não engessador.
JS: O que tem de certo e errado no Brasil? Se fosse Presidente faria o quê? E se fosse Presidente do Congresso? O Brasil está em perigo?
JP: O Brasil é maravilhoso, rico em todos os sentidos, o que falta é uma reforma administrativa, onde os recursos fiquem na base, nos municípios e nos estados. Quem sabe se conseguíssemos acabar com as verbas de gabinete de deputados e senadores, que não me parece nada correto e nem próspero para uma sociedade que quer produzir. Na verdade, temos que ter liberdade de fazer, crescer e desenvolver e sei que não vai ser em quatro anos que as mudanças vão acontecer. O Brasil precisa de mais de 20 anos para isso, mas precisa dar o primeiro passo urgente. Há mudanças, estão fazendo privatizações, arrumando rodovias, mas é tudo compartilhado e fragmentado, o país continua muito fraco em todos os ambientes. Nós temos uma grande capacidade de produção e o mundo tem que nos respeitar, pela capacidade dos produtores e agricultores, de produzir muito mais, no mesmo hectare, o Brasil, ainda vai ser o celeiro do mundo. O perigo nosso é não acreditarmos que possamos fazer a diferença, que é a responsabilidade de cada um de nós, falta um pouco de respeito e bom senso, a responsabilidade de assumir cada um sua conduta.