Apesar do frio, o dia começa quente. Você sobe na balança com toda a suavidade possível, e o ponteiro dá um giro. Mas que mer…cadoria  é essa? De onde vieram os quilinhos extras? De alguma liquidação de adipócitos contrabandeados nos finais de semana?

Aí você vai ao supermercado, o que é um risco. A fome pode levar à compra de produtos altamente calóricos. E você fica diante de uma prateleira que exibe despudoradamente um exército de brownies. Com sua mão alcoolizada, você apanha um e acaricia aquele pacotinho tripartite, nas cores preta, marrom e rosa antigo. Jesus! Dá pra comer com os olhos!      

A batalha shakespeariana começa: comprar ou não comprar? A consciência vence o impulso e você passa a ler – sem os óculos de perto – as informações básicas do produto: “chocolate meio amargo”… “ausência de glúten…” ou algo assim. Oba! Liberado.

Terminadas as compras, você vai correndo pro carro, arranca a máscara e enfia os dentes naquela tentação… O QUÊ? Gosto de farinha e fermento? A coisa divina não passa de um bolinho mequetrefe que gruda nas gengivas?

Você fica “pê” da vida. Poderia ter comprado meia dúzia de ovos caipiras no lugar da sobremesa inglória. Aliás, bota caipira você, que comprou gato por lebre!

Chegando em casa, apesar dos dez quilômetros já percorridos – sobre rodas – você resolve fazer uma caminhada. Então calça o tênis aerodinâmico que custou uma banana. Sobe a rampa, bufa que nem camelo e… pimba. Seu pé esmaga outro bolinho achocolatado e grudento, que fede pra cachorro. PQP!  Você esfrega o tênis nos paralelepípedos, mas o solado é cheio de nervuras, onde só o fio dental seria capaz de entrar e retirar as miudezas. E mesmo assim ainda deixaria material suficiente para uma investigação criminalística.

Então você volta pra casa, de novo. A primeira coisa que faz é se livrar dos tênis, que, sem querer, atingem a traseira do carro. Epa! Epa! Epa! Quem foi o filho da mãe que raspou na lataria?

Fazendo uma retrospectiva, você lembra que, num dado momento do dia, a árvore do canteiro perto do estacionamento balançou. E lhe ocorre que talvez o Minuano, esse ventão que até derrubou estátua, não tenha nada a ver com isso… E você racionaliza: “bom, ao menos, há um equilíbrio agora, com todos os quatro lados devidamente tatuados”.

Finalmente, você se dá por vencida. Senta em frente ao computador e manda um recado ao seu anjo da guarda. “Escuta, Michael, como você ousa tirar férias numa hora dessas?”