O bairro Borgo, de acordo com o pároco da paróquia Santo Antônio, Padre Ricardo Fontana, é considerado muito tradicional no município. “As famílias, sendo a maioria delas descendentes de italianos, sempre manifestaram um grande apreço pela comunidade de fé”, afirma.

Um dos destaques apontados pelo pároco é que, por meio dos serviços e pastorais, a comunidade Nossa Senhora do Carmo é tida como “um dos braços que possibilita à igreja, mais especificamente à Paróquia Santo Antônio, a continuar o trabalho de evangelização, tendo em vista que a Paróquia alcança mais de 60 mil pessoas”, salienta.
Ele afirma que há muita gratidão por todas as pessoas envolvidas, desde os padres, religiosos, religiosas e, sobretudo, os leigos e leigas, que ajudam a manter a comunidade viva e atuante.

Fontana aponta as principais características dos moradores. “A comunidade do Borgo é muito querida e as famílias são muito receptivas. O bairro cresceu, levando a atividade econômica também para essa região, que é próxima do Centro, mas que também tem suas peculiaridades. Assim, destaco essas grandes qualidades: receptividade e dinamismo”, defende.

Devoção

De acordo com Fontana, Nossa Senhora do Carmo é uma das devoções marianas mais fortes. “A comunidade foi muito feliz, porque celebra a sua padroeira há mais de 70 anos. Assim, a participação da comunidade se mantém sempre a ajudar as famílias a compreenderem que a fé deve ser baseada na experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo, além da importante tradição de comunicação da crença de geração para geração”, salienta.

Além disso, ele ponta que a comunidade comemora a fé de maneira muito intensa. “Por isso, há mais de sete décadas, vivem um tempo especial, sempre no mês de julho, com a programação religiosa e social em honra à Nossa Senhora do Carmo”, explica.

No início de todos os anos, é celebrada uma missa na praça Padre Oscar Bertholdo. “A principal festividade dos devotos é a de Nossa Senhora do Carmo. Sempre no dia 11 de fevereiro, poucos metros distante da igreja, onde há a gruta de Nossa Senhora de Lourdes —padroeira dos doentes —, famílias se reúnem para interceder frente à imagem”, afirma.

Sete décadas de amor pelo bairro

Descendente da primeira geração de italianos a chegar em Bento Gonçalves, o chapeador Antônio Turchet, 77 anos, guarda na memória as histórias contadas pela família, que decidiu sair da Itália, rumo ao Brasil, com o sonho de conquistar uma vida melhor. Ao desembarcar na Capital Nacional do Vinho, na época ainda chamada de Cruzinha, os avós compraram um pedaço de terra no bairro Borgo, lugar de onde nunca mais saíram.

Antigo morador, Antônio Turchet, é considerado uma referência no local
Foto: Suellen Krieger

Orgulhoso, Turchet conta que o pai, Olívio Turchet, embora já falecido, teve uma história da qual define como “muito linda”. Entre as recordações, faz questão de contar que os dois trabalharam e ajudaram nas obras de construção da igreja da comunidade. “O pai trabalhou um monte nela. Eu era pequeno e levava massa para ele colocar o piso, ajudei também”, lembra.

Nascido e criado no Borgo, o chapeador fica emocionado e com os olhos lacrimejados ao falar do local. “Fico admirado com o desenvolvimento do bairro, porque antigamente, isso aqui era tudo mato, não tinha casa nenhuma. Eu olho e fico me perguntando como pode?!”, relata.

Antigo morador e, consequentemente, conhecedor, Turchet é considerado uma referência para quem quer saber mais sobre a região. “Conheço tudo aqui. Inclusive, há alguns anos, as professoras do colégio se reuniram, trouxeram vários alunos e nós fizemos uma reunião para eu contar a história do bairro”, afirma.

História que deu nome do bairro

Dentre as histórias mais importantes, o morador considera a que deu nome ao local. “Todo bairro tem nome, tem uma história e a nossa é muito bonita”, orgulha-se. De acordo com Turchet, havia muito comércio no bairro. “As pessoas perguntavam em italiano, aos sábados, ‘onde você vai fazer compras hoje?”, conta e acrescenta que respondiam ‘vamos lá na burguesia’, que era aqui. Então, de burguesia virou Borgo, reduziram o nome. Borgo significado burguês e assim ficou”, explica.

Melhorias para o local

Turchet tem muitos elogios ao bairro, principalmente para a rua em que reside. “A avenida é uma beleza, com asfalto. Até poucos anos, aqui era estrada de chão, então hoje está muito bonita”, aponta.

O chapeador afirma, contudo, que a conservação da sinalização do local não está boa. Ele mesmo e demais moradores é quem refazem a pintura, quando necessário. “A prefeitura me deu esse espaço quando asfaltaram. A demarcação foram eles que fizeram, depois desapareceu com o tempo. Então, eu compro a tinta e pinto na frente da minha casa. Todos os vizinhos estão pintando”, finaliza.