Por Marcos Carbone
Por inúmeras semanas consecutivas nos últimos meses, o comércio brigou pelo simples direito de trabalhar – ou seja, de garantir às lojas a oportunidade de manterem abertas as portas de seus negócios, há tempo já adequados aos protocolos de segurança e medidas de combate ao coronavírus. Aliás, desde março de 2020 o setor sofre com uma série de injustas imposições, com severas e arbitrárias restrições ao funcionamento dos estabelecimentos – agravadas pela instabilidade e falta de constância no regramento do modelo de Distanciamento Controlado do Governo do Estado do RS. O comércio foi erroneamente apontado como vilão (sabe-se que as aglomerações clandestinas são as verdadeiras disseminadoras do vírus, e não as lojas, operando em conformidade com os protocolos). O desgaste dessa situação é imensurável: em prejuízos financeiros, em perda de empregos, em abalo moral.
Depois de muita argumentação, o comércio recebeu autorização para voltar a operar – ainda com restrições. Porém, as portas abertas não significam que as lojas estão salvas. O comércio está severamente fragilizado e, infelizmente, não será em algumas poucas semanas de atividades parcialmente retomadas que os danos acumulados em mais de doze meses serão revertidos.
Por mais de um ano as lojas tiveram seu funcionamento alterado e deixaram de faturar – algumas mais, outras menos, mas todas perderam. Não apenas por conta das restrições de horário ou capacidade de circulação de clientes, mas também pela redução do poder de compra da população. Os hábitos de consumo recrudesceram. Esse cenário fez com que muitas lojas consumissem praticamente todo seu capital de giro. Outras tantas estão no fio da navalha, procurando formas de equilibrar as finanças, sob constante ameaça de encerrarem as atividades. Qualquer novo golpe pode, sim, ser fatal para os estabelecimentos.
É preciso dar ao comércio fôlego para se recuperar. É fundamental que haja estabilidade e, principalmente, continuidade na permissão para que as lojas funcionem sem restrições injustificadas – que pouca efetividade têm no propósito de conter a pandemia. É preciso empatia por parte dos demais elos da cadeia que envolve o comércio: desde fornecedores de produtos, prestadores de serviço, locatários dos pontos onde funcionam os estabelecimentos. Todos sofreram perdas com a pandemia, mas o comércio está entre os setores mais gravemente atingidos e, agora, precisa de tempo e condições para reagir.
À comunidade fica, também, o apelo para que privilegiem os estabelecimentos locais na hora de fazer suas compras. O comércio é um importante fomentador do desenvolvimento: as lojas geram impostos, são responsáveis por postos de emprego, colaboram com o crescimento econômico. Mas só podem agregar essas contribuições se estiverem abertas, saudáveis enquanto negócio. A hora é de ajudarmos o comércio a ser recuperar dos efeitos da pandemia.