Entre os benefícios está o aumento da criatividade, enriquecimento do vocabulário e a ampliação da capacidade de concentração
Ler é como ter um poder nas mãos. Viajar para outros lugares mesmo sem sair de onde está, conhecer histórias de pessoas com quem não se conviveu e descobrir novos horizontes. Entretanto, a leitura não desenvolve apenas a imaginação.
Segundo a psicanalista Jane Krüger, a neurociência tem tudo a ver com este hábito, pois existem muitas regiões do cérebro envolvidas no ato. “Quando lemos, há o estímulo e ativação de um importante número de processos mentais, entre os quais se destacam a percepção, a memória e o raciocínio. A leitura é um dos melhores exercícios possíveis para a memória e para manter as capacidades mentais ativas e estimuladas”, explica.
A profissional também afirma que tem como contribuir, mesmo que inconscientemente, para o declínio do cérebro sem desafiá-lo em atividades que o estimulam ativamente. “Além disso, fica nítida a dificuldade que uma pessoa que não possui o hábito de ler tem em se expressar de forma clara, escrever bem, com lógica e coerência, e ainda pior, vai consequentemente apresentar uma grande dificuldade em compreender e interpretar um texto escrito. Quem não tem esse hábito acaba por utilizar gírias, repetição de palavras, erros na ortografia, na fala, abreviaturas na escrita, entre outras consequências”, expõe.
Para quem não tem o costume de ler, nunca é tarde para começar e tornar a leitura um hábito. Jane reitera que são inúmeros os benefícios que se pode alcançar no dia a dia. “Uma pesquisa realizada pela Universidade de Sussex mostrou que ler ajuda a reduzir em até 68% os níveis de estresse. Durante o estudo, os sujeitos analisados diminuíram a frequência cardíaca e aliviaram a tensão dos músculos”, salienta.
Entre as demais vantagens, a psicanalista destaca o aumento da criatividade; expansão da base de conhecimento; enriquecimento do vocabulário e ampliação da aptidão em comunicação interpessoal; melhora significativa da habilidade para escrever e interpretar texto; aumento da capacidade para escutar; ajuda na formação do senso crítico, que é necessário para poder refletir e chegar a conclusões ou opiniões, além da melhora na concentração.
De acordo com a profissional, perseverar com a leitura de modo contínuo também acaba por desenvolver a persistência diante de tarefas repetitivas ou complexas. “Expande nossa capacidade de contar histórias e, por mais incrível que pareça, ler diariamente nos ajuda a viver mais. Um estudo, realizado pela Universidade de Yale em 2016, com 5.635 participantes acima dos 50 anos, constatou que aqueles que leem livros regularmente têm uma chance 20% menor de morrer nos próximos 12 anos”, cita.
Quando começar?
O ideal para o início é escolher o tipo de leitura que motiva e convém. As crianças também devem ser estimuladas a lerem livros de acordo com as faixas etárias. “Os pais deveriam ler para os bebês ainda durante a gestação, pois mesmo nos primeiros meses podem habituá-los a ouvir histórias”, acredita a psicanalista Jane Krüger.
Quanto aos idosos, o ideal é providenciar toda a assistência que suas capacidades visuais necessitem para continuar lendo e mantendo o cérebro estimulado à medida que envelhecem. “Uma razão a mais para continuarmos a ler é a certeza de que não somos realmente velhos enquanto temos o desejo e a necessidade de sempre aprender. Afinal, nunca sabemos o bastante. Cada dia é uma oportunidade única para aprender e ser melhor. E a leitura, com certeza nos ajuda a alcançar esse intento”, finaliza.
Biblioteca Solidária incentiva leitura em Bento
Para estimular a leitura em Bento Gonçalves, a Biblioteca Pública iniciou em abril a implementação do projeto Biblioteca Solidária, com o lema ‘um ato de amor e literatura’. A equipe da Castro Alves seleciona um bairro para a entrega de kits contendo livros, gibis, além de doces, em dias especiais. “Criamos este projeto no período da Páscoa e a intenção é mantê-lo permanentemente nos períodos festivos, como no Natal e Dia das Crianças. O objetivo é doar para crianças e adolescentes mais vulneráveis do município que, provavelmente, têm pouco ou nenhum contato com a literatura e que passariam essas datas comemorativas sem receber nada”, explica a bibliotecária Paula Porto.
Na ação, 40 famílias e 88 crianças e adolescentes do bairro Progresso III foram beneficiadas. A próxima localidade que o município pretende contemplar será escolhida por meio do cadastro na Primeira Infância Melhor. “Pretendemos movimentar a sociedade em prol de doações de livros infantis, juvenis e de brinquedos, que podem ser usados, porém em bom estado”, frisa.
Para as crianças, é de extrema importância o acesso ao mundo dos livros. “É sabido que a leitura tem a capacidade de influenciar a maneira de agir, pensar e até mesmo falar do ser humano, desenvolvendo diversas formas de linguagens, ampliando o vocabulário. Além disso, proporciona às crianças viver o imaginário. O ideal é tentar estabelecer uma relação dinâmica entre a fantasia, encontrada nos universos dos livros e a realidade encontrada no meio social”, destaca Paula.