Profissionais da saúde relatam manifestações comoventes de internados, acometidos pela Covid-19, na rede hospitalar. Esta edição traz o último capítulo da série
Em cada canto do sistema de saúde de Bento Gonçalves há um profissional que cumpre funções diferentes, mas que possuem algo em comum: a dedicação de serem e fazerem o melhor que puderem pela população neste período de pandemia. A cada sábado do mês de abril, o Jornal Semanário contou histórias de pessoas essenciais na luta contra a Covid-19.
Sendo este o quarto e último capítulo da série Heróis da Pandemia, a edição traz um pouco da rotina e do olhar de técnicos de enfermagem e auxiliar administrativo que atuam no Complexo Hospitalar da cidade.
“Quando pensamos que íamos dar uma respirada, infelizmente veio a segunda onda”. Assim define a técnica Mericiane Todeschini Fontana, 45 anos. Ela conta que há um ano, tudo era feito sob “experimentos”, ou seja, nada se conhecia da tal doença. “Lutamos bravamente e tivemos bons resultados. Temos um amparo instrumental, de insumos e suporte técnico”, destaca.
Conforme a última atualização, Bento possui 1.881 casos que seguem em tratamento devido à doença nas instituições de saúde. Mericiane pontua que os profissionais de saúde muitas vezes precisam fazer o papel de família dos pacientes. “Tem aquele dia em que ele está angustiado e triste. Isso interfere no tratamento e recuperação. Então, fazemos a nossa parte técnica, sim, mas também a de acomodar e tranquilizar. Temos tidos casos bons, que estão de volta para a família, e outros que, infelizmente, não tiveram esse fim. Fomos treinados para preservar a vida, e no momento em que a gente não consegue ter esse resultado, ficamos frustrados. A emoção do paciente ao fazer uma chamada de vídeo é muito gratificante. Ele olha para nós e diz: obrigado. Isso paga todo sacrifício que a gente faz de ficar longe da família”, realça.
A voz de quem também está exausta pede colaboração de todos, mais uma vez. “Sei que o pessoal está cansado, mas precisamos continuar. Não podemos de jeito algum fraquejar nessa hora. São pais, mães, filhos, avós. Temos que lembrar do próximo e pode ser mais próximo do que a gente pensa”, alerta Mericiane.
A colega de profissão Carina Giovanella Dornelles, 42 anos, que atua no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), relata que contraiu a Covid-19 ao prestar um socorro. “Sabemos que é um vírus que está prejudicando muito a população, tanto na área da saúde quanto da financeira. Estamos no terceiro pico. Achávamos que o primeiro seria pior, mas é o contrário”, enfatiza.
Ela acrescenta que os pacientes estão vindo com mais gravidade do que antes. “Chegar na residência e ver a pessoa com falta de ar é triste. Antes era mais “light”, até para nós. Há um excesso de serviço, preocupação e medo, ao mesmo tempo, de compaixão pelos pacientes”, conclui.
“Não teremos falta de oxigênio”
Nereu Borges de Melo, 31 anos, é auxiliar administrativo na UPA e também um dos responsáveis pelos insumos, almoxarifado, respiradores e oxigênio. “Faz um mês que estou com a rotina de trabalho diurna e noturna. No início de março, apertou bastante o negócio, ficamos com receio que fosse faltar, mas deu tudo certo. A gente não vai ter problema com falta de oxigênio”, garante.
Isso porque, na primeira semana de abril, o município passou a contar com um cilindro na Central de Oxigênio. A secretária de Saúde, Tatiane Fiorio, afirmou, em vídeo em uma rede social, que “a base instalada é o que vai suprir todo o Complexo Hospitalar e que fará o fornecimento de oxigênio para os pacientes”.
De forma retraída, mas convicto da importância do papel que cumpre, De Melo afirma que a profissão é nobre. “Vou ter um filho este ano e será muito legal poder contar sobre a função que tive e quando ele ler sobre a pandemia. Não estou apenas ganhando meu salário, mas ajudando muita gente”, sublinha.