Estudos apontam relação do excesso de peso com maior probabilidade para o desenvolvimento da forma mais grave do coronavírus. O cardiologista do Hospital Tacchini, Fernando Cenci Tormen, confirma ligação. Educadores físicos destacam importância de se manter em movimento
Muito antes da existência da pandemia do coronavírus, o sobrepeso e/ou obesidade já era, para os profissionais ligados à saúde, motivo de preocupação. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, ainda em 2019, uma em cada quatro pessoas de 18 anos ou mais, estava obesa, no Brasil.
Contudo, com a chegada da Covid-19, a apreensão se tornou ainda maior. É que, diversos estudos já comprovam que a probabilidade daqueles que sofrem com a obesidade desenvolverem a forma mais grave do coronavírus é considerada alta.
O cardiologista do Hospital Tacchini, Fernando Cenci Tormen, confirma essa ligação, também percebida na Capital Nacional do Vinho. “Sim, em Bento Gonçalves, assim como em outros lugares no mundo, foi observada a relação de sobrepeso e obesidade com uma pior evolução do quadro clinico do paciente. É sabido que esse fator está relacionado evolutivamente com casos mais graves, maior chance para complicações”, garante.
Quem está acima do peso tem mais chances de ter a doença agravada pois, de acordo com Tormen, acabam também tendo maior risco de ter outras comorbidades associadas. “Hipertensão, diabetes, entre outras, que são, até então, muitas vezes, desconhecidas”, alerta.
De acordo com o médico, a obesidade é considerada um dos fatores mais críticos para o agravamento da Covid-19. “Sabemos que muitos pacientes obesos possuem características basais complicadoras, como por exemplo a apneia do sono, doenças cardíacas ou metabólicas graves, etc.”, aponta.
Um paciente com o perfil mencionado acima, quando acometido pelo coronavírus, tem, portanto, maior risco de ter o quadro agravado. “Quando a pessoa é obesa, há uma restrição da expansão pulmonar, então muitas vezes já apresentam sintoma de falta de ar cronicamente, com redução dos níveis de oxigênio do sangue. Prova disso é que muitos pacientes obesos necessitam dormir com equipamentos que ajudam na respiração”, salienta.
Outro ponto é que quem sofre com o excesso de peso, “vive em um estado de inflamação crônica do corpo. Ou seja, mesmo sem sintomas, têm alguns órgãos/tecidos internos passando por processo contínuo de inflamação. Quando esses pacientes são acometidos pelo coronavírus, a inflamação trazida pelo Covid-19 mais a inflamação basal, torna o quadro mais severo do que daqueles sem comorbidades”, explica.
Principais agravamentos
As principais complicações que o Covid-19 tem causado em quem tem excesso de peso são semelhantes aquelas causadas em pacientes com ou sem outros tipos de comorbidades. “Causadas basicamente pela disseminação do vírus e do processo inflamatório. Essa disseminação pode acometer por exemplo, o sistema cardiovascular, o sistema renal, levando, por exemplo, a insuficiência do órgão”, esclarece.
Quando se trata de uma apresentação grave da doença, Tormen destaca que há chances de ter um acometimento muito intenso do pulmão. “Ocasionando a perda de função pulmonar e a dificuldade em manter os níveis de oxigenação do sangue, levando à insuficiência ventilatória, quando os pacientes acabam necessitando da ventilação mecânica”, afirma.
Pratica de atividade física é fundamental
Para atingir o peso considerado ideal, não tem fórmula mágica e, muitas vezes, não é um processo rápido, como muitos desejam. Além de paciência é necessário aliar alimentação saudável e balanceada com a prática constante de exercícios físicos.
O estudante de Educação Física, Enael Dias, que atua no ramo como estagiário em uma academia da cidade, salienta essa importância. “A atividade física exerce papel fundamental no tratamento da obesidade e no combate ao sedentarismo, sendo que, para obter sucesso com qualquer que seja a atividade, é necessário que seja de forma regular e de intensidade moderada, para que não provoque danos à saúde”, alerta.
Mas, para quem não é adepto dessa prática, muitas vezes surge a dúvida: como começar? De acordo com Dias, é necessário ter força de vontade e incentivo. “O difícil é se manter ativo e isso consta com uma série de fatores. Muitos iniciam, mas não dão continuidade por falta de motivação ou por não terem atenção a mais no lugar em que escolheu para realizar este processo”, reforça.
Dias destaca que, independente do momento, a atividade física sempre vai ser importante para a saúde. “Pois gera uma série de fatores que vão ajudar a melhorar não só o aspecto físico, como também o sono, o aumento de imunidade, o controle de colesterol e também a controlar a ansiedade e o combate ao estresse, enfim um conjunto todo”, reforça.
O Educador Físico, Giovani Francisco dos Santos, também aponta algumas vantagens de quem se mantém ativo. “Pensando no momento atual, com pandemia, restrições, pessoas com comorbidades, a atividade física é um ponto chave para qualidade de vida e aumento da imunidade. É, literalmente, cuidar de dentro para fora, não só o aspecto visual, mas também o que vem crescendo a cada dia na nossa área, que é a questão de saúde”, defende.
Outro questionamento de quem decidiu dar o primeiro passo rumo à uma vida mais saudável, é quanto a frequência dos treinamentos. “Começar com duas vezes na semana está bom, mas para ficar ótimo e ganhar estrelinha (brinca), três vezes, dando intervalo de descanso. Por exemplo, fazer nas segundas, quartas e sextas-feiras ou terças, quintas e sábados, para assim garantir o estimulo e o retorno de descanso”, aconselha.
Uma relação de amor
Uma professora, de 44 anos, que preferiu não ter o nome divulgado, não era adepta de atividades físicas. Acima do peso, esse ano, ela decidiu mudar o estilo de vida. Para isso, começou a frequentar uma academia. “Percebi que caminhava dez passos e já ficava ofegante. Pensei em mudar isso. Primeiro, inserindo atividade física como um hábito na minha vida. Fiz exames e tudo certo, então iniciei. Claro, procuro comer melhor também, afinal uma coisa puxa a outra”, conta.
Quando questionada se, com os estudos que apontam que quem tem sobrepeso podem ter o quadro clinico agravado pelo coronavírus, ficou assustada, ela afirma que sim, “porque cada vez mais a gente vê amigos e pessoas próximas com Covid-19 e hoje em dia quase todos estamos acima do peso”, comenta.
De fevereiro, quando começou a treinar, para cá, a professora orgulha-se em afirmar que agora, a relação que mantém com a pratica de exercícios físicos é de muito amor, como ela mesma define. “Hoje a prática do treino faz parte da minha rotina. Está como prioridade, porque eu mereço esse tempo pra mim”, destaca.
Nesses dois meses, ela já percebe as mudanças positivas que os exercícios tem causado na vida dela. “Meu dia fica melhor com o movimento. É um tempo de afeto comigo mesma. É um carinho que meu corpo merece. Me sinto mais motivada, com mais disposição e bem mais feliz”, comemora.
Como dica, ela ressalta a importância de procurar bons educadores físicos para ajudar nesse processo. “Procurar bons profissionais também é fundamental. A academia que frequento é excelente. Equipe qualificada. Todos os protocolos, desde agendamento e sanitização são adotados, o que também me dá segurança para dar andamento ao meu projeto de uma vida com mais saúde”, finaliza.
Boa alimentação também faz diferença
A melhor maneira de prevenir o excesso de peso, de acordo com a nutricionista Franciele Valduga é buscando o equilíbrio. “Adotando hábitos saudáveis, como uma alimentação balanceada, com alimentos naturais, diminuindo os industrializados em geral. Assim como adotar na rotina a prática de atividades físicas e muitas vezes buscar auxílio emocional também”, indica.
A nutricionista afirma que é possível, com exercícios e boa alimentação, chegar ao peso ideal. “E com constância. Mudar a relação e/ou o comportamento de vida, sempre com auxílio de um nutricionista e educador físico”, defende.
Franciele aponta que, na rotina de trabalho, percebeu maior preocupação das pessoas em ter uma alimentação correta. “Cada vez mais estamos todos em busca de saúde e o caminho é a alimentação, o comer saudável, o relacionamento com o ato de comer. Fico muito feliz com essa busca, afinal é o que podemos fazer pelo nosso bem maior, a saúde”, conclui.